Há uma semana, um senador da República confiscou o gravador de um repórter da Rádio Bandeirantes. Tomou o equipamento, ameaçou bater no jornalista e só devolveu o gravador com a entrevista apagada. Tudo porque o senador se irritou com uma pergunta.
Na segunda-feira, 25 de abril, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) arrancou da mão do repórter Victor Boyadjian o seu gravador. O jornalista havia perguntado se o senador dispensaria a pensão vitalícia que recebe por ser ex-governador. Requião se irritou, perdeu a compostura e protagonizou mais um caso de ataque a jornalistas. No dia seguinte, o senador usou a tribuna do parlamento para se justificar, dizendo que o repórter “queria extorquir respostas”. O Sindicato dos Jornalistas de Brasília exigiu providências no Senado, mas nada deve acontecer ao político que já tem histórico de destemperos. Requião grita, esbraveja, bate na mesa, chama para briga, provoca adversários e coleciona desafetos não apenas na política paranaense.
Esta não foi a primeira vez que um jornalista foi ameaçado nem impedido de trabalhar. Nem será a última. Repórteres se arriscam todos os dias para fazer seu trabalho. São perseguidos, agredidos, sequestrados, violentados, torturados e mortos. Recentemente, o ativista italiano Vittorio Arrigoni e do fotógrafo e documentarista Tim Hetherington engrossaram a lista das vítimas fatais internacionais. Mas os jornalistas não sofrem apenas em insalubres zonas de guerra, mas também em reluzentes palácios. O caso do repórter agredido por Requião deve figurar nas estatísticas sobre violações à liberdade de imprensa, mas pouco ou quase nada vai mudar. Políticos brutamontes vão continuar a intimidar o trabalho de jornalistas; empresários corruptos vão manter a perseguição a veículos de comunicação; celebridades esbofetearão fotojornalistas… Se serve de consolo, jornalistas também vão continuar a fazer perguntas indigestas, a questionar suas fontes, a constranger quem está acostumado a ser só bajulado.
Perguntas incômodas
A atividade jornalística é mesmo marcada por tensão e adrenalina. Diferente de outros profissionais da área da comunicação, repórteres não devem conduzir suas ações para promover ninguém, para afagar egos nem acomodar conflitos. O jornalista incomoda, é impertinente, inconveniente. Nem sempre provoca sorrisos, mas quase sempre ranger de dentes.
O senador Requião sabe disso. Volta e meia se estranha com a mídia, queixa-se de perseguição, tenta impor sua voz tonitruante. Constrói sua razão apoiado no grito, no embate. Jornalistas também não se vergam. Trabalham sobre terreno minado, disputam espaço onde não há nenhum para conseguir uma resposta. O curioso é que o senador Requião, antes de entrar para a vida pública, também se formou em jornalismo, pela PUC-PR. Talvez também por isso ele saiba que seu destempero só provocou mais sanha e furor entre os jornalistas. O senador Roberto Requião vai continuar a ouvir perguntas incômodas dos repórteres. Ainda mais dos competentes e dos corajosos.
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Professor da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisador do objETHOS