Marcas como Louis Vuitton, Chanel, Rolex, Gucci, Cartier, Fendi despontam na restrita fieira dourada do consumo de luxo, onde se encontram roupas, perfumes, carros, jóias. Nos serviços, o alto luxo passa pela hotelaria, gastronomia etc., até a extravagância de, em cidades globais como Nova York e Tóquio, ser possível despedir-se desse mundo em grande estilo: velório regado a champagne Moet Chandon, caviar, música ao vivo e lágrimas de luxo diante da morte comum.
Nesse mundo de excessos, em que quase tudo é commodity, os muito ricos e uma parcela da chamada alta classe média, no Brasil as classes AA e A, estão transformando o saber em mercadoria de luxo, para ser degustada, experimentada aos pedacinhos. É grande a procura de celebridades e gente bem de vida, interessadas em Montaigne e Sêneca, por cursos livres, ministrados por filósofos ligados às principais universidades do país.
Ainda dá tempo?
Desde os primeiros segundos do Big Bang da primeira Revolução Industrial, nos meados do século 18, o tempo, precioso, vem sendo acelerado. Embora, recentemente, uma nova corrente tente freá-lo, ao defender novos hábitos na mesa, na cama, no morar.
Santo Agostinho, em Confissões, fala da sua incapacidade de expressar o que era o tempo, apesar de saber o que era o tempo. Henri Bergson, em Tempo e Livre Arbítrio: Um ensaio sobre os dados imediatos da consciência, de 1910, arrisca discorrer sobre o tempo subjetivo, entranhado em nossa cabeça. A arte mostra o tempo instantâneo da experiência. Vejam o exemplo da Land Art, fora da galeria de arte ou do museu, de Walter De Maria, escultor norte-americano. Uma de suas obras – The Lightning Field, (1977), situada em um deserto do Novo México, nos Estados Unidos, é uma tela-paisagem desenhada por raios, que é um tempo, experiência e percepção únicas para o observador e para o artista. Foge da reprodutibilidade e conserva uma aura efêmera.
Os publicitários sabem espertamente que o tempo, independente das inúmeras conceituações pelas religiões, ciências humanas e pela física, permanece, também, como uma experiência extremamente pessoal. A mídia, impregnada de publicidade, vende condomínios incrustados na cidade como ilhas de silêncio e de tempo preservado, longe da fumaça e das multidões; carros com interiores isolantes do tráfego intenso com música tranquilizadora; a indústria do turismo apresenta resorts em praias selvagens, cada vez mais longe; os bancos personalizam serviços e mostram suas agências como únicas, sem replicação. Políticos constroem carreiras difundindo a utopia de um tempo bom, que agasalha pessoas doces e energia limpa, inesgotável.
Países cansados
A busca por um ambiente habitado por Robinson Crusoé e seu companheiro Sexta-Feira, no campo das relações públicas e da comunicação organizacional, passa por mensagens ligadas à sustentabilidade ambiental, econômica e social, uma retórica que fica esquizofrênica quando colocada diante de desastres ambientais como o recentemente gerado pela British Petroleum (BP), ou pela implantação de reestruturações produtivas.
Os sociólogos de prateleira, originados na militância, propõem movimentos como o slow-food, o slow-sexo, o slow-desenvolvimento, como se a velocidade fosse, em si, um mal. Entre os querem a desaceleração estão os pop-stars da sociologia Domenico de Masi (Ócio criativo), Carl Honoré (Devagar: como um movimento internacional está desafiando o culto da velocidade), Maurizio Pallante (Movimento per la decrescita Felice). Todos, coincidentemente, oriundos de países de um tempo milenar, cansados de civilização, como a Itália e a França.
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Jornalista, professor da ECA-USP e diretor-geral da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)