Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

TPM, uma luz no fim do túnel

Mulheres do Brasil inteiro podem dar uma espiada na TRIP feminina – a TPM (TRIP para mulheres). Ainda que os programas e dicas se restrinjam a São Paulo, a revista sai completamente do padrão das outras que, aliás, também são dirigidas à mulher paulista. Mesmo nas abordagens óbvias e inescapáveis, como as de beleza, o tom é mais humanista, para a mulher inteira, com outros conteúdos e prioridades. Cultura chega de um jeito diferente, sem bajular os artistas, dando dicas que partem de eixos pouco convencionais; na literatura, na música, no cinema. Traz ainda notícias sobre a questão feminina no mundo e boas entrevistas com mulheres interessantes; é enfim uma revista voltada para aquelas que estão afinadas com um caminho vicinal mais prazeroso; é um desvio da estrada de espelhos.

No especial de fim de ano, que capricharam, uma entrevista com Fernanda Lima rasga a intimidade mental da moça com perguntas inteligentes. A entrevistada ajuda, responde à altura, é uma conversa instigante a da repórter com a artista. Coisa rara de se ler na maioria das publicações femininas. A peruíce institucionalizada no segmento tem conseguido transformar até entrevistas com mulheres da política e do alto magistério em bate-papos sobre futilidades. É de corar o que tem acontecido nas conversas entre repórteres e políticas, empresárias, artistas, vencedoras de prêmios literários, pessoas femininas repletas de conteúdos que são enfrentadas com perguntas inúteis. Pois bem, sob um título que revela uma Fernanda Lima dizendo que nunca pensou em ser mais do que um rostinho bonito, a entrevista vai fundo e mostra a pessoa atrás do rosto bonitinho, que é o que interessa.

Aqueles testes abobalhados para arranjar seu homem, acabar com as gorduras e que tais, não têm espaço, os testes da TPM também fazem perguntas diferentes: Você é uma neurótica de verão? Você é consumista? Você é viciada em esmaltes?

Não dá para ler a revista com a sobrancelha enrugada, fazendo cálculos sobre o preço dos cremes e seus efeitos. O humor fala mais alto, o senso crítico não perde o foco; beleza é dar um tapa no visual, o que sai completamente do clássico joguete que as femininas convencionais fazem para empurrar a mulherada no despenhadeiro rochoso do consumismo.

Bons colunistas

Os colunistas são ótimos, vieram ao mundo para questionar preconceitos, oferecer informação, levar à reflexão. Os temas vão de ciência e sexualidade à internet, passam pelo feminismo sem negar a crise do feminismo, com o olhar voltado para os direitos das mulheres. As colunas têm um certo ar literário, não são fazeções de cabeças, picuinhas, desabafos mal-elaborados. O homem que opina é o escritor João Paulo Cuenca, e ele também vê a mulher por dentro, a pessoa viva do outro sexo.

A TPM fecha o ano cheia de graça e humor, curiosa e inteligente, politizada e humanista, mais sexual do que sensual, mais amorosa do que sedutora, bonita porque olha para dentro das gentes que, por acaso ou destino, nasceram mulheres. Mas chega disso, não estou aqui para fazer um release da revista, é só uma dica-presentinho de Natal para as leitoras do Observatório que por acaso não cruzaram com a TPM em 2005. Elas afinal têm o direito de entrar em 2006 mais bem humoradas, sem ataques de histeria, cálculos de calorias, competições e outras dores maiores fabricadas pela ditadura da vaidade que assola as publicações femininas na atualidade. Mesmo tão jovem, a TPM já não cozinha na primeira fervura, é mais madura do que as senhoras respeitáveis do meio e merece reconhecimento.

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Jornalista