Venho sentindo um nojo.
A cada dia, o nojo aumenta.
No início, não sabia do que sentia nojo. Se era de algo, de alguém, de um cheiro, de uma imagem que eu vira.
Mesmo sem saber do que era, sabia que era nojo. Mas tentei esconder. Tentei seguir em frente sem ligar para o nojo cada vez maior.
O tempo passou, fui fazer minhas coisas, trabalhar, quase esqueci do nojo. Mas ele ainda crescia. Todo dia, ao acordar, lá estava, e maior.
Um dia, parei.
Olhei bem para aquele nojo que crescia dentro de mim. Tive vontade de perguntar para ele de onde ele vinha. Mas ele não me responderia, não tinha boca, não podia falar.
Olhei ao redor, investiguei, precisava descobrir de onde vinha tal nojo.
Foi então que vi.
Ao abrir aquele jornal, ouvir aquele cara falar, ver aquele telejornal, encontrei a origem do meu nojo pessoal.
Estava com nojo dessa mídia boçal.
Nojo do Galvão, dos Bonners e Fátimas, dos sorrisos fingidos, das notícias plantadas, das mentiras deslavadas tratadas como verdades.
É um mal sem cura
Quando descobri, percebi que o nojo não vem de uns dias, mas de longe.
É um nojo antigo, um nojo conhecido.
Um nojo de quem trata o povo brasileiro como idiota. Um nojo de quem acha que um penteado bonito e a promessa de isenção e imparcialidade enganam alguém ainda.
Um nojo de quem tem o poder e o usa apenas para o mal coletivo e a benesse de poucos, muitos poucos.
Trago esse nojo comigo desde que vim do sul. Em Porto Alegre, apenas estagiário, vi matéria com críticas à Brigada Militar ser engavetada na Rádio Gaúcha, em pleno governo Rigotto.
Tive nojo. Dessa e de muitas outras.
E tenho nojo, até hoje.
Tenho nojo quando vejo uma revista tratar como bandida uma mulher que foi torturada por facínoras.
E faz isso apenas para tentar ganhar alguns votos para o candidato do seu patrão.
Tenho nojo e penso em todos aqueles que morreram, deram suas saúdes, suas liberdades e suas sanidades para que o Brasil fosse hoje um país democrático.
Tenho nojo ao ver como essa mídia boçal trata essas mesmas liberdade e democracia que tanto sangue custaram.
Com nojo, penso que não poderia ser de outro jeito, já que essa mídia nunca fez outra coisa a não ser se locupletar junto com os parasitas, facínoras e Arrudas.
Sei que o nojo não vai passar, vai sempre existir, sempre estar comigo.
É um mal sem cura e, por isso mesmo, bom de combater.
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Jornalista, São Paulo, SP