Leia abaixo a seleção desta sexta-feira para a seção Entre Aspas. ************ O Globo
Sexta-feira, 28 de setembro de 2007
CRUVINEL NA TV PÚBLICA
Por Dentro do Globo
‘Nos últimos 20 anos, desde o dia 14 de maio de 1987, os leitores do GLOBO – muitos certamente nem tinham nascido ainda – se acostumaram a abrir o jornal e ter como um dos principais pontos de referência, logo na página 2, a coluna Panorama Político, assinada pela jornalista Tereza Cruvinel. Esta parceria que enriqueceu as três partes (O GLOBO, os leitores e Tereza), infelizmente está se encerrando. Na última segunda-feira, Tereza nos procurou com a solicitação de que a dispensássemos para que possa assumir, a convite do presidente Lula, a presidência da TV Pública que o governo federal está criando.
Nossos melhores argumentos sobre a sua importância no time de colunistas do jornal, sobre a admiração que temos pelo seu trabalho ou mesmo pela sua amizade construída nestes anos todos no jornal – no meu caso, antes mesmo disso – não foram suficientes para demove-la da idéia do desafio de ajudar a implanta no país uma TV pública no interesse da sociedade. É com tristeza, portanto, que comunicamos a interrupção desta vitoriosa parceira.
No GLOBO, onde começou a trabalhar antes mesmo de assinar o Panorama Político, Tereza participou de momentos decisivos da História do país, como o fim do regime militar e a campanha das diretas já, a eleição e agonia de Tancredo Neves, a Assembléia Nacional Constituinte e o governo Sarney, a primeira eleição presidencial direta e o impeachment de Collor, os planos econômicos e a Era FHC, e, por fim, os anos Lula. Essa experiência de convivência democrática, que ela e O GLOBO valorizam, a faz uma profissional respeitada por todas as correntes políticas, Com certeza, Tereza levará esse ativo para o seu novo trabalho.
O Panorama Político, que ela assina hoje pela última vez, continuará, no mesmo local. A coluna é uma das marcas do GLOBO, tendo sido publicada pela primeira vez em fevereiro de 1987. Antes, de 1979 a 1982, chamou-se Política hoje, amanha; depois, entre 1982 e 1984, apenas Política; e, de 1984 a 1987, Coluna Política. Por estes espaços, já passaram jornalistas como José Augusto Ribeiro, Antônio Martins e Merval Pereira – embora Tereza tenha sido a primeira a assinar a coluna política do GLOBO.
Curiosamente, na primeira coluna que publicou com o seu nome, uma das principais notas registrava a nomeação de uma jornalista para presidir a Empresa Brasileira de Notícias (EBN), depois fundida à Radiobrás e que será agora incorporada à TV Pública que Tereza presidirá.
A partir de amanhã, com o mesmo perfil, o de uma coluna feita de Brasília com os bastidores do dia-a-dia da política nacional e dos estados,, o Panorama será coordenado pelo jornalista Ilimar Franco, com a ajuda e a colaboração da Redação, no Rio, da sucursal do GLOBO na capital, da sucursal de São Paulo e dos correspondentes do jornal no país.’
Tereza Cruvinel
‘Não creio que pioramos’
‘Desta janela vi a passagem dos últimos 20 anos da história política contemporânea. Registrei, observei, tentei compreender e compartilhar a compreensão dos fatos que se sucederam: uma fieira luminosa de círios, uns sendo apagados pelos outros, marcando a trilha da nova democracia brasileira. Deixo este nobre espaço que O Globo me confiou para enfrentar um novo desafio profissional, a construção da rede pública de televisão. Quando comecei a escrever aqui, os tempos eram difíceis na política, mas, ainda que não pareça, hoje são melhores.Também por isso, no rito de passagem que esta última coluna expressa, a gratidão pelos ganhos e pelas realizações é maior que o sentimento de perda, próprio das separações. No jornalismo político vi a agonia da ditadura, seu estertor diante das palavras de ordem por anistia e liberdades democráticas. Na campanha das Diretas, a emergência do povo, que seria derrotado pelo Congresso na noite de 25 de abril de 1984. Estive ao lado do grande Timoneiro da Travessia, Ulysses Guimarães, na hora de seu choro. Pela democracia, jornalistas também podiam chorar. A redenção viria com o apoio popular à eleição indireta de Tancredo. ‘Apesar de você, amanhã há de ser outro dia.’ Chico Buarque deu-nos o refrão cantado na Esplanada embandeirada, naquela noite de 15 de janeiro de 1985.
