Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sensacionalismo prejudica pautas médicas

O atendimento a doentes sofre inúmeras mazelas no Brasil. Entretanto, o tratamento dado ao assunto tem colocado a credibilidade médica no mesmo nível da credibilidade de políticos. A quem interessa?

Alguns fatos bizarros das últimas semanas: mulher que esperava gêmeos de menos de 2500g tem filho de 3200g e duvida de todos (especialmente da equipe médica). Detalhes: foi cesárea, testemunhada por obstetra, auxiliar, anestesista, circulante de sala e possivelmente pediatra, e a mãe da criança de 3200g nunca reclamou o filho perdido. Parece história da carochinha.

De domingo (15/3): mulher grávida tem teste de HIV positivo que estava errado. Um teste positivo para HIV, confirmado três vezes (é a lei) antes de divulgado, ainda assim deve ser refeito, devido ao valor preditivo positivo ser baixo quando a incidência da doença é menor que 5% da população, caso da AIDS. Mas é obrigação ética avisar o paciente do resultado do primeiro teste. Falta informação ao repórter – é mais cômodo dar o ‘furo’ do que se informar sobre o que realmente aconteceu.

Isto tem sido diário. Há um ano, informaram a morte de dois cidadãos depois de tomar a vacina contra a febre amarela. Apenas um tomou a vacina, mas ambos morreram em coma alcoólico conforme as investigações revelaram depois. Quem perde alguém sempre procura culpados – e recebe a sugestão de graça da imprensa nacional.

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As afirmações infelizes de Diogo Mainardi sobre Alberto Santos-Dumont e sua obra, publicadas na edição 2103 da revista Veja, extrapolaram todos os limites. Demonstram um profundo desconhecimento do autor sobre fatos históricos e aviação e revelam um vazio de valores em sua personalidade. A leviandade com que o artigo se refere a um herói da nação é incompatível com alguém que mereça ter qualquer função na Comunicação Social. Por seu conteúdo desrespeitoso em relação a um dos maiores brasileiros, o artigo é motivo de repulsa para qualquer cidadão do país.

O descalabro cometido por Diogo Mainardi neste episódio reveste com uma camada de lama e suspeição tudo o mais que ele tenha escrito antes desta coluna infeliz. Um órgão de comunicação importante como a Veja deveria demitir por justa causa, e comprovada incompetência, um colunista capaz destas afirmações. Mais do que isso, deveria se envergonhar da edição número 2103, a ponto de recolher da casa de seus assinantes e das bancas os exemplares que restaram, para depois, pedindo desculpas, rodar outra edição com o mesmo número, publicando no espaço reservado a esta infâmia de Diogo Mainardi uma tarja negra onde poderia se ler em letras grandes: ERRAMOS. (Cesar Eugenio Guerrero, jornalista, Brasília, DF)

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Gostaria que o conceituado programa Observatório da Imprensa discutisse a forma com que o Congresso se conduz. Já não se vê mais uma pauta independente. Verifico que tornou-se refém da grande mídia – de caso pensado ou não. Os assuntos abordados no dia a dia estão sempre em consequência das primeiras páginas dos jornais ou capa da Veja. Chega a ser previsível. Tanto a Câmara como o Senado estão colocando como pauta de maior importância assuntos de grande audiência, que, na maioria das vezes, não são assuntos de maior importância. Na minha opinião, virou um reality show para evidenciar políticos ou realimentar a mídia. (Neide Candido, economiária, São Paulo, SP)

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Acompanho atentamente o trabalho do Observatório da Imprensa e entendo ser de grande valor, para a promoção da justiça, a análise dos procedimentos da imprensa. Recentemente, constatou-se um abuso em uma série de reportagens por parte de uma emissora de penetração em toda Minas Gerais e conhecida em todo Brasil, a TV Alterosa, pertencente aos Diários Associados.

