Tenho assistido na imprensa, meio incrédulo, às notícias sobre o acordo nuclear proposto pelo Brasil e a Turquia e aceito pelo Irã. É incrível como algo que era difícil e necessário, tornou-se fácil e insuficiente de uma hora para a outra. Agora, descobre-se que o presidente dos EUA, Barack Obama, havia encaminhado correspondência ao seu colega brasileiro em que afirmava que se Lula conseguisse fechar um acordo no qual o Irã se comprometesse a enviar 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para fora do país, geraria confiança e diminuiria as tensões regionais, conforme a Reuters. Bem, o acordo foi fechado e os principais elementos solicitados pelo Barack foram atendidos. Mas, parece que a paz não é tão lucrativa assim…
Depois de fechado o acordo, Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, numa atitude ‘à la Colin Powell’, disse que o Irã está ‘tentando desviar pressão com o acordo’. Nenhuma novidade. Na época da Guerra do Golfo, era necessária a inspeção da ONU no Iraque para garantir que não existiam bombas de destruição em massa, lembram? Resultado, Saddam Hussein cedeu, houve inspeção e depois, com o caminho livre, sem as ameaçadoras bombas iraquianas e, principalmente, sem o apoio da ONU, aconteceu a destruição em massa de um Estado já devastado. Ah! Mas tudo foi feito em nome da democracia, dirão os americanos.
O show da vida
O caso agora é semelhante, porém com mais um agravante. A imprensa brasileira parece estar sendo financiada por empresas bélicas americanas. Se não for isso, com certeza é perseguição política em época de eleição, onde a candidata do presidente está em plena ascensão. Mas pensemos sobre as duas hipóteses. O que está acontecendo é uma tórrida corrida para descredenciar um acordo nuclear internacional, gerar sanções a um país devastado pela teocracia, além de criar um clima propício para uma iminente guerra contra outra nação do Oriente Médio. As empresas bélicas americanas teriam, então, todo o interesse do mundo em gerar essas ‘matérias pagas’ mundo a fora. Mas, sinceramente, creio na segunda hipótese.
A mídia está a favor dos americanos, de forma escancarada, apenas para descredenciar a vitória política do presidente. Mesmo que as sanções, ou o risco de uma guerra ao Irã sejam declarados, ainda assim seria melhor que assumir uma vitória da diplomacia internacional do governo brasileiro. Lula é um ícone a ser combatido, não importam as conseqüências. Se, para prejudicar a popularidade dele, cada vez mais transmissiva à sua candidata, for necessário apoiar a invasão iraniana, eles o farão. Vale a pena até entrevistar um físico renomado, fazer perguntas sobre as intenções pacíficas do Irã e ficar rindo enquanto o entrevistado responde, como fez o repórter André Trigueiro, da Globo News, com o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia. Afinal, a resposta é banal, importante são sempre as ‘nossas’ perguntas. É o show da vida, como diria Marilena Chauí.
‘In God we trust’
Mas existe uma terceira opção, também. Uma ‘guerrinha’ sempre agita o noticiário e os negócios. Correspondentes internacionais de capacetes, bombas iluminadas rasgando os céus do Oriente à noite (como um vídeo game, sem causas para nós), matérias sobre famílias separadas, hospitais sendo atingidos por enganos por ‘mísseis inteligentes’, crianças amputadas pelas ruas, repórteres ‘heróis’ de coletes no meio da batalha, entrevistas com sobreviventes de ataques, coletivas com generais americanos e depois, documentários e filmes sobre a guerra. É um mercado promissor, realmente, não tinha pensado nisso. É que algumas vezes, esqueço meu lado de analista de mercado e penso como um ser humano. Será que ensinam isso aos ‘grandes astros da imprensa nacional’?
Bem, vamos rezar para Alá não deixar nascer uma nova guerra no Oriente Médio. Afinal, como diria a cédula de um dólar ‘in God we trust’. E nela, com certeza, a nossa imprensa também acredita…
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Analista de mercado, Salvador, BA