Uma nova perda viria com sua doença e morte, mas o sonho democrático era grande e forte. Avançamos no aprendizado da democracia com José Sarney, com a remoção do entulho autoritário, expressão esdrúxula para os mais jovens: restos institucionais da ditadura atravancando o caminho. Com Ulysses, a Constituinte erige o primado da liberdade e da cidadania. E, ainda que tenha produzido um texto equivocado em muitos pontos, deunos as tábuas da democracia, intocáveis nas suas cláusulas pétreas. Na curva, uma nova provação. O governo do primeiro presidente eleito traz a primeira decepção de natureza ética, propiciando o mais severo dos testes para as instituições da nova democracia: seu afastamento pelo impeachment, dentro da lei e da ordem. Fomos aprovados. A imprensa travara o bom combate. Um governo de transição e ampla coalizão como o de Itamar Franco cria as condições para a morte do dragão da inflação. O Plano Real nos leva aos oito anos com Fernando Henrique Cardoso, seu esforço para assegurar a estabilidade numa conjuntura de instabilidade externa. O tempo pede reformas do Estado, que elevam as tensões políticas.
O sistema político traz desafios para a governança, as mazelas políticas começam a aparecer, mas a marcha democrática segue. As instituições se consolidam e a liberdade de imprensa vige em pleno viço.
A eleição de Lula, por sua origem e trajetória, será mais que uma alternância no poder. Será prova de uma permeabilidade social e de uma disposição mudancista do povo brasileiro que surpreendeu o mundo. Neste quinto ano com Lula, a economia esbanja saúde, há um vento de crescimento, mas o que se destaca, e o que deve ficar como legado, é o investimento maciço no combate à pobreza, na redução da desigualdade social mais escandalosa que todos os escândalos. Os indicadores socioeconômicos alcançam suas melhores marcas históricas, num processo iniciado no governo anterior e acelerado com o aumento dos investimentos. A percepção dessas mudanças sociais vem sendo obscurecida pelo mau tempo na política. Com a dessacralização ética do PT no primeiro mandato e a repetição dos escândalos no segundo, atingindo sobretudo o Congresso, a política é jogada num descrédito ímpar depois da transição. A democracia representativa está em crise no mundo, embora isso não nos console nem deva atenuar as exigências. Não creio, apesar de tudo, que só tenhamos piorado na política. Nunca estivemos livres das mazelas da política.Elas já foram até maiores. As mudanças e transformações da sociedade é que melhoraram nossa percepção delas: a velocidade das comunicações combinada com a liberdade de informação arrancou as velhas cortinas do sistema de poder.
Os velhacos e as velhacarias são expostos. São fortes sintomas de que o sistema político está exausto, já não responde às necessidades. Por isso a discussão da reforma política teve sempre abrigo na coluna. Todo este desnudamento traz muita indignação, e isso é saudável. Propicia a busca de diagnósticos e de soluções. Por tudo, não creio que pioramos.
No trato diário dos problemas políticos, busquei sobretudo oferecer a mais correta interpretação dos fatos, oferecer elementos para que o leitor-cidadão forme sua opinião.
Devo ter cometido erros, mas creio ter feito um saldo maior de acertos. Foi um tempo riquíssimo, irrepetível. Sou grata a todos que, nas Organizações Globo, proporcionaram-me tão privilegiado exercício do jornalismo. Pelos primeiros tempos, os de aprendizado para uma jovem repórter, à memória de Dr. Roberto Marinho e à de Evandro Carlos de Andrade. A Carlos Lemos, quando diretor em Brasília, pela persistência em manter-me na coluna. A João Roberto Marinho, pelo compromisso com o pluralismo, que assegurou minha longa permanência. A Rodolfo Fernandes, amigo antes de diretor de Redação, pelo estímulo, apoio e compreensão, sempre, inclusive na saída. A Alice Maria, pela experiência televisiva tardia na Globonews. Sou gratíssima a todos os leitores de todos os tempos. Aos muitos amigos que ganhei e levo comigo, e homenageio na pessoa ímpar de Jorge Moreno, que para cá me trouxe um dia. Boa sorte ao Ilimar Franco na coluna que fará aqui. Até sempre, a todos os colegas desta grande escola de jornalismo que é O Globo.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 28 de setembro de 2007
RECORD NEWS
Silvia Amorim, Ricardo Brandt e Keila Jimenez
Edir Macedo abre novo canal de TV e ataca ‘monopólio’ da Globo
‘Apresentado apenas como empresário, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Edir Macedo, inaugurou ontem – ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador José Serra e do prefeito Gilberto Kassab – o canal Record News, fazendo críticas ao ‘monopólio’ da Rede Globo. Em um discurso breve, mas irônico, o ‘bispo’ Macedo, como é apresentado habitualmente, desfiou indiretas à emissora concorrente. ‘Fomos injustiçados por um grupo de comunicação que mantém o monopólio da informação’, afirmou. ‘Daí surgiu o nosso desejo de levar o fim desse monopólio e dar às pessoas o direito de se informarem por um outro canal de notícia e formarem opinião por si mesmas.’
