Para a imprensa sensacionalista britânica que adora escândalos, o técnico da seleção de futebol nacional, Sven Goran Eriksson, é um prato cheio. Desta vez, ele aceitou o convite do tablóide News of The World para viajar com seu agente, Athole Still, a Dubai, a fim de discutir uma possível participação como consultor em um projeto de escolas de futebol. Além de conversarem sobre propostas de trabalho, os dois jantaram, beberam e passearam de iate com um xeque milionário, responsável pelas negociações. Na verdade, o ‘personagem’ se tratava de Mazher Mahmood, editor investigativo do jornal.
No domingo (15/1), uma foto de Eriksson conversando com o ‘xeque’ – com o rosto desfigurado para que Mahmood possa continuar agindo em futuros disfarces – estampava a primeira página do News of The World. O artigo dizia que o treinador sugeriu ao xeque que ele comprasse o clube Aston Villa e o colocasse no comando da equipe depois da Copa do Mundo, pois o presidente do clube, Doug Ellis, era ‘um homem velho e doente’. Eriksson, contratado pela seleção até 2008, informou que seu salário atual é de ‘US$ 5 milhões ao ano sem impostos, mais bônus’, e a quebra do contrato implicaria em uma multa de quase ‘US$ 9 milhões ao ano, com impostos’.
As declarações bombásticas não pararam por aí. Para deleite de Mahmood, ainda foi possível arrancar informações embaraçosas sobre alguns jogadores britânicos. O treinador afirmou que convenceria David Beckham a deixar o Real Madrid para ir jogar no Aston Villa. ‘Com a popularidade de Beckham com mulheres dos 17 aos 70, o clube venderia mais camisas em uma semana do que vendeu nos últimos dez anos’, afirmou Eriksson durante a conversa. Segundo o treinador, o jogador estaria desiludido com o clube espanhol. Sobre Wayne Rooney, considerado um prodígio do futebol britânico e uma das estrelas do Manchester United, ele alegou que seu comportamento temperamental deve-se ao fato de vir de uma família pobre e de ter crescido em um bairro violento. Já em relação ao zagueiro da seleção Rio Ferdinand, o treinador abriu o verbo e o chamou de ‘preguiçoso’. E ainda: Michael Owen não estaria ‘muito feliz’ com o Newcastle United, mas havia decidido deixar o Real Madrid para ir para o clube devido ao alto salário que lhe foi oferecido.
Eriksson informou que recebeu aprovação escrita da Federação Inglesa de Futebol (FA) para viajar com o objetivo de discutir propostas de trabalho em Dubai. Depois da publicação da matéria, seu agente afirmou que ele não gostaria de deixar o cargo de técnico da seleção, e que teria conversado com a FA para estender seu contrato até 2010.
Métodos questionáveis
Não é a primeira vez que Mahmood arma ciladas como ‘xeque’ para conseguir informações em primeira mão. Freddie Sheperd e Douglas Hall, respectivamente presidente e diretor do clube Newcastle United, caíram na armadilha do xeque árabe e viajaram para um bordel em Marbella, no qual acabaram difamando os jogadores de seu clube e as mulheres da cidade. Sophie, condessa de Wessex, também ficou em situação embaraçosa em 2001 ao fazer declarações sobre a rainha Elizabeth II, sua sogra, e o primeiro-ministro Tony Blair e sua esposa. Depois de Mahmood sugerir que Sophie estaria usando sua influência por ser casada com o príncipe Edward, filho mais novo da rainha, nos negócios em sua agência de relações públicas, ela resignou ao cargo de diretora e sócia.
O jornal alega que já conseguiu, com as ações do falso xeque, enviar mais de 100 criminosos à justiça. No entanto, o ‘personagem’ é criticado por seus métodos antiéticos que envolvem violação da lei. ‘Como resultado de meu trabalho, consegui 98 condenações criminais, então devo estar fazendo algo certo’, justifica o repórter, que mantém sua identidade verdadeira em segredo. No contrato com o jornal, há uma cláusula que proíbe a publicação de fotos dele. Informações de Rob Hughes [International Herald Tribune, 15/1/06] e da BBC [15/1/06].