As fotos nos periódicos de todo o mundo não permitem mentir: George W. Bush é um brasileiro. As notícias também não mentem. Com origem, melhor dizendo, from Agência Reuters, assim atestou o New York Times, o Washington Post e cadeia imensa na imprensa de todo o mundo inglês, sempre com as mesmas palavras:
‘As part of that public relations effort, he plunged into a group of Brazilian teenagers and joined them in playing pulsing samba music on Friday in Sao Paulo – the president’s instrument of choice was shaking a ‘ganya’, a silver cylinder that looked like a martini shaker.’
O objeto cilíndrico que mais parece uma coqueteleira de fazer drinque martini é um, numa palavra, ganzá, ou, traduzido para uma fonética gringa, algo como um ‘gum-thu’, do qual mr. Bush talvez não tenha maior dificuldade em aprender o nome. Isso deverá ser menos difícil que shake it, agitá-lo, sacudi-lo, para acompanhar a batida do samba. Não importa. O brasileiro senhor Bush, com o devido perdão do oxímoro, é um homem simpático, humilde, camarada, numa palavra, humano, quando não está em guerra.
As fotos não mentem. Nas principais que correram o mundo, ele ri, gargalha, e como as fotos não têm som, apenas podemos imaginar que ele solta yeah, yeah, com expressões de texano que se diverte. A cara, ninguém sabe ao certo se é de dor ou de alegria, se ele gargalha ou se grita, porque someone bem poderia estar naquele momento a golpeá-lo com vigor nos testículos. Mas as fotos não mentem, ele está feliz porque o contexto na imagem é o de meninos brasileiros que sorriem. Yeah, yeah, o camarada Bush está na roda de samba. De gravata, a segurar um cilindro de prata para martini.
Inadequação e desarmonia
Em La Voz, no México, ele assim apareceu:
‘En un centro comunitario de Sao Paulo, el mandatario fue testigo de una interpretación de samba por un grupo de niños. Cansado de estar recargado contra la pared, se quitó el saco, tomó una ganza, especie de maraca brasileña, y empezó a seguir el ritmo de la música.’
Bondade do correspondente. A seguir el ritmo de la música, bondad. Estrangeiros em geral possuem o especial talento de uma profunda desarmonia com o samba. Desde a visita do príncipe Charles ao Rio que o mundo sabe disso. Mas a falta de graça natural do príncipe não abençoa a figura do brasileiro mr. Bush. Charles é um homem sem coordenação motora para o samba. Bush é um homem sem coordenação motora. Mesmo quando no papel de brasileiro.
De um modo geral, George W. Bush deixa sempre a impressão de passar pela cena do teatro como um personagem que entrou na hora errada. E quando lhe perguntam por que se encontra no palco, suas respostas deixam claro que ele não é daquela peça, nem daquele teatro, nem daquela cidade e dia. Falta-lhe mais que physique du rôle. Há uma inadequação, uma desarmonia entre o que deve representar e a sua cara, a sua máscara facial.
Sociedade da compaixão
Isso, de modo geral. De modo particular, como nesta vez de George W. Bush, o brasileiro, mostrou-se como um ator ruim e mau que sequer consegue pôr na memória uma frase. Como bem atestou o correspondente de La Voz:
‘Quizás se distrajo un poco durante el prólogo de Lula, ya que terminó su propia alocución diciéndole a su anfitrión: ‘Señor presidente, estoy feliz de que se encuentre aquí.’ Bush reaccionó de inmediato y corrigió, diciendo ‘Quiero decir, estoy feliz de estar aquí’, lo que generó una carcajada.’
Segundo informações da Agência Brasil citadas pela Folha de S. Paulo, George W. Bush teria dito a jovens brasileiros:
‘Eu acredito na construção de uma sociedade baseada na compaixão e creio que você pode mudar a sociedade [tocando] um coração de cada vez.’
Laura Bush não foi avisada
Uma frase lapidar, de se lapidar. Mirem, essa frase somente poderia ter origem em outra pessoa, em outra personagem, mas testemunhas garantem que ouviram da boca de George W. Bush. Percebem a inadequação de pessoa, cara, personagem e ocasião em um só lugar? Anotaria mais o repórter do Portal Exame, de 10/03/2007:
‘Minutos antes do início da apresentação, Bush tinha feito uma entrada triunfal na sala de computação da ONG, onde um grupo de meninos e meninas estava esperando havia mais de duas horas. Nenhum dos presentes pôde reclamar do homem mais poderoso do mundo. Ele fez de tudo para agradar. Entrou dizendo ‘Oi’ e foi logo puxando conversa com um garoto sentado em frente à tela do computador. ‘O que você está fazendo?’ ‘Como se chama?’ e ‘Quantos anos você tem?’ foram as perguntas mais repetidas à medida que ia se movimentando pela sala.’
Entendem? Hi, what are you doing, what’s your name, how old are you, são perguntas básicas quando se começa a aprender o inglês. Por coincidência, são as frases do grande presidente norte-americano, minto, do brasileiro George W. Bush, quando cumprimenta seus jovens compatriotas. Um programa de computador de nome Alice executaria coisa mais inteligente. Em dúvida, acessem este site.
Para findar, parece que não avisaram a Laura Bush que o marido nesses dias era um brasileiro. Porque assim a repórter da Folha de S. Paulo escreveu sobre a visita da primeira-dama dos Estados Unidos a uma ONG de educação comunitária:
‘Laura Bush sorriu para as crianças, conversou pouquinho. Não tocou em nenhuma.’
Brasileiros se tocam, sempre. Dos dois Bushes, Laura é quem possui o físico e o comportamento adequado para o papel.
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Jornalista e escritor