Exaltando a importância da ‘democratização da informação’, Macedo fez questão de ressaltar que um dos motivos de orgulho para a nova emissora é o fato de que oferecerá com o novo canal informação ‘de graça’ aos brasileiros 24 horas por dia, um feito inédito no País.
Mais tarde, em entrevista, respondeu assim à pergunta sobre se era à Globo que se referia quando falou em monopólio. ‘Você conhece outro monopólio?’ Mas se afastou dos jornalistas quando questionado sobre os carnês da Iurd para que os fiéis colaborem com a expansão das rádios da igreja.
A Central Globo de Comunicação informou que a direção da emissora carioca não comentaria as declarações do proprietário da Record.
De uma platéia formada por políticos, empresários, artistas e funcionários da Rede Record, Macedo arrancou aplausos. A cerimônia durou cerca de 30 minutos e contou com a presença dos ministros Orlando Silva (Esportes), Marta Suplicy (Turismo), do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, do senador Romeu Tuma e da desembargadora Marli Ferreira do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que representou a ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).
Convidado de honra, Lula, ao lado de Macedo, apertou o botão que simbolicamente colocou a nova emissora no ar ontem às 20 horas. Em São Paulo, a emissora transmite pelo canal 42 UHF, 20 na TVA digital e 93 na Net Digital. A cerimônia foi encerrada com a interpretação do Hino Nacional pela cantora Fafá de Belém.
DISCURSOS
Lula e Serra, que tiveram a oportunidade de discursar, elogiaram a iniciativa da Record, mas não citaram o nome de Macedo em seus pronunciamentos.
‘Estou certo de que todos os envolvidos na criação e operação da Record News têm a competência e dedicação necessárias para continuar trabalhando em prol do avanço e da maior democratização da comunicação do Brasil para levar aos brasileiros, de forma independente e equilibrada, informações e os debates mais relevantes para o presente e futuro da sociedade’, disse Lula.
Serra destacou o caráter regionalizado da programação. ‘Essa nova emissora amplia a diversidade de opiniões. Uma das inovações é a regionalização da notícia.’
Lula aproveitou o debate sobre a comunicação no País para reafirmar que seu governo defenderá sempre a liberdade de imprensa. ‘Hoje a imprensa conta com plena liberdade para exercer sua missão. A Constituição e as leis garantem a livre atuação. A essas garantias se somam o firme compromisso do governo de não permitir qualquer tipo de cerceamento ao exercício da liberdade de imprensa no nosso País.’
Lula encerrou seu discurso citando um trecho do Hino à Proclamação da República, que virou samba. ‘Toda vez que eu participo da inauguração de um jornal, televisão ou rádio, seria importante que todos nós pudéssemos dizer uma frase que, para mim, cala muito fundo: Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós!’
INVESTIMENTO
A Record News é o primeiro canal em TV aberta dedicado exclusivamente à transmissão de notícias. Sua estréia ocorre 54 anos após a inauguração da Rede Record. Canais similares, comandados pela Globo e pela TV Bandeirantes, como a Globonews e a Bandnews, respectivamente, são transmitidos hoje apenas via TV a cabo. A Record investiu US$ 7 milhões no projeto, segundo a empresa.
FRASES
Edir Macedo
Fundador da Universal
‘Fomos injustiçados por um grupo de comunicação que mantém o monopólio da informação. (…) Daí surgiu o nosso desejo de levar o fim desse monopólio e dar às pessoas o direito de se informarem por um outro canal de notícia e formarem opinião por si mesmas’
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente
‘Estou certo de que todos os envolvidos na criação e operação da Record News têm a competência e dedicação necessárias para continuar trabalhando em prol do avanço e da maior democratização da comunicação do Brasil’
José Serra
Governador
‘Essa nova emissora amplia a diversidade de opiniões. Uma das inovações é a regionalização da notícia’’
Lilian Carmona
Briga atingiu o auge com ‘chute na santa’
‘Desde que a Record foi adquirida pelo ‘bispo’ Edir Macedo, da Igreja Universal, observa-se uma cerrada disputa entre ela e a Rede Globo. Nesse embate, que vai além da disputa por audiência, um dos episódios mais conhecidos foi o do chamado ‘ chute na santa’, em 1995.
