As eleições, com uma vitória esmagadora de seu partido e uma lisura duvidosa, mostram que o povo russo quer na presidência do país Valdimir Putin, mesmo que a Constituição tenha sido violentada, como se pensava.
O presidente russo venceu esse especial concurso não porque seja um escoteiro, ou um democrata, no sentido que essa palavra tem no ocidente, mas porque nestes últimos doze meses Putin, seguramente alcançou objetivos importantíssimos. As eleições foram vencidas por seu fiel colaborador Dmitrj Medvedev, o qual, passadas poucas horas de sua posse, solicitou a Putin que fosse seu primeiro-ministro e ele aceitou. Formalmente, portanto, o país do czar passa para um tipo de diarquia, na qual é somente um que conta.
Para reforçar o que ele chama o ‘vértice do poder’, Putin não hesitou em sacrificar a liberdade de informação. É verdade que hoje na Rússia existem centenas de estações de rádio; milhares de jornais locais ‘medianamente livres’ – como se alguém pudesse ser meio virgem.
Pena de Talião
Mas todas as redes nacionais e os grandes cotidianos estão sob o controle do poder. No dia 19 de dezembro, a revista estadunidense Time o elegeu como homem do ano (foi o primeiro presidente russo, nos 80 anos da revista, a ter essa escolha, os outros dois Josef Stalin [1940] e Mikhail Gorbachev [1990] o foram, mas da União Soviética). A Time não teve escrúpulos nessa eleição – basta lembrar que a polícia do czar e ‘homem do ano’ reduziu a zero a liberdade dos meios de informação (televisão, rádio e imprensa) e não teve pejo em assassinar os jornalistas mais corajosos, ou também para colocá-los na linha, num ato de baixeza e covardia. Putin levou à Rússia uma situação que não se conhecia há um século: ‘Primeiro a ordem, depois a liberdade.’
A Time se entrega de cabeça baixa à propaganda do Kremlin, onde teoricamente reina a ordem.
Por ocasião do homicídio de Paul Klebinokov, redator-chefe da edição russa da revista Forbes, a jornalista Anna Politkoskaya escreveu: ‘É inegável a estabilidade que se vive na Rússia. Uma estabilidade monstruosa, onde ninguém invoca a justiça… Onde somente um louco ousaria pretender ainda a proteção de uma força da ordem cancerosamente corrompida.. A pena de Talião, de fato, já substituiu o direito, seja nas almas, seja nas a ações. O exemplo nos é dado pelo próprio presidente.’
Anna não pôde apresentar o artigo à revista Time porque, por sua vez, foi assassinada no dia 7 de novembro de 2006.
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Jornalista