Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Saco plástico de mandioca vs. farra dos entendidos

Venho pesquisando publicações de jornalistas diplomados para demonstrar o equívoco da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas, que defende a obrigatoriedade do diploma como condição para garantia mínima da ética e qualidade na informação para a sociedade. Portanto, não se trata de qualquer problema pessoal com as pessoas citadas, como Luiz Carlos Azenha, Silvio Caccia Bava, Vinícius Mansur ou o próprio André Trigueiro, os quais estão dentre os melhores da categoria, mas são exemplos notáveis para demonstrar minha visão sobre este assunto.

Estou apresentando alguns comentários (ver na íntegra, ao final) sobre minha crítica ao artigo ‘A farra dos sacos plásticos’, no qual ‘peguei pesado’, como tem sido meu estilo, correndo o risco consciente deste propósito, ao invés do comodismo de evitá-lo e omitir-me diante dos fatos. Afinal, a quase totalidade dos que escrevem prefere esta última opção, o politicamente correto, o fazer média ou até mesmo a pelegagem, cooptação e cumplicidade com o sistema.

Sem dúvida, esta é a opção mais segura, já que os omissos geralmente são menos criticados, havendo uma opção preferencial por condenar quem quer mudar as coisas, por quem age e reage mais incisivamente sobre a realidade dos fatos. Ser conservador é mais conveniente para uma sobrevivência tranqüila…

Inclusão de data

Agradeço e louvo a iniciativa de Vilmar Berna, cujo trabalho pelo meio-ambiente tem destaque nacional e internacional, premiado pela ONU (Prêmio Global 500), parte do qual pode ser acessado aqui. Mas seria uma desonestidade intelectual de minha parte deixar de registrar minha visão do que é a ONU: uma entidade manipulada pelo maior país terrorista e imperialista da face da Terra, os EUA, onde as nações mais ricas decidem sobre o que julgam ser mais importante, deixando as migalhas para os mais pobres, situação predominante em quase todo o mundo ‘civilizado’.

Vilmar foi taxativo em apresentar sua visão sobre o excelente trabalho realizado por André Trigueiro, de suas qualidades e do fato de trabalhar na Globo: ‘É um dos pouquíssimos programas da TV Globo que ainda consigo assistir do princípio ao fim sem me socorrer do controle remoto como arma de defesa intelectual.’

É digna de elogios também a forma serena com que Trigueiro recebeu o ardor de minha crítica e a objetividade com que descreveu os fatos, repudiado com razão, e também com a mais fina cortesia, pelo Vilmar.

O artigo que eu critiquei foi escrito em 2003, fato este que eu desconhecia, cujo incidente ajudou-me a adotar por medida pesquisar este dado, antes de ler ou criticar qualquer trabalho que não venha com ele incluso. Também passarei a incluir data naqueles de minha própria lavra, para evitar transtorno semelhante.

Crítica permanece

Para termos uma idéia de como a coisa funciona, pesquisei ‘Farra dos Sacos Plásticos’ no Google e encontrei:

(a) Em EcoNews, a data correta está incluída no início do texto (ver aqui).

(b) Em Consciência.Net a data existente deve ser a da publicação, facilitando ao leitor acreditar que seja a de redação do artigo (ver aqui).

(c) O texto disponível no sítio Ética nos Negócios consta a data correta, no final (ver aqui).

(d) No sítio Ambiente Brasil não consta data alguma (ver aqui).

(e) No blog Sacolas de Plástico, a data correta não é mencionada, mas apenas a de publicação.

Estes foram apenas os primeiros citados na lista de pesquisa do Google sobre o assunto, juntos com 1.450 outros.

A data pode ser sonegada consciente ou inconscientemente. Quando se pretende que o leitor não perceba a desatualização da obra, na medida em que o tempo passar, pode ser adotada esta ‘técnica’. O que não é o caso de Trigueiro, já que, no próprio sítio dele sobre seu programa na Globo, onde está disponível a matéria, há uma relação de títulos dos artigos disponíveis onde ela é mencionada. Mas não há data no texto propriamente dito, que está em outra página. Ou seja, há uma boa possibilidade de quem pesquisar este assunto, copiar o texto e o distribuir na internet sem que nele venha a data.

Outra coisa que alguém interessado em se aprofundar mais neste assunto, poderia investigar melhor do que eu: em 2003 já havia pesquisa ou se já estavam nos mercados da Europa as sacolas biodegradáveis do petróleo que Trigueiro não cita em seu artigo? Caso negativo, não merecerá nenhuma crítica. Mas, como pude encontrar facilmente dados contrários a isto, ela permanece até prova em contrário.

Oxibiodegradável e bioplástico

Em função de sua elevada qualificação, pelo fato de que tais pesquisas existiam e a notícia a respeito estava ao alcance do público, seria razoável de se esperar que ele deveria ter conhecimento delas.

Vilmar afirma categoricamente que em 2003 não havia esta tecnologia ou estava em fase de pesquisa, isentando o autor de qualquer responsabilidade por possivelmente desconhecer o fato:

‘Então, o André não pode ser criticado por não ter citado uma tecnologia que nem existia ainda ou que, se existia, ainda era embrionária e em fase de pesquisa.’

Na tréplica de Trigueiro, ele preferiu não mencionar este assunto ou se esqueceu de fazê-lo.

Numa rápida investida na Wikipedia, nada encontrei em português sobre o bioplástico. Fui no espanhol e, finalmente, em inglês, descobri o seguinte (ver aqui):

‘Developments: 1 – In the early 1950s, Amylomaize (>50% starch content corn) was successfully bred and commercial bioplastics applications started to be explored.’

