Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

TV Globo vs. vereadores paulistanos

A polêmica está na mesa. A Câmara de Vereadores de São Paulo aprovou projeto de lei que limita até 23h15 o término das competições esportivas no município. A matéria foi encaminhada para o Executivo. O prefeito Gilberto Kassab tem até o dia 31/3 para vetá-la ou sancioná-la.

Na quinta-feira (25/3), o Arena SporTV debateu o projeto. Participaram o secretário de Esportes da cidade de São Paulo, Walter Feldman, o deputado estadual Luciano Batista (PSB), o vereador Celso Jatene (PTB) e os jornalistas da casa Marco Antonio Rodrigues e Paulo César Vasconcelos.

Ponto novamente para o SporTV. Embora todos saibam o interesse da TV Globo no projeto, o debate foi em alto nível. Partidas de futebol às quartas-feiras têm sido marcadas para as 21h50 e até 22 horas por causa da grade de programação global.

A emissora que detém os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, aliás, foi esticando esse horário até chegar às 22h. Se não houvesse um ‘não mais’, certamente haveria partidas começando por volta das 22h30, o que seria absurdo para com o torcedor.

A Rádio Jovem faz campanha pela mudança dos horários. Em editorial veiculado diariamente, a emissora diz que houve tentativa da TV Globo e da Federação Paulista de Futebol de manipular a opinião do torcedor, levando-o a concluir que o horário atual faz bem aos cofres dos clubes.

‘Em toda essa novela indigesta, inconsequente, que ainda envolve o povo, Câmara Municipal, prefeito, Federação Paulista de Futebol e TV Globo, um ato é indesculpável: a forma primária e leviana como se pretendeu manipular a opinião pública e a consciência de nossos vereadores e deputados’, diz trecho do editorial.

Sono tardio

A rádio conclui sua opinião afirmando que ‘a grade de uma televisão não pode regulamentar a vida, a ponto de prejudicar a paz, o sono e segurança dos cidadãos, o descanso de todos, de quem vai ao estádio e até de quem assiste TV em casa. Essa não é uma briga do bem contra o mal. É um movimento que coloca de um lado o apelo popular, as pessoas pedindo o fim dos jogos as 10 da noite, o bom senso, enfim’.

Para este colunista, o ideal seria que partidas de futebol fossem iniciadas entre 21h e 21h30, no máximo. O horário avançado não atrapalha apenas o dia seguinte de quem vai ao estádio. Impõe barreiras também àqueles que ficam em casa.

No meu caso, tenho o hábito de acompanhar o pós-jogo com entrevistas de técnicos e jogadores. Não vou para a cama antes de 1h da manhã. Quem vai ao estádio em partidas no horário imposto pela Globo, certamente irá dormir por volta das 3h. Não dá mesmo. É preciso rever os horários das partidas no meio de semana.

 

Mais imposição

Torcedores de determinados estados têm sido obrigados a engolir jogos de péssima qualidade por conta do monopólio da TV Globo na transmissão dos campeonatos estaduais.

Quem mora em Brasília e torce por equipes paulistas se vê forçado a encarar Botafogo e Olaria, por exemplo, ao mesmo tempo em que Santos e Palmeiras fazem jogo eletrizante, com sete gols. Isso ocorreu, de fato, no dia 14 de março.

A Globo se superou naquele domingo: a partida entre os cariocas foi interrompida por causa das fortes chuvas que caíram sobre o Engenhão. Ao invés de entrar com as imagens de Santos e Palmeiras, a Globo seguiu mostrando Botafogo e Olaria.

Só que, dessa vez, narrando a chuva que caía. Só faltou o repórter de campo entrevistar os funcionários que tentavam conter a força do temporal, usando rodos e muita disposição.

O mesmo ocorre em outros estados nos quais a Globo empurra jogos ruins entre equipes paulistas e deixa de lado um clássico carioca, por exemplo.

A Bandeirantes, que deveria ser o diferencial na transmissão dos campeonatos estaduais e nacionais, aceita as condições da emissora carioca e só transmite o que está programado. Quem determina o que irá passar em cada praça é a Globo.

Essa postura, que revela a crueldade do monopólio da transmissão esportiva, tem passado dos limites. Por isso, a necessidade das demais emissoras se unirem para tentar quebrar o monopólio da Globo. O torcedor não tem mais opção aos domingos e às quartas-feiras. Engole-se aquilo que lhes enfia goela abaixo. No seco. Sem choro.

 

Geografia nas redações: MS não é MT

Campo Grande é capital de Mato Grosso do Sul; Cuiabá, de Mato Grosso. Simples assim. No entanto, a população de Mato Grosso do Sul não suporta mais ver jornais, rádios e TVs trocando o nome dos estados.