No dia 12 de outubro, data em que os católicos celebram Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil, um dos principais pregadores da Record, o ‘bispo’ Sérgio Von Helde chutou e deu socos em uma imagem de gesso da santa, durante os programas Despertar da Fé e Palavra da Vida, da TV Record.
A intenção era criticar a ligação dos católicos com as imagens de santos – fato inaceitável para as igrejas evangélicas. Mas ele provocou uma comoção no País de maioria católica, alimentada em grande parte por reportagens da Globo.
Von Helde foi indiciado na Justiça por ofensa à fé alheia e templos da Universal foram atacados em diversas cidade. Macedo pediu desculpas públicas aos católicos, ao mesmo tempo em que iniciou uma guinada nos rumos da TV, reduzindo o número de programas religiosos.
Naquele mesmo ano, a Record tornou-se a terceira rede de TV do País. Em setembro, a Globo exibiu a minissérie Decadência, na qual o ator Edson Celulari interpretava um ‘bispo’ corrupto e devasso. Sentindo-se atingido, Edir Macedo usou seus programas na emissora para protestar.
Em dezembro, novo embate e nova onda de indignação: a TV Globo divulgou uma fita em que Edir Macedo ensinava a pastores truques para arrancar dinheiro de fiéis.
Em 1998, a Globo acusou a Record de usar imagens da câmera de seu helicóptero durante a cobertura do enterro do cantor Leandro. No mesmo ano, a Record reclamou que estava sendo injustiçada, pois a concorrente conseguira uma entrevista com Francisco de Assis Pereira, conhecido como o maníaco do parque, e ela tivera seu pedido negado pelo juiz.
Em 1997, a Record já tinha deixado a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), alegando que era controlada pela Globo. Em 2002, numa reação a notícias de que o governo preparava operação de salvamento da Globo Cabo, com recursos do BNDESPar, a emissora de Edir Macedo e outras concorrentes voltaram a apontar favorecimento.
Essa questão virou foco de conflito de novo em 2004, com o anúncio do programa de financiamento do BNDES para empresas de mídia eletrônica e impressa. Globo e Bandeirantes defenderam a proposta, mas Record, SBT e Rede TV criticaram, alegando que os recursos para pagamento de dívidas ajudariam principalmente a Globo.’
Roldão Arruda
De pregador de coreto a dono de emissora
‘Foi uma aparição rara. Sempre que é visto na TV, Edir Macedo está investido no papel de ‘bispo primaz’ e líder supremo da Igreja Universal do Reino Deus. Ontem, porém, surgiu como proprietário de um dos maiores grupos de comunicação do País – com redes de TV e de rádio, além de jornais impressos.
Sua ascensão foi rápida. Em 1977, quando decidiu fundar sua própria igreja, o então funcionário da Loteria do Rio de Janeiro nem tinha lugar para pregar. Começou num coreto, na zona norte do Rio. Meses depois, ele comprou alguns minutos por dia numa emissora de rádio – e não parou mais.
Passados 13 anos, durante os quais espalhou templos por todo o País e montou o mais eficiente sistema de cobrança de dízimos e arrecadação de contribuições já visto nas igrejas evangélicas do País, ele arrematou por US$ 45 milhões a Rede Record – então nas mãos dos empresários Silvio Santos e Machado de Carvalho.
O negócio foi feito inicialmente em nome de Odenir Laprovita, apresentado como presidente da Universal. Mas logo em seguida, quando o Ministério Público contestou a transação, dizendo que pela lei a igreja não poderia ter comprado a emissora, Macedo apresentou-se à Justiça para dizer que era o proprietário e tinha pago os US$ 45 milhões com recursos próprios.
Em 1992, o Ministério Público voltou a investir contra ele, por ‘delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular’. Edir Macedo ficou preso por 15 dias e a Justiça até decretou o seqüestro da TV.
Dizendo-se perseguido, o ‘bispo’ livrou-se das acusações e investiu mais na expansão da Record. Em 1995, ela já era a terceira rede do País, passando de 6 para 14 emissoras. Ao mesmo tempo, Edir Macedo adentrou o campo da política – especialmente as comissões do Congresso que tratam de concessões de emissoras de rádio e televisão. Em 2002, a Universal elegeu 22 deputados federais.
No mesmo ano o ‘bispo’ aliou-se ao PT, na campanha pela eleição de Lula à Presidência. Foi uma guinada histórica. Em 1989, quando apoiou a candidatura de Fernando Collor a presidente, os ataques a Lula eram tão virulentos que chegou a compará-lo ao demônio.
Mesmo poderosa e em expansão – no ano passado comprou o jornal Correio do Povo, um dos mais tradicionais do Rio Grande do Sul – a Universal continuou enfrentando problemas com a Justiça. Em 2005, um de seus principais dirigentes foi preso com sete malas de dinheiro, num valor total de R$ 10 milhões, e acusado de sonegação fiscal. No ano passado, 18 de seus 22 deputados federais foram citados em escândalos de corrupção – e a bancada murchou para 7 deputados.
