Em comunicado, a Embraer informou que a sua carteira de pedidos firmes (backlog) fechou o terceiro trimestre em US$ 18,6 bilhões, 6% menor do que os US$ 19,8 bilhões do segundo trimestre (Valeparaibano, 8/10/09). ‘Exportar se tornou um mau negócio no Brasil. A rentabilidade das exportações está no menor patamar de sua história. O real valorizado derrubou o indicador da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) para o nível mais baixo desde 1985, quando a série começou a ser calculada’ (Raquel Landim, O Estado de S. Paulo, Economia, 12/10/09).
A leitura destas informações jornalísticas indica que, se foi atenuada em outros setores industriais, a crise financeira mundial ainda não acabou para a indústria aeronáutica. E também confirma que o governo brasileiro ainda não conseguiu implementar uma política cambial adequada para a exportação da produção nacional de alto valor agregado, como é o caso dos aviões.
O Valeparaibano lembra que a Embraer enfrenta dificuldades desde o final do ano passado por causa da crise econômica mundial, iniciada em setembro de 2008, que reduziu o crédito internacional e levou clientes a cancelarem e adiarem entregas de aeronaves. Em fevereiro deste ano, a empresa demitiu 4.270 funcionários por causa da crise, reduziu drasticamente as encomendas de aeropeças e cortou custos internos. Na semana passada, a indústria conseguiu captar US$ 500 milhões no exterior para pagar dívidas de curto prazo.
Um ‘colchão amortecedor’
Apesar do BNDES ter fortalecido o seu programa de financiamento de aeronaves da Embraer – inclusive abrindo linhas de crédito para empresas brasileiras de transporte aéreo de passageiros e cargas e o anúncio de que a subsidiária ECC Leasing Company Limited vendeu três jatos usados, dois ERJ-135 e um ERJ-145, para a companhia SEAA (Serviços Executivos Aéreos de Angola) –, a empresa efetivou poucas vendas este ano e vem usando a sua carteira de pedidos firmes para enfrentar a crise. E não se tem notícia de que algum dos 4.270 funcionários demitidos em fevereiro último tenha sido readmitido pela Embraer.
Portanto, o nível de emprego na Embraer continua ameaçado pela crise econômica mundial, exigindo de todos os envolvidos pelo problema a busca de soluções que precisam ir além das medidas que até aqui já foram adotadas. Neste sentido, retomo a proposta que procurei desenvolver no artigo ‘Embraer: crise e solução’ (ADC News, 7-22/5/09). Como manter o nível de emprego na indústria aeronáutica brasileira diante das incertezas do mercado? Perguntei no artigo mencionado para responder em seguida:
‘Parece-me que uma proposta que vale a pena ser pensada e discutida é a constituição de uma empresa subsidiária – com recursos públicos e privados da própria Embraer e do governo – que possa servir de `colchão amortecedor´ quando inevitável uma redução na cadência de produção. Por que não recriar o desconto de até 1% do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (e por que não também de Pessoa Física?) para as aplicações na aquisição de ações desta subsidiária, como fez o ex-ministro Delfim Neto para capitalizar a própria Embraer em 1969?
Esta subsidiária garantiria o planejamento anual de produção adquirindo as aeronaves que fossem deixar de ser comercializadas dentro da programação. Poder-se-ia até deixar de fora desta aquisição, por exemplo, as turbinas ou outros componentes importados, uma vez que a subsidiária focaria a manutenção do nível de emprego na empresa aeronáutica brasileira.’
Prioridade de Estado
Apesar do mercado não garantir por si só a estabilidade econômico-financeira de uma indústria aeronáutica, é certo que, no caso da atual crise financeira, em dois ou três anos poderá voltar a apresentar desempenho satisfatório. O mercado voltando a crescer e absorver a produção da Embraer, aí a subsidiária colocaria à venda preferencial as suas aeronaves, com a indústria complementando-as com os equipamentos que deixaram de ser importados.
Antes que tenhamos que lamentar novas demissões na Embraer e em suas empresas fornecedoras, é preciso buscar o consenso em torno de propostas viáveis que objetivem manter o nível de emprego na indústria aeronáutica brasileira. E aí, além da proposta de curto prazo desta subsidiária, é preciso estabelecer a indústria aeroespacial e de defesa como prioridade de Estado, e não apenas episodicamente de governos.
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Jornalista, São José dos Campos, SP