Uma equipe de reportagem encabeçada pelo jornalista Ricardo Carlini vai à procura do ex-presidiário Welington Gontijo, que conseguiu na justiça a extinção de sua pena, estando hoje em liberdade, e do seu irmão William Gontijo, que ainda cumpre pena. O motivo da reportagem é expor como vive hoje um causador de um crime que trouxe comoção em Belo Horizonte pela sua brutalidade: a morte da garotinha Miriam Brandão. O crime aconteceu na década de 1990 e é considerado um dos mais chocantes da história policial de Minas. A menina foi retirada de casa, sequestrada, morta e incinerada no quintal da casa dos criminosos.

De fato, eu também me comovo com aquela brutalidade. Mas, não seria o caso da emissora citada reconhecer a decisão do Estado que extinguiu a pena de um deles enquanto mantém o outro como recluso? Uma pessoa lúcida ao mínimo reconhece que dívida paga é dívida paga, não importando a natureza desta. Fica aí então o abuso. Como a imprensa deveria tratar pessoas que tiveram dívidas no passado? Um ex-presidiário, é sabido, tem grande dificuldade de se socializar novamente. Como a imprensa pode ajudar nisso? Acredito que a imprensa poderia começar respeitando o direito de quem já deveu mas não deve mais e tem o direito de reconstruir sua vida.

Mas a imprensa pode orientar a sociedade em como cobrar do Estado penas mais severas e também menos brechas na legislação para beneficiar quem cometeu, por exemplo, crime hediondo. O caso aqui colocado não é o primeiro. Já vi outras equipes de reportagem vasculhando a vida de quem não tem mais nada a pagar. Será que isto não vai acabar? (António Araújo de Souza, técnico em eletrônica, Belo Horizonte, MG)

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Gostaria de saber a opinião de vocês a respeito da postura tomada pelo jornal Correio Braziliense em relação ao Sindicato dos Professores do Distrito Federal. É gritante a forma como o jornal manipula informações e omite outras, colocando a população contra o movimento sindical dos professores do DF. Os profissionais da educação estão ameaçando fazer greve por causa de um acordo feito no ano passado, que foi tornado lei pelo governo local. Agora, este mesmo governo que utiliza o slogan ‘da legalidade’ já afirma que não vai cumprir a lei.

Em uma entrevista de 40 minutos com o presidente do sindicato dos professores, o jornal não incluiu nem uma única palavra do diretor, mas apresentou todos os argumentos governamentais para justificar a sua negativa em cumprir o acordo firmado. Prontifico-me a esclarecer maiores detalhes ou pode-se consultar o site do Sindicato. Pergunto: já não é hora de criar um conselho federal para que os próprios jornalistas se fiscalizem? Ou eles estão acima do bem e do mal? (Serafim Pedro de Souza Júnior, professor, Taguatinga, DF)

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Considerada o ‘quarto poder’, a mídia de fato poderia passar a ter um perfil estatal, como os outros três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), sem perda, contudo, da liberdade de expressão e do jornalismo investigativo e de denúncia. Achar que, por ser uma instituição estatal, a imprensa-mídia perderia essas qualidades (o seu criticismo), seria o mesmo que dizer que o Legislativo e o Judiciário advogam em causa do governo. Se o leitor achar que advogam, sim, então cai por terra o conceito que temos de democracia brasileira, ou mundial.

Fugindo desse raciocínio niilista e aceitando a independência dos Poderes, por que a mídia não poderia configurar-se igualmente aos outros dois Poderes já citados? Mudanças de mentalidades ocorrem brutalmente nos nossos dias. A percepção da proposta do casal Kirchner pode soar, hoje, como algo tão absurdo como a regulação dos mercados financeiros soaria dias antes do início da crise mundial. Nos sistemas sociais do mundo, é normal que mudanças na lógica de valores e crenças demorem a sair da sua própria letargia. Mais recentemente, isso aconteceu com as questões ambientais e acontece atualmente com a questão econômica. Agora, o que ocorre, por exemplo, na Venezuela com relação à imprensa é uma outra história, e não se pode comparar à iniciativa do casal K. (João Luiz Neves, jornalista, Rio de Janeiro, RJ)

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Médico e professor universitário, Londrina, PR