A maneira sensacionalista como a imprensa está cobrindo a prisão do médico Joaquim Ribeiro Filho, a partir de denúncias do Ministério Público Federal sobre possíveis ilicitudes em transplantes de fígado, no Rio de Janeiro – com a Polícia Federal sendo acompanhada por equipes de televisão –, é preocupante e faz lembrar o episódio da Escola Base, em São Paulo.
A história pessoal do médico Joaquim Ribeiro, doutor pela Universidade de Paris com especialização em transplantes de órgãos e responsável pela primeira cirurgia para transplante de fígado no estado do Rio de Janeiro e centenas de transplantes no estado, deveria ter levado as editorias a ter um pouco mais de cuidado na maneira de divulgar o caso.
Não é isto o que vem ocorrendo, com a imprensa reiteradamente dando total espaço às histórias que têm viés sensacionalista, em detrimento de declarações que defendem o médico e rejeitam as acusações. Uma destas declarações, entre dezenas de outras, ignorada pela imprensa, é de Regina Pereira, viúva do respeitado intelectual carioca Geraldo Jordão Pereira, que foi operado por Joaquim Ribeiro.
Busca irresponsável por audiência
Regina Pereira afirma, em carta enviada e ignorada pelos jornais: ‘Ver um homem da honradez do dr. Joaquim ser levado por policiais, como se fosse um criminoso, num país em que os grandes crimes econômicos e a corrupção ficam impunes, é a mais absurda inversão de valores e nos obriga a pensar nos interesses contrariados que levaram a tal procedimento.’
Que o Ministério Público Federal, na sua ânsia punitiva, apresente denúncia; que a Polícia Federal, sem ouvir o acusado, o indicie e peça a sua prisão; que o Judiciário apressadamente mande prender é, certamente, kafkiano. Mas, a imprensa – pelo seu poder destrutivo e por casos passados – deveria ter muito, muito cuidado ao noticiar da forma que vem fazendo.
Afinal, comprovada a inocência do dr. Joaquim Ribeiro, como ocorreu com os acusados da Escola Base, como a imprensa irá restabelecer a imagem destroçada de um homem por conta da busca irresponsável por audiência ou pelo aumento na venda de jornais e revistas?
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