Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Sobre abelhudos e jornalistas

Quando o técnico Dunga e alguns jogadores pediram aos repórteres incumbidos da cobertura da Seleção que omitissem algumas informações por patriotismo, fui o primeiro a contestar: aquilo que tem real interesse para os leitores deve ser divulgado. É este o papel da imprensa.

Mas jornalista que é jornalista não publica tudo que fica sabendo. Analisa cuidadosamente antes, para separar o joio do trigo. Então, por não ver interesse algum em que se tornasse público o fato de o goleiro Júlio Cesar estar usando uma proteção proibida pela Fifa, quero manifestar meu repúdio a quem reportou (Sílvio Barsetti) e quem aprovou a publicação (o editor de Esportes é Antero Greco, a ele cabendo, portanto, a palavra final).

Causou-me a mais profunda indignação a abertura da notícia Júlio Cesar revela uso de proteção irregular:

‘O colete lombar utilizado pelo goleiro Julio Cesar no jogo de ontem continha placas de metal, o que não é permitido pela Fifa. Além das imagens do material, notadas depois de um choque de Julio com Raul Meireles, durante o segundo tempo de Brasil x Portugal, o próprio goleiro, num ato falho, confirmou que usou a proteção inadequada.

`Tem um negócio de ferro ali, mas não vai escrever isso, por causa da Fifa, senão você vai me ferrar´, disse ele a um repórter, já no final da área de entrevista. Na hora da confidência, Julio não percebeu que era observado pela reportagem do Estado

Não há troféu para troféu para quem diz o que não deve

OK, o repórter ignora o que seja ato falho (Freud não lhe explicou…), mas sabe ficar antenado na conversa alheia.

A pergunta que não quer calar é: qual o prejuízo concreto para o futebol que a tal proteção causava? Os velhinhos da Fifa decerto temem que o jogador arranque o colete e o utilize para agredir adversário, juiz ou bandeirinha.

Vocês (Barsetti e Greco) creem, honestamente, que Júlio Cesar fosse capaz de agir dessa maneira? Tenho certeza de que não. Então, por que botaram a boca no trombone? Pensam que vão ganhar algum prêmio de jornalismo? Posso garantir que inexiste troféu para quem fala pelos cotovelos e diz o que não deve.

Como consequência dessa incontinência, poderá, talvez, ser proibido que um jogador digno, corajoso e exemplar se proteja adequadamente na próxima partida.

Caso Júlio Cesar receba um chute nas costas e tenha sua contusão agravada por haver ficado mais exposto, vocês dois serão os culpados.

A troco de quê, meu Deus?!

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Jornalista e escritor, mantém blogues aqui e aqui