Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Tereza Rangel

‘O da esquerda é um bull terrier. O da direita, um pit bull. A Federação Internacional de Cinofilia reconhece o bull terrier. Para ela, ele pertence à seção dos terriers do tipo bull. Sua origem é o Reino Unido. Segundo o site da Confederação Brasileira de Cinofilia, é um cão de constituição forte, musculoso, bem balanceado, ativo com uma expressão viva, determinada e inteligente. Uma característica única é sua cana nasal descendente e a cabeça em forma de ovo. Independente do tamanho, os machos devem parecer masculinos e as fêmeas, femininas. ‘O bull terrier é o gladiador das raças caninas, corajoso e fogoso. De temperamento equilibrado e fácil de ser disciplinado. Embora obstinado, é particularmente bom com as pessoas’, diz o documento da CBC. O pit bull não é uma raça reconhecida pela federação. Os Estados Unidos são o país de origem do cão. Seu nome é american pit bull terrier (daí a origem da confusão). É um cão de companhia e guarda. É conhecido por sua violência. ‘Apesar de algum nível de agressividade ser característico da raça, a United Kennel Club espera que os apresentadores cumpram os regulamentos que visam ao policiamento do temperamento do cão nos eventos promovidos pela entidade’, diz o documento da CBC.

O bull terrier levando a fama do pit bull na home page do UOL

Por duas vezes esta semana o UOL usou foto de bull terrier para tratar de reportagens sobre cães violentos. Da primeira vez, no dia 11, a foto chamava de pit bull um bull terrier. O erro foi reconhecido e corrigido rapidamente. Na segunda, ontem e hoje, a foto ilustrava reportagem do UOL News sobre lei do Rio de Janeiro que obriga o uso de focinheira para cachorros. O título era ‘No RJ, população ignora lei severa contra cães ferozes’. A reportagem cita pit bull, fila, doberman e rottweiler. Não fala em bull terrier. A reportagem confunde a lei 3205/99, que trata especificamente de pit bulls, com a lei 3207/99, que trata de cães ferozes. ‘Considera-se animal feroz, para efeito do que determina o artigo anterior, todo o animal de pequeno, médio e grande porte que tem índole de fera e coloca em risco a integridade do cidadão, mais especificamente os cães fila, doberman, rotweiller, bem como todos os cães de guarda e de ataque.’, diz o artigo 2º da lei. Talvez aqui caiba a interpretação de que o bull terrier é um cão de guarda e ataque e que, portanto, está sujeito à lei. Se for isso, a reportagem errou, ao limitar a restrição a quatro raças. De qualquer forma, a escolha da foto de um bull terrier para ilustrar uma reportagem que fala de outras raças é, no mínimo, inadequada. Vale retratação.

A confusão entre pit bull e bull terrier é comum e motivo de queixa dos donos de bull terrier.

‘É preciso fazer algo em relação à constante confusão feita pela mídia e também por este portal sobre a raça bull terrier ser sempre equiparada a outras que são agressivas. No dia 14/09/2007 foi notícia na página inicial do UOL uma imagem de um bull terrier branco como se fosse pit bull’, diz Fernando.

‘Sou proprietário de um cão bull terrier e quase fui agredido por pessoas achando que meu cão era um pit bull, já sofri ameaças de envenenamento do meu cão entre outras situações desagradáveis! Acredito na responsabilidade do portal em divulgar matérias verdadeiras e coesas; portanto, peço que, para evitar a fomentação da ignorância e da violência descabida, haja mais pesquisa e maior responsabilidade com o conteúdo veiculado no site que é acessado por milhões de pessoas’, afirmou Luiz Gonzaga.

O pedido de Luiz Gonzaga deveria ser lei no UOL. O portal, enquanto veículo de comunicação, deve informar corretamente. Cada um na redação deveria se preocupar com as informações veiculadas. Não importa que a legenda estivesse errada na origem, identificando o bull terrier como pit bull. A redação deve se informar antes de publicar qualquer informação. Se não é especialista em cães, pode recorrer a quem seja. A repetição da foto do bull terrier, dois dias depois de publicação de errata, mostra outro problema. Falta à redação uma comunicação eficiente de seus erros. Se tivesse havido, talvez o bull terrier não tivesse sido estampado pela segunda vez no espaço nobre da home page do portal. Não basta reconhecer e corrigir os erros. É fundamental aprender com eles para não os repetir.

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Replíca e tréplica (13/9/07)

Seguem a palavra da gerente geral de entretenimento do UOL, Manoela Pereira, e do editor Marcelo Negromonte, e a tréplica da ombudsman.

