As polêmicas charges de Maomé continuam repercutindo na mídia internacional. Autoridades russas decidiram, na sexta-feira (17/2), fechar o jornal Gorodskiye Vesti, da cidade de Volgograd, depois da publicação de uma caricatura com Maomé, Jesus, Moisés e Buda na semana anterior. No desenho, os quatro assistiam a um programa de televisão que mostrava dois grupos brigando com cartazes, cassetetes e lançando pedras e Moisés dizendo ‘Bem, não lhes ensinamos isto’. A charge ilustrava um artigo sobre um acordo assinado entre partidos políticos religiosos e organizações para combater o nacionalismo, a xenofobia e os conflitos religiosos.
O desenho gerou críticas e levou à abertura de uma investigação criminal federal. A maior parte da crítica contra o desenho publicado no Gorodskiye Vesti não partiu de líderes muçulmanos, mas de uma filial local do partido político pró-governo Rússia Unida. O público, no entanto, não se manifestou contra a imagem – o que pode ter acontecido, em parte, porque as figuras religiosas foram representadas respeitosamente, embora o Islã proíba qualquer representação de Maomé.
O vice-prefeito de Volgograd, Andrei O. Doronin, anunciou o fechamento da publicação ‘para não incentivar hostilidades étnicas’. Tatyana A. Kaminskaya, editora do jornal, afirmou que não recebeu nenhum telefonema de leitores reclamando do desenho nos oito dias seguintes à publicação. Ela ainda informou que não considerou a fúria sobre os cartuns publicados pelo jornal dinamarquês quando decidiu publicar a nova charge. ‘Tínhamos um objetivo totalmente diferente: mostrar a força unificadora de todas as religiões’, alegou.
Jornalistas russos classificaram a decisão como censura. ‘A Rússia é o único país que reagiu ao escândalo das charges desta maneira’, disse Igor Yakovenko, do Sindicato de Jornalistas Russos. Estima-se que a população muçulmana que vive na Rússia seja de 20 milhões de pessoas.
Líderes políticos e religiosos do país apoiaram os protestos contra as charges polêmicas de Maomé. Uma ação criminal foi aberta contra o editor de um jornal de Vologda, ao norte de Moscou, que republicou os desenhos do jornal dinamarquês.
Sauditas publicam desculpas de dinamarquês
Os três principais jornais da Arábia Saudita – al-Jazira, al-Riyadh e al-Youm – e o jornal al-Awsat, distribuído em países árabes, publicaram, no domingo (19/2), um pedido de desculpas aos muçulmanos atribuído ao jornal dinamarquês Jyllands-Posten, primeiro a publicar os polêmicos desenhos de Maomé. O diário afirmou que, embora o texto fosse idêntico às desculpas em árabe publicadas em seu sítio no dia 30/1, não estava envolvido com os anúncios e que a iniciativa teria partido de empresas – sem identificá-las ou informar se eram da Dinamarca.
O boicote comercial a produtos dinamarqueses no Oriente Médio afetou profundamente exportadores do país. O rei saudita Abdullah Abdel Aziz tentou acalmar os protestos, condenando o que classificou de ‘choque de civilizações’ e pedindo aos muçulmanos para abraçarem a idéia de uma coexistência pacífica.
Polícia bloqueia protestos no Paquistão
No Paquistão, forças de segurança prenderam centenas de líderes radicais islâmicos. Forças paramilitares e policiais foram deslocadas para Islamabad no domingo (19/2) para conter um protesto organizado por partidos radicais islâmicos, com o objetivo de evitar a repetição das manifestações que deixaram cinco mortos na semana passada. O ministro do Interior, Aftab Khan Sherpao, afirmou que a polícia prendeu de 100 a 150 pessoas na cidade desde sábado (18/2). No mínimo, 45 pessoas já morreram em diferentes países nos protestos contra os cartuns do profeta. Com informações de Steven Lee Myers [The New York Times, 18/2/06] e Abdullah al-Shihri [Associated Press, 19/2/06].