Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

‘Tenho informações que abalariam as eleições no Brasil’

Acompanhado por seis seguranças, o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, não disfarça o incômodo com o fato de não ter residência fixa, só andar com escolta armada e ver seus funcionários sendo detidos por policiais em todo o mundo. ‘A censura está muito mais generalizada e profunda do que a sociedade imagina’, alertou. Em entrevista ao Estado, o polêmico hacker, autodenominado jornalista e ativista, admite que nunca pensou que sua iniciativa de criar um site para publicar documentos secretos tomaria a dimensão que tomou.

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Que tipo de repercussão teve a publicação dos documentos sobre o envolvimento americano no Iraque?

Julian Assange – A única investigação aberta pelos americanos não foi contra seus soldados. Foi contra mim. Nesta semana, uma pessoa que apenas indiretamente estava ligada ao vazamento dos dados militares americanos foi detida na fronteira entre o México e os EUA. Seu computador foi confiscado. Ele havia visitado uma de nossas fontes. O Pentágono também criou uma lista de pessoas que trabalham dentro do próprio serviço americano que poderiam ser nossas fontes. São 120 funcionários suspeitos. Basicamente, o que os EUA fazem é banir a liberdade de imprensa.

Há também material sobre o Brasil que poderá ser publicado em breve?

Sim. Não posso dizer de quem se trata. Sabemos que parte da informação que temos sobre o Brasil poderia ter abalado as pretensões eleitorais de algumas pessoas. Mas não conseguimos ter tempo de publicar o material antes, diante de todo o caso do Iraque.

Além das ameaças, que outras pressões o sr. sofre?

J.A. – Grande parte de nossa verba vem de doadores que mandam dinheiro com cartões de crédito. Mas, depois da publicação dos documentos sobre o Iraque, a empresa que fazia o trabalho de captação na internet suspendeu o contrato conosco e o motivo que nos deram era exatamente o fato de estarmos sendo visados pelos americanos.

A imprensa americana lhe dá a devida atenção?

J.A. – Não. E o governo americano ainda impediu que nossas revelações chegassem às TVs a cabo. A imprensa americana não nos deu espaço.

O sr. não teme que essa pressão impeça seu site de operar?

J.A. – Vamos continuar a publicar os documentos da forma mais rápida possível. Espero que as pessoas julguem alguém não pelo calibre de seus amigos, mas de seus inimigos.

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Correspondente em Genebra do Estado de S.Paulo