RETÓRICA
Por que não te acalmas?, 27/9
‘Em política, retórica e truculência não são novidades. Ao longo da história e em todos os lugares, são muitos os mestres consagrados. O século XX está repleto de personagens que usam palavras e gestos para legitimar administrações e intenções. No Brasil, por exemplo, Juscelino Kubistchek andou no primeiro Fusca da Volkswagen. Anos depois, Itamar Franco ressuscitou o velho besouro. Jânio Quadros tinha na vassoura o símbolo e ferramenta de combate à corrupção. Fernando Collor de Mello, então jovem e pretensamente moderno, inaugurou a era das camisetas-slogans, em seus joggings dominicais, que a imprensa transformava em fatos.
No âmbito latino-americano, Fidel Castro nunca abandonou a retórica militar e o uniforme da campanha de Sierra Maestra. Che Guevara levou sua boina e suas frases lírico-militares para o território da mitologia. Podemos localizar exemplos de velhos políticos europeus e também contemporâneos, como Sarkozy e Berlusconi, dentre outros, que atacam verbal e fisicamente imigrantes pobres. Bush atacou retoricamente, durante a invasão do Iraque, as batatas e o vinho franceses, quando a ação da América do Norte foi condenada pela França.
Retórica e ação política, como siamesas, andam sempre juntas. E essas dimensões da política são novidade para os comunicadores empresariais brasileiros, as quais entraram para valer em suas agendas diárias. No contexto politizado em que vivemos, tudo eleva à enésima potência os aspectos éticos e estéticos da comunicação empresarial, a partir de filtros econômicos, étnicos, ideológicos e concorrenciais. Por isso, o comunicador de empresas deve, obrigatoriamente, ter em sua caixa de habilidades, além das técnicas, os saberes relacionais, intelectuais e políticos.
Os produtos e executivos das multinacionais brasileiras percebem que não disputam apenas espaço e resultados futebolísticos. Ao chegarem aos destinos lá fora, a briga se dá pelo espaço nas gôndolas de supermercados, onde os produtos brasileiros concorrem com os nacionais, muitas vezes com qualidade e preço melhores. Empresas como Gerdau; Natura; Petrobras; Vale; Votorantim podem, potencialmente e sem aviso prévio, ter de enfrentar, além do espaço no mercado, a retórica e a ação raivosa de personagens que as usam politicamente, para objetivos não identificados, em um primeiro momento, pelo senso comum. Um exemplo recente é um fato que ocorre às vésperas de uma eleição no Equador e envolve a Odebrecht, executora da Usina Hidroelétrica de São Francisco, responsável pela geração de doze por cento da energia elétrica do país.
O presidente do Equador, Rafael Correa, utiliza em seu arsenal retórico, para justificar sua ação contra a empresa brasileira, expressões como ‘emergência nacional’, ‘mobilização nacional, econômica e militar das Forças Armadas’, ‘confisco de todos os bens, móveis e imóveis e a ‘suspensão dos direitos constitucionais de representantes da empresa’. O discurso é bem-vindo entre os que acreditam em medidas fortes e instantâneas para a solução dos problemas dos países pobres, em que falta, não só comida, mas dinheiro para investir em infra-estrutura, um capital produtivo que gera empregos e impostos, mas é arisco às inseguranças políticas e jurídicas, como as criadas por Correa.
A linguagem de Rafael Correa, com relação à Construtora Norberto Odebrecht, é chave na porta e garantia de assento no panteão dos mitos políticos, contrários aos que vêm de fora, o estrangeiro, quase sempre identificados como exploradores. Uma retórica do persona non grata, que mascara os verdadeiros objetivos. No caso do Equador, a criação de um fato político, gerador de votos para o ideário de Correa, que colhe força no senso comum que acredita em atletas das palavras, geralmente desmistificados nos capítulos finais da novela. Em breve, veremos como ele amaciará a investida na Usina de São Francisco, antes de provocar mais estrago na imagem internacional de seu país e da América de nuestros hermanos.
Para o comunicador empresarial fica a tarefa, ao final da história, remover os estilhaços das bombas de palavras da imagem e reputação das empresas em que trabalham.’
DIREITO À INFORMAÇÃO
Abraji: quebra do sigilo da fonte é ‘inadmissível’, 23/9
‘A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota com críticas à proposta do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de modificar a legislação brasileira para obrigar, em alguns casos, o jornalista a revelar suas fontes.
A exposição de Jobim ocorreu no dia 17 de setembro, na CPI das Escutas Telefônicas. O ministro defendeu ainda mudanças na legislação para punir vazadores de grampos e jornalistas que os publiquem.
A Abraji pede que ‘os congressistas brasileiros respeitem a Constituição e assegurem o sigilo de fonte’.
Leia a íntegra da nota:
‘Abraji considera relativização do sigilo de fonte inadmissível e inconstitucional
‘A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji considera inadmissível a proposta do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de mudar a legislação para obrigar a imprensa a revelar suas fontes.
‘Durante depoimento à CPI dos grampos no último dia 17, o ministro disse aos integrantes da comissão que era preciso discutir se o sigilo de fonte era ou não absoluto ou se poderia ser ‘relativizado’ em alguns casos.
‘O sigilo de fonte é um direito garantido pela Constituição e do qual o jornalista e a sociedade não podem abrir mão. A Abraji entende que o jornalista tem o direito e o dever de publicar assuntos de interesse público.
‘Em vista disso, a Abraji pede que os congressistas brasileiros respeitem a Constituição e assegurem o sigilo de fonte, um direito de extrema importância para a garantia da liberdade de imprensa’.’
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