A réplica

‘O UOL valoriza a literatura. Mas há uma diferença enorme entre literatura e feira de livros

Talvez não tenha havido espaço maior no UOL para um evento comercial, que é a Bienal do Livro do Rio -só em bilhetes de entrada é esperado um faturamento de R$ 6 milhões. E não houve por uma decisão consciente de que a Bienal do Livro traz poucas possibilidades de uma cobertura jornalística atraente para o internauta, além dos tradicionais serviços (preço do ingresso, best-sellers a serem lançados, sessões de autógrafos, informações sobre debates entre escritores…), material que está na capa de Diversão e Arte.

Diferentemente da Festa Literária de Paraty, para a qual houve destaque em Diversão e Arte, com um índice de notícias específico -já que era um evento em que havia notícias diárias, escritores que circulavam pela cidade, troca de idéias em vários espaços da cidade etc.- a Bienal do Livro não traz muita novidade no decorrer dos seus 11 dias de duração.

Para facilitar a busca do leitor interessado na Bienal, vamos então publicar um texto com o serviço do evento e um álbum de fotos com os principais lançamentos. Esse material vai concentrar também todo o conteúdo relacionado produzido por Folha, Veja Rio, além de reportagem em vídeo do UOL News.’

A tréplica

Curioso o UOL afirmar que valoriza a literatura. O investimento na festa de Paraty só aconteceu depois de ombudsman ter alertado para a falta de um especial. O material era apenas uma lista de notícias, com bem menos investimento do que o site especial do BBB, por exemplo. Essa lista de notícias tinha pouquíssima produção própria (apenas o colunista Marcelo Tas, enviado do UOL). A maior parte do material era da Folha e de agências noticiosas. Em Diversão e Arte, não há um canal próprio para literatura. Não há uma única página própria para o assunto. Raras são as reportagens sobre o tema. Há, apenas, uma lista de parceiros que prezam a literatura. A feira do livro do Rio deve receber 600 mil pessoas. Só pelo número de pessoas valeria o investimento. O leitor merece um bom serviço do UOL. Além disso, num país de analfabetos, deveria ser notícia uma feira de livros que arrecade R$ 6 milhões só em ingressos. Jornais, como Folha e Estadão, e concorrentes, como G1 e iG, viram notícia onde o UOL viu ‘poucas possibilidades de uma cobertura jornalística atraente’.

A bienal ignorada

Começa hoje no Rio de Janeiro a 13ª Bienal Internacional do Livro. Segundo informa a Folha Online, serão 950 expositores, com um recorde de 326 autores (21 estrangeiros). Estima-se que o público será de 600 mil pessoas.

Repete-se aqui o que aconteceu com a feira literária de Paraty, ou seja, o UOL não produziu material próprio, dando a impressão de que não valoriza a literatura.

Home page e UOL Diversão e Arte limitam-se a dar o texto da Folha Online, com cinco parágrafos para lá de sucintos. A leitura do material destacado pelo UOL não traz a programação, não diz como se conseguem ingressos, não diz quanto custam os ingressos, não dá o endereço da bienal. Nem sequer dá um link para o site oficial.

Na home page, a bienal perde em importância para notícias como ‘use a criatividade para montar um menu infantil’, ‘você sabe por que os bebês agitam as pernas e braços?’, ‘grupo palestino defende mortes de Madonna e Britney Spears’.

Quem procurar informações pelo mecanismo de busca de notícias do UOL não terá melhor sorte. Só encontrará informações práticas no sexto link, atrás de ‘feira terá ‘batalha’ entre escritores ‘de guerra’’; ‘escritora vai participar da Bienal do Rio’; a coluna ‘Mercado Aberto’; ‘McEwan lidera apostas do Booker Prize’ e ‘milagre japonês’. Todas da Folha de S.Paulo. Todas fechadas aos não-assinantes.

Para UOL Educação, inexiste a bienal. Parte da concorrência tem material mais extenso sobre o evento, demonstrando maior preocupação com a cultura no país. A falta de um especial sobre a bienal e a festa de Paraty, por um lado, e a constância de especiais de BBB e concursos de miss, por outro, apontam para a priorização de eventos de alta audiência e pouco investimento jornalístico por parte do UOL.