Mato Grosso do Sul surgiu em 1977, após desmembramento do Mato Grosso. Mas até hoje a mídia nacional ainda comete deslize. Políticos e autoridades que vão ao estado do sul da Região Centro-Oeste para participar de eventos, trocam Mato Grosso do Sul por Mato Grosso.

Mas onde estaria o problema para essa completa desinformação? Seria o fato de haver Mato Grosso do Sul e não existir Mato Grosso do Norte? Será que isso é confuso? Certamente, não.

O problema é que os jornalistas têm preguiça de dar notícia 100% correta. Quando menos se espera, a população sul-mato-grossense, repita-se, de Mato Grosso do Sul, é surpreendida por esse erro. Essa falta de cuidado da mídia ao se referir sobre a localização correta de Mato Grosso do Sul tem levado seus moradores a discutirem se não seria melhor mudar o nome do estado (ver aqui, aqui, aqui e aqui).

Jornalistas com anos de estrada também escorregam na Geografia. No futebol, então, o desconhecimento geográfico é recorrente. A exceção virou regra. Times de Mato Grosso do Sul são identificados como se fossem de Mato Grosso.

O narrador Luciano do Valle, da TV Bandeirantes, vira e mexe troca Mato Grosso do Sul por Mato Grosso. Galvão Bueno, da Globo, também se enrola ao se referir a Mato Grosso do Sul. Apenas para citar dois dos maiores narradores esportivos do país.

Presidentes e ex-presidentes da República também trocam as bolas. Todas as falhas, claro, devidamente saudadas com ruidosas vaias pela platéia sul-mato-grossense. Os exemplos são muitos. Mas paro por aqui porque esse assunto também me chateia. Afinal, sou sul-mato-grossense de Campo Grande.

 

O craque Tostão

Tostão era craque. No Cruzeiro e na Seleção. Parou cedo, aos 27 anos, por causa de lesão em um dos olhos, atingido por uma bolada. Os gramados perderam um grande jogador, técnico e habilidoso. Ao mesmo tempo, as páginas dos jornais ganharam ótimo escritor.

Tostão é o analista esportivo que debate tática no futebol com simplicidade de dar gosto. Não faz média nem se deixa influenciar pela onda dos seus colegas de profissão.

Escreve aquilo que o torcedor quer ler. Suas colunas na Folha de S.Paulo têm sido primorosas. Que Tostão não se deixe seduzir por propostas para ‘virar comentarista’ de rádio ou TV. Que continue brindando o leitor da Folha e de outros jornais com seu texto apurado sobre futebol.

 

Eufemismo do SporTV

O apresentador do SporTV News de quinta-feira (25/3), Marcelo Barreto, usou eufemismo para suavizar gesto obsceno feito pelo atacante Ronaldo, do Corinthians, para um grupo de torcedores que o xingava na saída da Arena Barueri. O alvinegro tinha acabado de perder por 1 a 0 a partida para o Paulista, que luta para não ser rebaixado.

Ao chamar as principais reportagens do dia, Barreto tascou: ‘Ronaldo estende o dedo médio para alguns torcedores do Corinthians e pede desculpa após o incidente’.

Ora, qual o problema em afirmar que o atacante, irritado com os xingamentos que recebia, fez gesto obsceno para um de seus detratores? É como trocar ‘falecer’ por ‘morrer’ para tornar menos dolorosa informação sobre a morte de alguém.

O SporTV quis poupar o jogador corintiano. No entanto, pisou na bola ao tentar suavizar gesto bastante conhecido no mundo, mais conhecido como ‘obscenidade’, ou ‘ó, aqui pra você, ó’.

 

Narrador cobra insalubridade

Milton Leite, do SporTV, um dos melhores narradores do país, quer que seu plano de saúde aumente a cobertura para sessões com fonoaudiólogos. Milton tem sido responsável pela narração dos gols do time do Santos. Em apenas quatro jogos dos santistas, ele narrou simplesmente 27 gols.

‘Preciso ganhar por insalubridade. Minha garganta não agüenta mais esse ritmo. Sempre após as partidas do Santos, tenho que chegar em casa e fazer exercícios para não perder a voz’, brinca o narrador, que recebe aval de seu colega de transmissão, o comentarista Maurício Noriega.

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Dá gosto ouvir os comentários de Marco Antônio Rodrigues, do Arena SporTV.

Não dá para aguentar o espaço que a TV Bandeirantes oferece ao Corinthians em detrimento dos demais clubes brasileiros, em especial os de São Paulo.

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Esta coluna, em princípio, será publicada quinzenalmente, ou quando houver assuntos de interesse do telespectador, ouvinte e leitor relacionados ao trabalho da mídia esportiva. Participe encaminhando suas dicas para notas e artigos, além de críticas e sugestões para obsmidiaesportiva@yahoo.com.br

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Jornalista, Brasília, DF