Pegou mal. Mas a blogosfera já reagiu e fortemente. Uma campanha publicitária do Estado de S.Paulo desqualifica blogs e sites, tentando se posicionar como um ponto seguro no mar de informações que nos cerca. O anúncio de TV e as peças para os meios impressos adotam tom bem humorado, puxando para situações ridículas, patéticas. Quem serve de escada para a piada são os blogs, e por conseqüência os blogueiros.
Alessandro Martins adotou um tom moderado na resposta. Para ele, ‘os blogs bons devem vestir a carapuça, sim!’. Carlos Merigo, do Brainstorm 9, critica a posição generalizadora da campanha, alertando que as coisas vêm mudando.
Bruno Alves, do BrPoint, decidiu minimizar o fato, considerando que ‘se estou incomodando, estou no caminho certo’. É uma leitura da situação, mas pode escamotear alguma arrogância e insensibilidade a críticas.
Joel Minusculi radicaliza e ataca a postura do Estadão, a quem atribui a campanha ao ‘medo da mudança e falta de tino jornalístico para com o desenvolvimento’. Discordo. O Estadão não parece ter medo da mudança, ele já prepara a mudança, seu portal mostra isso, bem como as parcerias estratégicas que tem há tempos. (Há 15 anos, participei do Simpósio Jornalismo no Século XXI nas dependências do Estadão que tinha como palestrantes gente graúda da Knight Ridder, e naquela época já se falava em jornal virtual, em suportes não físicos, em junção de mídias – a palavra ‘convergência’ ainda não era moda). O Estadão tem muito tino jornalístico, se não tivesse não estaria no terceiro século editando seu jornal, nem expandido seus tentáculos para outras tantas empresas do setor.
Embalagem ideal
O fato é que o episódio em questão gira em torno do Santo Graal da mídia: credibilidade. Isso mesmo! Nem mídia impressa, nem eletrônica quanto mais instantânea, vive sem credibilidade, sem a confiança de seu público. Para jornalistas, blogueiros, empresas de comunicação – mas também para outras tantas áreas –, credibilidade é o maior patrimônio que se pode querer ter num ambiente de competitividade. E esta é a arena da qual estamos falando: de muita gente despejando informação a todo momento e os públicos não podendo consumir tudo o que se oferece. Caetano já cantou: ‘Quem lê tanta notícia?’
Credibilidade é o nome do jogo.
Não acho que o Estadão quis ofender os blogueiros, que está com medo do avanço dos blogs ou coisa do tipo. As empresas grandes não ficam de fora do mercado, seja ele emergente ou não. No portal da Globo, da Folha, do Estadão, há blogs. Eles não ficam de fora. O que o Estadão quer é convencer o público de que oferece a informação mais confiável, de melhor qualidade, mais necessária. Talvez – num segundo momento – coloque nas ruas uma campanha em que tente convencer que os melhores blogs são os de seus colunistas e tal. Não importa o suporte, senhores! Importa que a empresa forneça o serviço, e que este aparente as melhores condições de qualidade, preço e conveniência.
O próprio publisher do New York Times já disse que não está tão certo de que esteja com versão impressa em cinco anos. O que isso quer dizer? Quer dizer que não importa o suporte, a embalagem. Importa é que as grandes empresas vendam informação, e isso pode vir embalado nas mais diversas formas: jornal, revista, portal noticioso ou blogs hiperlocais (como o fez o Chicago Tribune com o seu Triblocal).
Em suma: blogosfera, não é nada pessoal! It´s just business!!
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Jornalista, professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univale) e coordenador do Monitor de Mídia, integrante da Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi)