Em Vida Literária no Brasil 1900, Brito Broca conta o surgimento da coluna social na imprensa brasileira em 1907. É quando aparece o ‘Binóculo’, assinado por Figueiredo de Pimentel. O fato acompanha um processo generalizado de tornar menos pesados os textos dos jornais, incentivado por um novo recurso de impressão de páginas coloridas então surgido. Tais recursos tipográficos permitiriam a edição de um suplemento literário em cores aos domingos, na Gazeta de Notícias. O mesmo caderno traz ‘uma croniqueta leve, fútil ou lírica, como introdução risonha às notícias de aniversários, noivados , casamentos’.
Não estou aqui para diminuir a importância da coluna social, nem para afetar ares de intelectual infenso à atração destes espaços aligeirados dos periódicos. Neste item, sigo Tristão de Athayde, que dizia ler com raiva, mas diariamente, a coluna de Zózimo Barrozo do Amaral, no Jornal do Brasil. Nos anos mais cáusticos do conflito ideológico no país, na década de 1970, do alto de sua posição de católico de esquerda Tristão declarava a necessidade de se criar uma coluna social para a favela.
‘Um tapete de detritos’
Mas quando a reportagem dos fait divers entra pela propaganda política, há que se levantar a bandeira amarela. Na quinta-feira (22/2), Cesar Giobbi, no topo de sua página no Estado de S.Paulo, dá uma nota de 28 linhas, ‘Ecos de Salvador’, sobre o carnaval baiano. Segundo a coluna ‘Persona’, ‘a festa serviu para marcar as diferenças entre o período carlista e os novos governantes da Bahia’.
A nota continua:
‘E, seguramente, muito mais sujeira que em anos anteriores. Até o Bloco da Limpeza, formado por garis da Prefeitura, que sai entre um bloco e outro e limpa com pente fino a passagem dos blocos, não funcionou este ano, resultando que os foliões brincavam sobre um tapete de detritos.’
O ‘latifundiário do ar’
Faltou informar ao leitor os recordes absolutos de chuva na capital baiana em 2007 durante o carnaval. Coisa de 130 mm num só dia, a chuva de um mês! A topografia particularmente íngreme da cidade faz com que as avenidas de vale se tornem escoadouros. Segundo o Correio da Bahia (16/2), jornal de propriedade do senador ACM, ‘o Rio São Francisco chegou a atingir 4,5 metros acima do nível normal durante a enchente’. O total esperado para o mês é de 349 milímetros, conforme média registrada nos últimos 30 anos.
Da mesma forma que não se deve avaliar, por exemplo, o prefeito paulistano Gilberto Kassab pelo lixo acumulado nas margens dos rios Pinheiros ou Tietê num dia de transbordamento, é simplório e ferino não ponderar os excessos da meteorologia na comparação das administrações baianas.
‘Persona’ não está sozinha nisto de confundir clima e política. Logo antes do carnaval, enquanto as chuvas excepcionais andaram pelo Sul, o Jornal Nacional, ao tratar das pistas molhadas de Congonhas – que um juiz havia mandado bloquear sempre que o excesso d’água superasse 3 mm – insinuava um iminente colapso no tráfego aéreo nacional. Nem a Cassandra desmentida pela normalidade da situação dos aeroportos durante o Natal e réveillon inibiu a impertinência do império deixado por Roberto Marinho, esse latifundiário do ar, ainda para parafrasear Alceu Amoroso Lima.
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Dirigente de ONG, Bahia