Se fosse no Nordeste, iriam dizer que ninguém aqui sabe votar. Como foi no Sudeste, a desculpa é que foi um voto de protesto. Embora o Ministério Público esteja tentando provar que Tiririca não sabe ler nem escrever e não pode assumir o cargo, o fato não pode ser negado: demos a um palhaço o título de deputado mais votado do país. Depois não adianta reclamar que Brasília é um picadeiro de circo. Eles ofereceram o ingresso e nós pagamos.
Semana passada, li uma declaração do ex-ministro Fernando Lyra. Ele falava sobre as antigas campanhas e sobre como elas tinham participação popular, nas ruas. Lembro-me, ainda pequeno, sendo levado pelo meu avô para carreatas e caminhadas. O Brasil voltava à democracia. Faço parte da geração que começou a acreditar e se decepcionou com a política. Este ano, o que mais me irritou foi ficar preso em engarrafamento causado por carreata de político. Prometi a mim mesmo que não votaria em candidato que me atrapalhasse no trânsito com carreata, caminhada ou qualquer outro tipo de manifestação ‘popular’. As aspas são para fazer jus ao fato de os carros geralmente terem combustível pago pelo candidato e as pessoas estarem ali tentando algum cargo no futuro governo. É a verdade. O resto é engarrafamento.
Também prometi a mim mesmo que não votaria em candidato que jogasse propaganda pelo chão, como fizeram muitos no dia anterior à votação, deixando as cidades com um verdadeiro tapete de lixo. É desse jeito que eles esperam se eleger para cuidar do bem-estar do povo?
Seria necessário para ser eleito?
Não se encontram mais pessoas como meu avô, que iam para as ruas de forma espontânea. A idade os deixou cansados para caminhar. E os jovens têm mais o que fazer. As mesmas pessoas que lutaram pela democracia se encarregaram de destruí-la no imaginário da população, fazendo bobagem com o dinheiro público.
Mas, apesar desse esmorecimento da paixão política, continuo acreditando, ou pelo menos fazendo minha parte. Eu não votei em nenhum palhaço. Também não votei em nenhum candidato que tenha me atrapalhado no trânsito ou jogado propaganda pelo chão. Curioso é que a maioria dos candidatos em quem votei, ganhou a eleição. O que prova uma teoria muito positiva para pensarmos o nosso país: ser palhaço, porco e atrapalhar o trânsito ainda não é imprescindível para ganhar votos.
Quando isso for necessidade para ser eleito, prometo sem demagogia que vou morar em outro lugar.
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Jornalista, Caruaru, PE