Em português: ‘No início dos anos 1950, Amylomaize (contendo mais de 50% de fécula do milho) foi criado com sucesso e as aplicações dos bioplásticos comerciais começaram a ser exploradas.’

Isto faz sentido, já que o processo de pesquisa desta natureza costuma levar muitos anos e eu citei em meu artigo:

‘O autor do projeto vetado retruca que o plástico oxibiodegradável já é utilizado em mais de 40 países, entre eles Inglaterra, França e Portugal’ (Washington Novaes)

Oxibiodegradável não é o mesmo que bioplástico. O primeiro, reduz a durabilidade do plástico comum, derivado do petróleo, e o segundo é um derivado do milho, da mandioca etc.

Evitando a crítica

Nas referências da Wikipedia, para ‘Biodegradable Plastic’, encontramos as seguintes publicações anteriores a 2003:

** Gerngross, T. U. Nature Biotechnology 1999, 17, 541-544.

** Gerngross, T. U.; Slater, S. C. Scientific American 2000, 283, 37-41 (ver aqui).

Se a coisa já estava avançada assim, como afirma o Novais, seja para um ou outro produto, a pesquisa não pode ter se iniciado após 2003. Mas vale a pena ir mais a fundo nesta história para não sermos injustos com André Trigueiro. Ainda que a afirmação sobre pesquisas desde 1950 é um dado valioso, mas é importante saber se ela era secreta, já que é comum as empresas não divulgarem resultados até que tudo esteja sob controle e outro não tome posse da idéia etc. Seja como for, houve publicações sobre o assunto em 1999 e 2000.

Vejamos parte da mensagem de André Trigueiro:

‘(…) Por fim, o citado artigo `A farra dos sacos plásticos´ também aparece publicado no meu segundo livro, Mundo Sustentável, no qual tive a honra de ter como prefaciador o amigo e mestre Washington Novaes. Curiosamente, Washington garimpa no prefácio algumas idéias que lhe chamaram a atenção no livro e diz o seguinte:

`Mas o autor tem uma preocupação que torna o livro ainda mais atraente: a de mostrar, com seus textos e entrevistas, projetos que deram certo, caminhos que devem ser replicados, experiências capazes de abrir novas possibilidades. E isso em muitas áreas. Na do consumo sustentável, por exemplo, vai de uma sacola `ecológica´, capaz de dispensar o uso de sacos plásticos nas compras do dia-a-dia, a um cadastro para impedir ligações de operadoras de telemarketing´ (…).’

Quando Trigueiro cita o Novaes acima comentando seu livro, podemos considerar o seguinte: não sei porque o Novaes não comentou algo sobre as sacolas de plástico biodegradável do petróleo ou de bioplástico. Talvez tenha preferido ser simpático e cordial, evitando a crítica ao autor, que o tem por amigo, citando apenas o que percebia de positivo.

Transparente e opaco

Sacola é o mesmo que saco? Parece-me que os termos se confundem… Tanto que, ao pesquisarmos na internet ‘Farra das sacolas de plásticos’, encontraremos três páginas, onde o título original ‘sacos’ foi substituído por ‘sacolas’. Talvez o diferencial entre eles seja o tamanho: sacola grande ou pequena. Saco grande ou pequeno. Possivelmente ele se refere a uma sacola de lona (ou algo análogo) em que cabem alguns sacos plásticos pequenos cheios.

Não creio que esta alternativa vá, na prática, ‘dispensar o uso de sacos plásticos’. Certamente os sacos plásticos biodegradáveis pequenos terão uma aceitação extremamente maior que as sacolas de lona (etc.), que são maiores, já que esta implica em uma mudança de hábitos, voltando a uma era em que não existiam os sacos pequenos poluentes, estes de absoluta aceitação popular, atualmente. É razoável que o hábito permaneça, especialmente após a substituição do material com que se fabrica a sacola, tornando-a biodegradável, seja por um derivado do petróleo aditivado ou, ainda melhor, o bioplástico da mandioca ou do milho.

A função da sacola grande é intermediária à do carrinho (tanto o de supermercado, quanto o doméstico) e ao saco pequeno, graças ao seu volume.

Uma sacola grande que leva o nome do GreenPeace pode ser vista aqui.

Faço minhas compras em supermercados que utilizam dois sacos pequenos de plástico:

(a) Transparente e sem alça, sem a marca do estabelecimento, onde se coloca o legume, o pão, a verdura, laranja etc. É mais difícil de ser carregado que o (b) e, portanto, mais difícil de ser roubado.

(b) Opaco, de cor branca, com alça, puncionada no próprio saco e com a marca do estabelecimento. No caixa, o primeiro é colocado dentro de segundo.

Última pergunta

Parece-me que este duplo gasto tem a função de diferenciar o que está antes do caixa (não foi pago) e após (foi pago). Venho sugerindo aos caixas apresentar aos gerentes a proposta para que se coloque a compra direto no com alça, para reduzir o consumo pela metade. Pela cara deles, isto parece muito improvável de acontecer. Ao que parece, a economia na redução de furtos ainda é maior que a economia no gasto com sacos pequenos de plástico poluente por enquanto, tanto para a economia quanto para o poluente.

Será que meu ilustre leitor já percebeu que falta um aspecto ainda para ser abordado sobre este assunto? Não podemos nos perguntar quando foi que o Trigueiro tocou, pela primeira vez, no assunto do bioplástico para sacos de supermercado?

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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (CMQV)