No meio desses problemas, a figura de Macedo sempre é preservada – reservando-se a ele o papel de líder espiritual. Daí a surpresa de ter aparecido ontem como empresário.’
TELEVISÃO
Duas Caras, duas fés
‘Duas Caras, próxima novela das 9 da Globo, levará ao ar uma dualidade religiosa que deve causar polêmica. Dividirão a cena e os adeptos na mesma história um terreiro de umbanda e um culto evangélico. A idéia do autor Aguinaldo Silva é mostrar as religiões predominantes no morro e como elas se relacionam.
‘É fato que em cada esquina em uma favela há uma igreja pentecostal, um culto evangélico, como há muitas mães-de-santo também’, justifica Aguinaldo. ‘As duas religiões terão a mesma importância na trama, tendo personagens dos dois lados’, continua. ‘Elas terão uma relação pacífica, assim como é na favela.’
Chica Xavier será a mãe-de-santo Dona Setembrina na favela ficcional Portelinha. Já o líder evangélico, o Pastor Lisboa, será vivido por Ricardo Blat. Ambos estão fazendo visitas a cultos evangélico e rituais de umbanda.
O autor sabe que seguidores de ambas as religiões estarão de olho na novela, e já está pronto para encarar as críticas. ‘Mexer com religião sempre é complicado, mas pretendo fazer tudo de forma respeitosa’, diz. ‘Agora, polêmica sempre vem.’’
Pedro Henrique França e Monique Oliveira
No VMB, Cicarelli ironiza Britney
‘Com o show de Juliette & The Licks, o 13º Vídeo Music Brasil começou, por volta das 22h35 de ontem, em São Paulo. Em uma rápida apresentação, a líder da banda, Juliette Lewis, deu apenas o gostinho do que será seu show no TIM Festival, que acontece em outubro. Após o Esquenta VMB, com a recepção dos convidados feita pelos apresentadores Marcos Mion e Penélope, a mestre-de-cerimônias da noite, Daniela Cicarelli, adentrou ao palco do Credicard Hall, na zona sul. De vestido branco, Cicarelli fez graça com o número 13. ‘Vocês sabem que VMB é esse? É o 13º! E esse corpinho está todo fechado!’
Antes de chamar Juliette, ela ainda ironizou a apresentação de Britney Spears no último Vídeo Music Awards, que virou motivo de chacota pela forma física exibida. ‘Aqui não é VMA’, declarou em referência ao prêmio da MTV norte-americana.
A cantora Claudia Leite, do Babado Novo, e Miranda, jurado do Ídolos, do SBT, apresentaram o primeiro prêmio da noite, o de artista revelação. E a estatueta foi para Fresno, que desbancou Mariana Aydar, Céu, Moptop e Bonde do Rolê.
O cantor Lulu Santos apresentou a segunda categoria da noite, a de hit do ano, que foi para o grupo NXZero, pela música Razões e Emoções. Em seguida, o senador Eduardo Suplicy, junto com o filho Supla, se arriscou no microfone com Vamo Pulá, para apresentar o show de Sandy & Junior.
Na inédita categoria aposta MTV venceu o Strike. Na categoria web hit, os apresentadores do Pânico, da Rede TV!, Silvio, Vesgo e Sabrina, anunciaram o óbvio vencedor Vai Tomar no C…, da atriz Cris Nicolotti, febre no YouTube. Pedidos insistentes partiram do público para que Cris cantasse a música ao vivo, mas ela e os integrantes do Pânico preferiram realizar a dança do siri. Juliette Lewis apresentou o show da Pitty e entoou o famoso Vai Tomar no C… A banda Red Hot Chilli Peppers levou o prêmio artista internacional do ano.
Conchavo em Paraíso
Em clima de despedida, Fábio Assunção, Tony Ramos e Glória Pires se divertem – talvez debatem ‘O Quem Matou Taís?’ – nos bastidores da gravação do show de Milton Nascimento e Jobim Trio para Paraíso, na quarta-feira. A gravação reuniu todo o elenco.
Entre-linhas
Vera Holtz gravou ontem um dos possíveis finais de sua personagem em Paraíso Tropical. Nele, Marion termina como camelô no centro do Rio.
O Canal Livre deste domingo recebe o presidente do Senado, Renan Calheiros.
A estréia da 2ª temporada de Heroes nos EUA foi acompanhada no canal NBC por 14,1 milhões de espectadores, 10% a mais que a audiência do episódio piloto da 1ª temporada.
