O tempo é curto, o chefe cobra as matérias e o jornalista pensa lá com seus botões: não vai dar. Como apurar tanta coisa, ir a tantos lugares, entrevistar tanta gente e redigir um bom texto antes do jornal fechar? Olha ao lado e encontra a tábua de salvação: o release recém-enviado pela assessoria de imprensa que dá conta da pauta destinada pelo editor ao atarefado profissional.
A cena acima é fictícia, mas acontece, de fato, em redações de todo o mundo diariamente. O que muda é a resposta de cada profissional ao deparar com o dilema: apurar de forma independente a pauta que lhe cabe tomando o material enviado pela assessoria apenas como apoio e enfrentando o risco de atrasar a matéria ou eleger o release como base principal da peça jornalística que está prestes a escrever?
Os preceitos do bom jornalismo estão, claro, na primeira opção. Os casos de falta de ética – pois bom jornalismo é jornalismo ético – são, contudo, numerosos.
As assessorias realizam trabalho legítimo. São pagas para divulgar ações, opiniões e realizações de seus clientes, sejam eles pessoas físicas ou organizações públicas ou privadas. Atendem ainda o interesse da sociedade democrática que quer e precisa conhecer e entender as posições dos mais variados agentes sociais para poder, então, concordar ou não com tais posicionamentos.
Espírito crítico
O envio de releases às redações, a intermediação e facilitação do contato dos jornalistas com o assessorado, o esclarecimento de demandas da imprensa em relação a seus clientes são práticas inerentes ao trabalho do assessor de imprensa. E práticas éticas, desde que as informações que a assessoria quer ver divulgadas sejam relevantes não apenas para o assessorado, mas também para o público do veículo.
O assessor não espera que o texto por ele confeccionado para envio à imprensa seja utilizado na íntegra. Deve estar consciente que ao distribuir aos veículos o material que preparou deixa, em última análise, de ser dono de suas intencionalidades sem, no entanto, deixar de ser responsável pelas informações ali contidas.
É justamente por perder o controle das intencionalidades textuais do que produz que é um equívoco afirmar que as atividades das assessorias são propagandísticas. A propaganda é planejada e confeccionada de modo que seus objetivos sejam, além de previamente estabelecidos, inteiramente controlados por seus planejadores.
As atividades das assessorias de imprensa, não. Elas tornam-se propagandísticas apenas quando usadas pelo mau jornalismo; aquele que não se preocupa em aprofundar debates, em analisar atentamente e contribuir para o desenvolvimento do espírito crítico da sociedade. Este tipo de jornalismo não interessa nem às assessorias, nem aos jornalistas dignos da profissão e muito menos à sociedade democrática.
******
Jornalista, Niterói, RJ