A imprensa brasileira completou 200 anos no último domingo (01/06). Há dois séculos, em 1808, com o jornal Correio Braziliense, teve início a imprensa do Brasil. Existe motivo para comemorar? Será que a imprensa tem vergonha de lembrar do próprio aniversário?
Na década de 1920, ela se envolveu num fato curioso. Segundo a história, na primeira revolta tenentista que ocorreu depois da eleição de 1922, da qual saiu vencedor, como sempre, o candidato da situação, Artur da Silva Bernardes.
Durante a campanha, o jornal carioca Correio da Manhã recebeu algumas cartas ofensivas ao exército e ao marechal Hermes. Traziam a assinatura de Bernardes. O Clube Militar decidiu impedir sua posse. Os tenentes planejaram derrubar Epitácio Pessoa. No dia 5 de junho de 1922, eles tomariam os quartéis e exigiriam a renúncia.
No dia marcado, só a Escola Militar e o Forte de Copacabana se levantaram. Mas dezoito tenentes do Forte decidiram enfrentar o governo oligárquico e saíram caminhando pela praia. Foram atacados. Apenas dois sobreviveram: Eduardo Gomes e Siqueira Campos (ler As revoltas dos tenentes década de 1920).
Só faturar
Qual a ligação que isso tem com a imprensa? Só mais tarde seria descoberto que as tais cartas ofensivas de Bernardes não passavam de falsificação. Ou seja, o jornal responsável pela publicação não verificou a veracidade da informação.
Não é de hoje que a ética e a falta de compromisso estão distantes da grande imprensa. Justamente no ano de 200 anos da imprensa, ela mostra sua fragilidade e seu verdadeiro interesse, que é apenas lucrar (audiência).
Espetacularizam fatos (caso Isabella, Daniela Perez/1992 – quando o Jornal Nacional passou a ser novela). As notícias sobre o caso do assassinato de Perez disputavam as atenções dadas ao evento referente à renúncia do então presidente Fernando Collor de Mello, anunciada em 28 de dezembro de 1992. No momento em que o Jornal Nacional mostrou a reportagem sobre a morte da atriz, o ibope atingiu 66 pontos quando a média, à época, era de 55 pontos.
Mas você pode perguntar: Só dez pontos? Vamos lá, um ponto de audiência equivale a 54 mil domicílios, ou 176 mil pessoas, ou seja, a Globo teve 544 mil domicílios ou um milhão e setecentos e setenta e seis telespectadores a mais (é muito dinheiro).
A imprensa está preocupa em faturar e só isso. Falam em credibilidade, a balela da imparcialidade, respeito e tantas outras mentiras, porém não vejo nada disso. Não existe motivo para comemorar quando se trata da imprensa brasileira.
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Colunista do jornal Manchete News e editor do Grita São Paulo, São Paulo, SP