O Universal Channel lança hoje o blog oficial da série Brothers & Sisters, o www.brothersandsisters.globolog.com.br.
Explorando o caso dos meninos mortos na Serra da Cantareira, o Brasil Urgente de anteontem rendeu 8 pontos de média no ibope e ocupou a vice-liderança das 18h01 às 19h20.
Pau Grande, terra de Garrincha, não foi ao ar Casseta & Planeta por causa das piadas de mau gosto, mas serviu de pauta para um quadro do Programa do Jô na última terça-feira.
Além de Antônio Fagundes, seu companheiro de boléia Stênio Garcia também estará em Duas Caras. Na trama, os dois serão arquiinimigos. Por enquanto, a Globo não dá sinal de continuação para Carga Pesada.
A TV Cultura inaugura no dia 6 uma mostra de figurinos que promete reunir peças originais do Castelo Rá-Tim-Bum, Cocoricó e até de Vila Sésamo. Infância e Fantasias estará na Caixa Cultural, na Sé.’
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 28 de setembro de 2007
RECORD NEWS
Bispo da Universal lança TV e ataca ‘monopólio da notícia’
‘O proprietário da Rede Record e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, aproveitou ontem o lançamento do canal Record News, o primeiro com 24 horas de jornalismo em TV aberta do país, para se dizer ‘injustiçado’ por um grupo que detém o ‘monopólio da notícia’.
Sem fazer alusão à Rede Globo, disse que ‘fomos injustiçados por muitos anos nas mãos de um grupo de comunicação que mantinha e mantém, por enquanto, o monopólio da notícia do Brasil. Daí surgiu o nosso desejo de levar ao fim esse monopólio, de dar às pessoas o direito de se informar por outro canal de notícias, de formar opinião por si mesmos. Daí surgiu nosso desejo em democratizar a informação’.
O discurso foi feito por Macedo minutos antes de acionar, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o botão que simbolicamente ativou o canal. Estavam na platéia o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Procurada, a Rede Globo informou que não vai comentar as declarações de Macedo.
Em suas falas, Lula e Serra exaltaram a estréia como um instrumento de pluralidade. ‘Um novo veículo de notícias amplia muito a diversidade de opiniões e a multiplicidade de enfoque’, elogiou Serra.
‘A estréia do canal Record News representa um grande momento para a história da televisão brasileira e contribui para que os cidadãos exerçam aquele que é um dos mais sagrados direitos democráticos: o acesso à informação’, disse Lula, encerrando o discurso com ‘Liberdade, liberdade, abra as asas sobre nós’, trecho do hino da Proclamação da República.
Comitiva
Os ministros Franklin Martins (Comunicação), Marta Suplicy (Turismo) e Orlando Silva (Esportes) participaram da solenidade. Os integrantes da comitiva presidencial não se mostraram constrangidos com as declarações de Macedo, embora evitaram comentá-las.
‘É sempre bom quando nasce uma TV. Assim há mais pluralidade’, disse Franklin, enquanto o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), enaltecia a pluralidade.
A cantora Fafá de Belém -musa do movimento pelas Diretas- interpretou o Hino Nacional. De lá, os convidados foram para um coquetel.
A Record News exigiu um investimento de US$ 7 milhões.
Macedo, que foi preso em 1992 sob acusação de charlatanismo, curandeirismo e estelionato, começou a erguer o império de comunicação da Universal no final dos anos 80, quando comprou as três emissoras de TV da Record de São Paulo. Até 94, a Record tinha seis geradoras próprias de TV. Em 95, foram mais oito. Ainda nos anos 90, a Universal investiu em duas novas redes de TV -Rede Mulher e Rede Família. Neste ano, foram compradas a TV e rádios Guaíba.’
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Petista diz que FHC não sabe se comportar como ex-presidente
‘Acusando o PSDB de fazer chantagem para aprovação da CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o antecessor, Fernando Henrique Cardoso, ‘não soube se comportar como ex-presidente, deu palpite o tempo inteiro e não se conformou’ que tenha feito o que o tucano ‘não conseguiu’.
‘FHC deveria estar feliz. Se tem um homem que deveria estar feliz, era ele, porque consegui fazer o Brasil que ele aspirou e não conseguiu’, ironizou Lula, para quem FHC ‘sabe dar muito conselho para os outros mas não fez quando estava na Presidência’.
Em entrevista ao recém-lançado Record News, Lula disse que o PSDB não apoiou a reforma política e perguntou: ‘Por que essa tentativa de chantagem agora com a CPMF?’.
Lula afirmou que é amigo dos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) e Cássio Cunha Lima (PB).