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Renan e o orangotango (12/9/07)

UOL prioriza oragangotango e PIB à sessão do Senado

O UOL está cobrindo com lentidão e sem detalhes a sessão do Senado que vai decidir o futuro do presidente do Congresso, Renan Calheiros. A sessão, cujo início estava previsto para as 11h, foi precedida de cenas de confusão, violência. O UOL mantinha sua manchete para o resultado do PIB trimestral. Foi um dos últimos portais a alçar a pancadaria à manchete. Até agora (12h20), mantém foto de orangotango como a principal imagem do momento, quando tanto Folha Imagem como Agência Estado já disponibilizam fotos da confusão que precedeu a sessão. Todos os principais portais, exceto UOL, já disponibilizam a imagem (abaixo, de Roberto Jayme, da Folha Imagem). A manchete, agora, dá conta da briga, mas não dá conta do que está acontecendo neste momento no Senado.

De costas e barba, o deputado Raul Jungmann briga com segurança do Senado

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Sem comentários (11/9/07)

A Folha Online inaugurou neste final de semana uma ferramenta que permite a leitores comentar suas reportagens. Texto de apresentação diz que ‘para enviar o seu comentário, o leitor deve fazer um cadastro na Folha Online. O texto será avaliado pela redação antes de ser publicado. Comentários de teor ofensivo, discriminatório, que estimulem a violência ou contenham palavrões serão excluídos. O cadastro é válido e único para todos os serviços oferecidos pela Folha Online, como o FolhaInvest e Classificados.’

A redação decide quais as reportagens poderão receber comentários dos usuários, de modo a conseguir moderar a discussão. Mesmo que muitos internautas reclamem da moderação (como alguns já fizeram à ombudsman em relação ao blog), acredito que a Folha Online acerta na medida, uma vez que a política do ‘liberou geral’ premia o xingamento, o comentário preconceituoso, o bate-boca infrutífero. Um jornal com o histórico de credibilidade da Folha tem de preservar sua credibilidade e dar espaço para a opinião, mas dentro da civilidade.

A reportagem mais comentada até agora foi a do caso da garotinha Madeleine, em que seus pais, já na Inglaterra, insistem em sua inocência. É louvável a iniciativa do principal parceiro de notícias do UOL. A Folha Online poderia aproveitar e dar ‘as mais comentadas’ na caixa onde hoje há as ‘mais lidas’, ‘mais curiosas’ e ‘mais enviadas’.

Em tempos de Web 2.0 (leia aqui em PDF e em português artigo de Tim O’Reilly sobre o tema), em que a participação do usuário valoriza a simples publicação, falta ao UOL oferecer uma ferramenta que permita comentários em suas reportagens. Hoje em dia ela está restrita aos Grupos de Discussão, fórum limitado que abre espaço para a opinião do internauta a partir de um tema ou uma reportagem eleitos pela redação, mas que não permite a discussão da discussão, votação dos comentários, ou seja, uma interação de fato. Muitos parceiros oferecem a ferramenta que falta ao UOL. Muitos concorrentes também.

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Montoya e Abadia (10/9/07)

Hoje no UOL

‘As autoridades colombianas prenderam nesta segunda-feira (10) Diego León Montoya, conhecido como ‘Don Diego’, o mais importante traficante de drogas na atualidade, em uma operação de forças combinadas no sudoeste do país, confirmaram fontes oficiais.’ Segundo o UOL, ele era o chefe do Cartel Norte del Valle.

No dia 7 de agosto, no UOL

‘A Polícia Federal prendeu às 6h30 da manhã desta terça-feira (7) o traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadía, 44, em um condomínio de luxo localizado em Aldeia da Serra, na Grande São Paulo. Chupeta, como era conhecido, era procurado pelo DEA (Departamento Americano de Combate a Drogas) dos EUA por ser considerado o chefe do maior cartel da Colômbia, o Cartel Note del Valle.’

O UOL destacou a notícia tanto hoje quanto em agosto. Hoje, porém, não fez uma única referência à prisão de Abadía. Fica a dúvida: qual dois dois é o maior? Montoya ganhou o posto depois da prisão de Abadía ou sempre foi o ‘chefão’? Quem é o próximo na lista dos traficantes internacionais que estão na mira do governo norte-americano? Como fica o Cartel Note del Valle com essas duas prisões? Quem pode suceder ‘Don Diego’?

Uma das riquezas da Internet é a possiblidade de relacionar (‘linkar’) notícias sobre um mesmo assunto, enriquecendo uma reportagem. Mesmo que a ferramenta de publicação do UOL não tenha essa funcionalidade, teria sido relativamente simples à redação colocar o link da prisão de Abadía na mão, valorizando a própria notícia. Se tivesse feito isso, talvez o UOL tivesse procurado responder às questões feitas acima, dando um quadro mais completo do Cartel Norte del Valle e da ação antidrogas do governo dos EUA.

PS. Este post foi alterado no dia 11 de setembro, por conta de provocação do leitor RodrigoMilk. Trocamos o Valle do Norte por Norte del Valle.’