A Folha de S.Paulo publica em sua edição de quinta-feira (15/4) a seguinte nota na coluna ‘Erramos’:
‘Brasil (11 abr., pág. A7) Em parte dos exemplares, foi publicado erroneamente que a pré-candidata do PT à Presidência disse, em evento em São Bernardo no último sábado: `Eu não fugi da luta e não deixei o Brasil´. A declaração correta, publicada na maior parte dos exemplares, é: `Eu nunca fugi da luta ou me submeti. E, sobretudo, nunca abandonei o barco´.
A Folha interpretou que quando a candidata Dilma disse ‘nunca abandonei o barco’ estava querendo dizer ‘não deixei o Brasil’, como uma conotação provocativa ao candidato José Serra. Poderia ser, mas não é. A candidata pediu um desmentido formal do jornal e agora sai o ‘Erramos’.
A jornalista Eliane Cantanhêde, na cobertura da convenção tucana, em Brasília, quando o PSDB anunciava José Serra como candidato a presidente, se disse espantada com a movimentação, o aglomerado de pessoas e com a bagunça, para dizer que o PSDB estava parecendo um partido de massas e corrigir logo em seguida: ‘Mas um velho assessor, que conhece bem o PSDB, brincou: `Um partido de massa, mas uma massa cheirosa´, pontuando que os ônibus que trouxeram essa massa `eram novinhos em folha´.’
Já tenho alguns anos de militância: alguns dentro de redação – de chegar ao meio-dia e ficar até quase o fechamento do jornal e depois seguir para o boteco. Nesses anos todos, que o tempo passa, vi com os meus olhos e ouvi com os próprios ouvidos coisas que agora podem parecer piadas, mas que são sérias. Jornalista gosta de inventar – não são todos, mas uma expressiva maioria, sim. Às vezes, muito das vezes, essas invenções são frutos de alguma relação entre o jornalista e a fonte.
O ‘assessor’ e a ‘massa cheirosa’
Certo dia, ao final da tarde, o repórter de política do jornal no qual trabalhávamos liga para o deputado e diz: ‘Olha, estou colocando na matéria sobre o Ministério Público (era uma denúncia que o MP estava encaminhando a Justiça) que você `está cobrando celeridade na apuração dos fatos e principalmente no julgamento. Combinado?´, pergunta o repórter.’ Se a fonte quisesse discordar, a única providência que o repórter poderia fazer era mudar o nome da fonte. Não tinha outra, pois o jornal já estava diagramado.
Jornalista escreve o que quer, assim como também fala… Ouvindo o comentário da jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo, no YouTube, sempre me vem a impressão de que não teve ‘velho assessor que conhece bem’ nenhum na história; muito menos que teria dito ‘massa cheirosa’. É um escárnio sem precedente do assessor (assim como também foi da jornalista ao repetir em vídeo).
Não quero acreditar que um assessor, velho assessor do PSDB, teria escarnecido de tal forma das massas ‘mal cheirosas’ do PT. O PSDB é um partido que está se tornando um partido de direita, mas não creio que seus velhos assessores são estúpidos de dizerem ‘massa cheirosa’ daqueles que estavam na convenção tucana em Brasília. Estou apostando quase tudo, que essa frase infeliz foi uma criação literária da jornalista Eliane Cantanhêde que também criou um ‘tal assessor’ para dar um ar de jornalismo.
Se não foi criação literária, que a jornalista venha a público e revele o nome de tal assessor, pois.
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Jornalista, Cuiabá, MT