Ao falar sobre as divergências entre EUA e Venezuela, afirmou ter recomendado ao presidente George W. Bush uma política pró-ativa. ‘Tenho dito ao presidente Bush, e gravei num programa dos EUA dizendo isso: os EUA precisam ter uma política proativa para América Latina, os EUA precisam entender que acabou a guerra fria’, afirmou Lula, frisando: ‘Tenho dito ao Bush, dito a todo governo americano, que está na hora de apresentarem uma política sadia e objetiva para América Latina’.
Lula também descreveu conversas com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. ‘De vez em quando, eu falo para o Chávez e falo para o Bush. Se vocês são inimigos, por que os EUA não param de comprar o petróleo teu ou por que você não pára de vender para ele?’.’
Sérgio Dávila
Nos EUA, Lula diz que povo tem de ver TV séria
‘DE WASHINGTON – Os brasileiros têm de assistir a mais ‘televisão séria’, e o meio de comunicação carece de ‘verdade’. As afirmações foram feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo da entrevista que concedeu ao jornalista Charlie Rose, na tarde de terça-feira, em Nova York, segundo transcrição da produção do programa. O trecho em que ele diz isso não foi ao ar anteontem à noite.
A transcrição começa com Lula elogiando o programa, ‘The Charlie Rose Show’. ‘Nós precisamos assistir mais televisão séria’, diz o presidente. Lula deu a entrevista em português e foi traduzido simultaneamente para o inglês por um assessor brasileiro. A voz de Lula fica quase inaudível para que o espectador norte-americano possa ouvir a tradução. É esse texto que a Folha traduz de volta para o português.
‘No Brasil nós não temos uma verdade que permaneça na televisão’, diz. ‘Só há um programa assim [como o de Rose] na TV pública, chamada TV Educativa, em [inaudível]. Mas eles têm um programa de entrevistas chamado [inaudível] e é uma entrevista pinga-fogo, nós temos seis, sete jornalistas ao mesmo tempo entrevistando uma pessoa. Mas eu acho que nesse programa nós não temos aquela verdade.’
A partir daí começa, editado, o trecho que foi ao ar na quarta-feira na emissora semipública PBS. Nos próximos 50 minutos, Lula falaria da Rodada Doha e do aquecimento global, de temas que lhe são caros, como etanol e assento permanente na ONU, e outros nem tanto, como corrupção no Brasil.’
TODA MÍDIA
Cinco anos depois
‘Nas manchetes de Folha Online, Globo Online, UOL e outros, a bolsa ‘não pára de bater recordes’ e ontem fechou ‘na marca histórica dos 61 mil pontos’.
E Lula não pára de dar entrevistas em que só quer tratar de economia. Ontem abriu o Record News, com sinal na Net de Carlos Slim, e afirmou que FHC devia agradecê-lo, por estar realizando o que o antecessor queria e não conseguiu. Na noite anterior, falou a Charlie Rose, na americana PBS, sob salvas de que ‘o Brasil se tornou uma potência maior’ e ‘Lula também tem uma história pessoal inspiradora, primeiro líder de classe trabalhadora eleito’ etc. Na entrevista, ele foi instado a recordar sua primeira eleição em 2002.
No ‘Guardian’, Conor Foley adiantou-se e já tratou do ‘quinto aniversário da eleição de Lula’ em tom ainda mais simpático ao petista que o de Charlie Rose.
QUATRO CILINDROS
A ‘Economist’ comprou a nova tese de Jim O’Neill, que criou o acrônimo Bric para Brasil, Rússia, Índia e China, e publicou ontem que a economia global não depende mais do ‘único motor’ com que voavam os EUA. ‘A boa nova é que o mundo achou alguns novos motores poderosos na China e em outros emergentes.’ De quebra, o ‘Telegraph’ deu ontem o novo relatório do Goldman Sachs, feito pelo mesmo Jim O’Neill, prevendo desaceleração no Japão, EUA e Europa. ‘O único ponto de luz’, registrou o jornal, ‘é o quarteto Bric, com os quatro cilindros queimando’.
G-BRIC
A agência russa RIA Novosti e a indiana PTI noticiaram a convocação de um novo encontro dos países Bric para o início de 2008 em Moscou.
Foi o que anunciou o chanceler russo. E o chanceler indiano acrescentou que os Brics vão ‘intensificar cooperação’ em comércio, crescimento e sistema financeiro.
SEM CLIMA
Por outro lado, ‘Washington Post’, ‘Financial Times’ e agências acompanharam a reunião dos ‘países mais poluidores’ convocada por George W. Bush para pressionar China, Índia e o Brasil.
Sem chefes de estado, o destaque maior ontem foi a mudança no ‘tom’ da Casa Branca sobre aquecimento global.
