Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Senado investiga excesso de poder do executivo

Em um novo golpe ao uso exagerado de poder pelo governo Bush, o Comitê Judiciário do Senado abriu um inquérito para que sejam explicadas as investigações sobre jornalistas que publicam informações confidenciais nos EUA. A Comissão questiona o programa secreto de grampos telefônicos endossado pelo presidente George W. Bush, e defende que a explicação de ‘manter a segurança nacional’ não justifica tal uso do poder executivo.


No momento, senadores republicanos e democratas querem saber mais detalhes sobre o esforço do FBI para conseguir de volta documentos antigos guardados pelo colunista Jack Anderson, morto em dezembro de 2005, aos 83 anos. Anderson fazia parte da ‘lista de inimigos’ do presidente Richard Nixon.


O rumor de que o governo estaria considerando a possibilidade de processar jornalistas que publicam informações confidenciais e se recusam a revelar suas fontes fez com que o presidente da Comissão, o republicano Arlen Specter, quisesse descobrir a real história por trás da busca pelos documentos de Anderson.


Buscas


Em audiência na terça-feira (6/6), o chefe da divisão criminal do Departamento de Justiça americano, Matthew Friedrich, enfrentou espectadores céticos. Além de Friedrich, testemunharam também o filho do colunista, Kevin, e o ex-jornalista investigativo Mark Feldstein, que prepara uma biografia de Anderson.


Segundo Feldstein, dois agentes do FBI apareceram em sua casa, no início de março, procurando por cerca de 200 caixas com os papéis de Anderson que a família havia emprestado a ele por causa do livro. Segundo o ex-repórter, os agentes citaram preocupações com a segurança nacional.


Membros do Comitê Judiciário não acreditam na explicação dos agentes. ‘Não consigo ver que interesse na segurança nacional poderia levar o FBI a tentar obter os arquivos de Anderson muitos anos depois de seus artigos terem sido publicados’, afirmou o senador democrata Patrick Leahy.


Segundo o Bureau, se os documentos contêm informações confidenciais, então pertencem ao governo. Anderson publicou, ao longo de sua carreira, matérias sobre um plano da CIA para assassinar Fidel Castro e detalhes do caso Irã-Contra, entre outros temas no mínimo polêmicos.


Doação


O filho de Anderson contou que o FBI procurou sua mãe logo após o funeral do pai. Os agentes mostraram interesse pelos documentos, afirmando que eles ajudariam o governo no caso contra dois ex-lobistas do Comitê Israelense-Americano de Assuntos Públicos acusados de vazar informações confidenciais. Eles também afirmaram à família do jornalista que precisariam retirar dos arquivos – que ainda não foram catalogados – qualquer papel marcado com carimbo de ‘secreto’ ou ‘confidencial’. O filho e a mulher de Anderson se recusaram a entregar as caixas.


A família doou todos os arquivos do jornalista para a Universidade George Washington, mas ainda não concretizou formalmente a entrega. Segundo o agente especial do FBI Richard Kolko, o Bureau quer vasculhar os documentos de Anderson antes que eles sejam disponibilizados ao acesso público. Alguns dos papéis, acredita-se, contêm informações sobre fontes e métodos usados pelas agências de inteligência americanas. Informações de Laurie Kellman [Associated Press, 6/6/06].