Para Clark Hoyt, novo ombudsman do New York Times, as páginas editoriais do jornalão constituem um dos fóruns mais importantes dos EUA para a divulgação de opiniões sobre os mais variados assuntos – a guerra no Iraque, aborto, aquecimento global, dentre outros. ‘Procuramos expor opiniões que são polêmicas e provocadoras. Opiniões que confirmam o que você já pensava não são tão interessantes’, explica Andrew Rosenthal, editor das páginas editoriais.
Mas alguns artigos opinativos geram mais reações de leitores do que outros. Dois textos recentes – um publicado na semana passada e o outro em maio – levantaram questões importantes, considera Hoyt. ‘Pela reação gerada por eles, [mais dados sobre] os casos não deveriam ser publicados? E se o Times divulgar uma opinião polêmica, os pontos de vista dos leitores devem ser expostos imediatamente? Qual a obrigação dos editores para deixar claro que os colunistas não estão sendo irresponsáveis?’, questionou o ombudsman em sua coluna de domingo [24/6/07].
Dois pontos de vista
A coluna mais recente foi assinada por Ahmed Yousef, porta-voz da facção política palestina Hamas. Yousef escreveu sobre as reivindicações do Hamas, que há duas semanas protagonizou um golpe contra o grupo rival Fatah, com quem dividia o poder na Autoridade Palestina. Muitos leitores, furiosos com o artigo, acusaram o Times de dar espaço a ‘um terrorista’. Porém, segundo Rosenthal, nas páginas editorias ‘não há a obrigação de fornecer o mesmo equilíbrio jornalístico que é observado nas outras seções, por se tratar de opinião’. Desta forma, são permitidas as mais diversas manifestações.
David Shipley, que trabalha com Rosenthal, disse que a tomada de Gaza pelo Hamas foi um dos assuntos mais importantes da semana. ‘Foi a nossa oportunidade de ouvir o que o Hamas tinha a dizer’. Para Hoyt, o artigo de Yousef deveria realmente ter sido publicado. O porta-voz escreveu sobre a criação de uma ‘atmosfera de calma, na qual possamos resolver nossas diferenças com Israel’, sem mencionar que o Hamas se dedica oficialmente a ‘levantar a bandeira de Alá sob cada centímetro da Palestina’, o que significaria não existir mais Israel.
As páginas editoriais devem ser abertas especialmente a idéias controversas, porque é assim que uma sociedade livre decide o que é bom e ruim para ela, opina o ombudsman. Para Rosenthal e Shipley, muito já foi publicado, dos mais diversos pontos de vista, sobre o conflito entre Israel e Palestina, o que dá ao leitor informação suficiente para que as declarações de Yousef possam ser analisadas e julgadas.
Apenas um lado
Este não foi o caso, no entanto, de uma coluna assinada por Nina Plank, especialista em alimentação e nutrição, no dia 21/5. Ela afirmou em seu texto que veganos – vegetarianos radicais que não comem derivados de leite e ovos – estão prejudicando sua saúde e a de seus filhos. Ex-vegana, Nina disse que ser uma ‘grávida que não come carne, leite, ovos e seus derivados é irresponsabilidade’. ‘Não se pode gerar um filho à base de plantas’, disparou.
Nina partiu do exemplo de um caso em Atlanta em que um casal foi condenado por assassinato do filho de pouco mais de um mês de idade. O bebê era alimentado basicamente por leite de soja e suco de maçã. A coluna gerou uma enxurrada de e-mails de leitores, muitos de veganos que enviaram as fotos de seus filhos saudáveis e outros que tentavam provar que a dieta dos veganos é perigosa.
Para Rosenthal e Shipley, Nina não tinha a obrigação de contar o outro lado da história – o ponto de vista dos veganos. Mas, ao contrário do assunto anterior, o Times não havia exposto outro ponto de vista sobre veganos nas suas páginas editoriais nos últimos 16 anos.
Rachelle Leesen, nutricionista do Hospital Infantil da Filadélfia, disse que o artigo de Nina ‘foi extremamente polêmico e cheio de informações errôneas’. Segundo uma revisão da Associação Dietética Americana e dos Nutricionistas do Canadá, de 2003, uma dieta vegana bem elaborada é apropriada para todos os ciclos de vida, incluindo gestação, lactação, infância e adolescência. Para Hoyt, o Times ficou devendo um ‘outro lado’ ao leitor.
No caso de Atlanta, os pais foram acusados de deixar o bebê morrer de fome. Segundo um exame clínico no corpo do menino, ele não teria recebido comida suficiente para viver, independente de que tipo de comida ingeria. O júri não acreditou no casal, que insistia em dizer que estava tentando criar o filho com uma dieta vegana radical. ‘As colunas de opinião são para debate, mas se há apenas um lado, não há debate’, conclui o ombudsman.