Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Terrorismo sem maquiagem

Terroristas ou guerrilheiros? As divergências semânticas foram finalmente ultrapassadas na quarta-feira (2/7), quando Ingrid Betancourt começou a revelar as crueldades praticadas pelas FARC contra os reféns que seqüestrou. No caso da ex-candidata à presidência da Colômbia, foram seis anos ininterruptos de violência e desprezo pela dignidade humana.


Independente das causas que abraçam, guerrilheiros se caracterizam pela ação exclusiva contra objetivos militares. Guerrilheiros não atacam civis, não humilham os seus prisioneiros nem os tratam como animais. Uma guerrilha para ser bem-sucedida deve contar com as simpatias da população. Para isso é indispensável preservar vidas inocentes.


Os relatos de Ingrid Betancourt vão em direção inversa: os maus-tratos eram tamanhos que ela pensava diariamente em suicidar-se. E, no entanto, nossa imprensa preferiu designar as FARC como guerrilha. Dá mais charme. Designar um bando de criminosos apenas como um bando de criminosos tiraria da cobertura os elementos ‘românticos’ capazes de sustentá-la.


É preciso não esquecer que o jornalismo de hoje é uma forma de espetáculo. E sem maquiagens os espetáculos perdem a graça.


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