Saturday, 28 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Um espetáculo midiático?

Os 33 mineiros que ficaram presos a mais de 600 metros de profundidade na mina San José, no Chile, desde agosto deste ano, é mais um caso para debatermos a sociedade do espetáculo da mídia em relação às tragédias.

As boas notícias ganham espaço no varejo social e já fazem parte do gosto popular definindo uma nova geração de espectadores. Acostumados com plantões e boletins noticiando sempre o caos, desta vez é surpreendente analisar o novo enfoque. O papel da mídia não foi acusar, culpar, nem tão pouco dar ênfase na investigação do ocorrido, mas averiguar e mostrar o passo-a-passo para a conclusão do objetivo final: o resgate dos mineiros chilenos.

As emissoras de TV e rádio foram intimidadas pelos espectadores sedentos de informação e pela concorrência a transmitir a cobertura completa. No início, uma transmissão tímida. Depois ocuparam as 24 horas da programação com flashes instantâneos ou com noticiários especiais criados em horários de grande audiência.

A pressão e a crescente expectativa da mídia faz com que a imprensa acompanhe casos trágicos, transformando-os em reality show. Aproximadamente mil e quinhentos jornalistas de todo o mundo, entre eles repórteres e cinegrafistas, acompanharam in loco, juntamente com as famílias, por mais de dois meses, o confinamento dos mineiros, registrando cada detalhe que pudesse se tornar uma nova pauta para criação de matérias a cada dia. Durante as coberturas, as tentativas incessantes de narrar e descrever fatos que são auto-explicativos, sem o acréscimo de novas informações, tornava este tipo de jornalismo boçal e barato. Falta conteúdo e peca na credibilidade.

Mais tecnologia e segurança

Quando utilizado dentro dos parâmetros éticos e respeitando limites, o sensacionalismo criado pela mídia pode ser co-autor de grandes realizações. Neste caso, alertou o governo chileno sobre protrair ações impedindo assim de procrastinar o resgate dos confinados.

‘Estamos bien en el refúgio los 33.’ Esta foi a frase enviada pelos mineiros após 17 dias presos na mina, e posteriormente lida por Sebastian Piñera, presidente do Chile. Após o resgate, a frase que deu fim à agonia das famílias que estavam sem informações e motivou quem possuía esperanças, entrará para a história. Uma réplica foi enquadrada como recordação do acontecimento. Não só a frase, mas também todo o caso em si: há produtores interessados em lançar um filme contando a história dos sobreviventes chilenos.

Camisas autografadas por jogadores de futebol, rosários abençoados pelo papa Bento 16 e demais presentes. Os discursos e aparições premeditadas do presidente Sebastian Piñera, a preferência para a imprensa chilena em determinados momentos, o treinamento recebido pelos mineiros para as futuras entrevistas e coletivas, as promessas de indenizações e menções honrosas foram grandes estratégias utilizadas pelos profissionais de assessoria de imprensa e relações públicas para se trabalhar a comunicação institucional do país, que se encontrava em acentuada crise.

Enfim, o mundo espera que o caso dos mineiros chilenos sirva de modelo e que novas medidas de segurança sejam adotadas para a prevenção de acidentes. É preciso que haja uma revolução na área da mineração, principalmente nos quesitos de tecnologia e segurança.

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Estudante de Jornalismo, Uberaba, MG