Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Silêncio como reconhecimento de culpa

A mídia, que levou a população brasileira ao pânico, deve ser responsabilizada pelos casos de reação à vacina? Por que a febre amarela desapareceu das manchetes e por que não aparecem mais nos telejornais as filas de vacinação com queixas de cidadãos e cidadãs sobre a espera para receber a vacina?

Para um leitor desatento, pode ficar a impressão de que a epidemia alardeada acabou de um dia para outro. Como? A resposta é simples e trágica. Mais de quatro dezenas de casos de reação já foram contabilizadas pelo Ministério da Saúde, bem mais do que as duas dezenas de vítimas da febre amarela no país relativas aos meses de dezembro de 2007 e janeiro de 2008.

Mas não é só! Apenas no estado de Goiás, cerca de mil pessoas podem ter tomado uma nova dose da vacina contra a febre amarela dentro do período de cobertura da vacina, conforme estimativa da Secretaria da Saúde daquela unidade da federação.

Portanto, de pouco valeu o alerta do ministro José Gomes Temporão em rede nacional de rádio e televisão. Seus esclarecimentos sobre os casos de febre amarela, sobre as áreas endêmicas, os cuidados com a vacinação, áreas de risco e barreiras sanitárias foram ofuscados diariamente pelo jornalismo do espetáculo.

Vítimas da histeria

Assim, tanto os cinco minutos utilizados pelo ministro em rede nacional quanto a recomendação do ex-ministro Adib Jatene, em artigo na Folha de S.Paulo, não serviram para frear aquilo que Jatene considerou como ação sistemática de desmoralização das iniciativas governamentais, ‘disseminando desconfiança na palavra oficial’.

Certamente não se trata de um simples deslize, afinal, nas coberturas jornalísticas de fatos do mundo corporativo, como nas crises de bancos em situação de risco falimentar, quando a mídia sempre teve muito cuidado, evitando, por exemplo, incitar os clientes a uma corrida em massa aos caixas de um determinado banco.

O mesmo cuidado, entretanto, não se observou em relação aos recentes casos de febre amarela. O que se viu foi exatamente o inverso, ou seja, uma ação orquestrada para desacreditar o ministro e o governo, que só foi freada com o alerta do Ministério da Saúde sobre a gravidade dos casos de reação à vacina.

Portanto, causa espanto o recente silêncio da mídia sobre a anunciada epidemia de febre amarela, fato que pode ser considerado como um reconhecimento de culpa. Mas isso é pouco!

Fica a impressão que a sociedade civil deve exigir reparações pelo pânico causado à população e pelas vítimas da histeria provocada por uma atitude alarmista e descabida, não para ferir a liberdade de imprensa, mas para garantir o direito à informação.

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Sindicalista