Qual a moral do senhor Boris Casoy depois de ser defenestrado em pleno noticiário? Casoy, sob quem ainda hoje pesa a suspeita de ter militado no antigo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), saiu-se com a seguinte jóia do pensamento elitista ao ver e ouvir mensagem de dois garis desejando feliz ano novo aos telespectadores: ‘Que merda… Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros! O mais baixo da escala do trabalho’. E ao fundo alguém gritou para avisar que o áudio estava no ar, interrompendo a reflexão de Casoy: ‘Deu pau, deu pau’, ou seja, o áudio estava aberto, a merda estava feita.
No dia seguinte, o próprio Casoy pedia desculpas verbais pelo que tinha dito. De que adianta pedir desculpas e tudo ficar por isso mesmo? É o mesmo que o âncora tenha desmentido sua participação no CCC, nos anos 1960. Desmentiu, mas, na prática, continuou defendendo os valores do Comando.
O episódio revelou uma faceta do pensamento de parte significativa da elite brasileira, que tem profundo desprezo aos trabalhadores de um modo geral, em especial aos que exercem atividades como a dos garis.
Casoy é um digno representante de um segmento das elites, de natureza preconceituosa. É do mesmo time de um jornalista que escreveu um livro dizendo que no Brasil não há racismo e hoje, na TV Globo, cuida diretamente de todo o noticiário sobre o candidato preferencial da emissora, José Serra. Em outras palavras, tudo que sai sobre Serra na Rede Globo passa antes pelo crivo de Ali Kamel, segundo informam espiões benignos.
É uma vergonha que a TV brasileira seja ocupada por profissionais de imprensa que babam ódio, como Casoy, a qualquer tipo de manifestação das classes populares. Volta e meia, o próprio âncora da Bandeirantes é acionado para criminalizar de forma grosseira o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e qualquer outro movimento social. Ele fala com satisfação, tal como um militante ativo do CCC nos anos 1960.
Ilusão sofisticada
Os comentários contra os movimentos sociais são exatamente da mesma natureza que as reflexões feitas por Casoy sobre os garis. É o real pensamento de parte da elite brasileira, que não se conforma com o fato de o Brasil e a América Latina estarem em processo de transformação. Casoy e outros do gênero são pagos para destilarem ódio contra tudo que se aproxima de movimentos que visam tornar o país mais justo e igualitário.
Por estas e muitas outras é preciso mostrar aos brasileiros que o manipulado noticiário jornalístico das principais emissoras de televisão faz parte do jogo da dominação. Nada é por acaso, mesmo a reflexão de Casoy ao expor o seu verdadeiro pensamento de servidor incondicional do poder econômico.
O âncora poderá ser gradativamente jogado fora pela cúpula da Band, porque pega mal para ela mostrar uma verdade que diariamente os big shots midiáticos tentam maquiar de forma sofisticada para iludir os telespectadores.
Será que o Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo e a Federação Nacional dos Jornalistas não vão se pronunciar sobre um fato que fere a ética dos profissionais de imprensa?
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O pedido de desculpas de Boris Casoy (01/01/2010)
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Jornalista, Rio de Janeiro, RJ