EM FATIAS
A primeira pergunta a Lula, no Record News, foi sobre o alerta dado pelo PMDB do Senado, com o voto contrário à secretaria de Mangabeira Unger. Como era de esperar, ele fugiu de abordar a barganha de cargos. Horas antes, havia encontrado Romero Jucá, peemedebista líder no Senado, e depois chamado reunião ‘programática’ com partidos da base na terça, como ironizou o blog de Josias de Souza.
Ecoava então no Globo Online a manchete ‘Petrobras: PMDB leva duas diretorias’. Isso, só para o da Câmara.
PORTAS ABERTAS
E ontem foi o ‘FT’ que noticiou que ‘o Brasil vai abrir suas portas às empresas de petróleo em rodada de concessões que vira tirar proveito de seu recente êxito na expansão de produção e reservas’. O país ‘é fronteira inexplorada’.
VELHOS FANTASMAS
Na disputa crescente por reservas pelo mundo, o ‘El País’ deu ontem que ‘o petróleo das Malvinas ressuscita velhos fantasmas’. O governo argentino já brande alertas.
ETANOL TAMBÉM
Deu nas agências e ecoou no site Stratfor, de ‘estratégia’, o anúncio da Petrobras de que vai aprovar cinco usinas de etanol em Goiás e Mato Grosso e outras 15 até 2012.
VALE VS. PETROBRAS
Já a Vale, que vai enfrentar a Petrobras pelas concessões de gás, fechou o dia ontem em disputa com a estatal em outra frente, a Bovespa, como deu o blog de Lauro Jardim. É pelo ‘troféu de empresa com o maior valor do Brasil’.’
TELEVISÃO
Governo inicia renovação de concessões
‘‘Apesar da movimentação do PT, o governo federal já iniciou o processo de renovação das concessões que vencem no dia 5 _as da Globo em São Paulo, Rio, Brasília, Belo Horizonte e Recife, as da Band, Record, Gazeta e Cultura em São Paulo e mais dez TVs importantes.
Segundo a secretária nacional de Comunicação Eletrônica, Beatriz Silva de Campos Abreu, todas as emissoras já pediram a renovação, e a Anatel está atualmente vistoriando as instalações, enquanto o Ministério das Comunicações checa as certidões apresentadas.
O próximo passo será a elaboração de um ‘informe’ da secretaria para a consultoria jurídica do ministério. A consultoria fará um parecer e emitirá minuta de decreto presidencial, com exposição de motivos.
Todo esse processo deverá demorar mais seis meses, pelo menos. E, apesar do decreto presidencial, as concessões só serão efetivamente renovadas após aprovação pelo Congresso, o que pode levar anos.
Mas as redes não correm risco. A legislação diz que seus serviços serão mantidos, a não ser que a União não queira renovar as concessões _nesse caso, para haver a cassação são necessários os votos nominais de dois quintos do Congresso.
No próximo dia 5, PT e entidades de esquerda lançam a Campanha por Democracia e Transparência nas Concessões de Rádio e TV, com manifestações nas principais capitais.
CACHIMBO
Executivos da Record e da Net se reuniram ontem e abriram negociações para que a Record News, que herdou as freqüências da Rede Mulher, seja distribuída pela operadora. Ficou decidido que a Net manterá o canal durante um mês, enquanto houver negociações. A Record ameaçava ir à Justiça.
VÍTIMAS
Apesar da criação de quase 300 vagas pela Record News, cerca de 60 profissionais da Rede Mulher foram demitidos.
SHOW DE BOLA
A Band foi líder no Ibope ontem de manhã, durante mais de duas horas, transmitindo Brasil x EUA pela Copa do Mundo de futebol feminino. Entre 8h45 e 10h56, registrou 6,7 pontos, contra 6,4 da Record, 6,2 da Globo e 6,1 do SBT.
TV JORNAL 1
Rede que historicamente menos investe em jornalismo, o SBT terá a partir de segunda três telejornais no horário nobre (os três, diga-se, com praticamente o mesmo conteúdo).
TV JORNAL 2
Às 19h, entrará o ‘SBT Manchetes’, com Carlos Nascimento e Cynthia Benini e os mesmos comentaristas do atual ‘SBT Brasil’. O ‘SBT Brasil’ continuará às 21h40, mas só com Nascimento. E Hermano Hening reassume o ‘Jornal do SBT’, hoje com Nascimento.
PENÚRIA
Fornecedores e prestadores de serviços da TV Cultura estão há mais de um mês sem receber. A emissora diz que as 68 demissões da semana passada têm ‘como objetivo equacionar as contas da instituição’.’
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