Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Um minuto de silêncio pela moralidade brasileira

Diante dos vários escândalos ocorridos recentemente no Senado, o que inegável e infelizmente vem se tornando praxe na estrutura político-administrativa nacional, faz-se mister tecer breves comentários acerca do fato relacionado ao deputado Edmar Moreira, o qual está em evidência nos noticiários há uns dois meses por ostentar literalmente um castelo em seu patrimônio pessoal.

É consabido que o aludido parlamentar, além do exposto anteriormente, destinava as verbas indenizatórias a que tem direito como ‘representante popular’ para cobrir gastos pessoais alheios aos inerentes de seu cargo, notadamente os vinculados à segurança particular. Desse modo, como todos nós sabemos, Edmar Moreira foi levado a julgamento pelos seus colegas de parlamento na semana retrasada e, incrivelmente, foi absolvido pelo escore de 9 votos contra e 4 a favor pela cassação de seu mandato. No mínimo, para ao menos não passar despercebido pela sociedade, haveria de cumprir alguma modalidade de punição – por exemplo, uma suspensão, como muitos ‘lobistas’ preconizavam. Nem isso.

Mais uma vez nossos canais de veiculação de informações fizerem um estrondoso alarde sobre o acontecimento em tela; mas, pasmem, essa ufania assemelhou-se àquelas tempestades de verão, especialmente as que a cidade do Rio de Janeiro está sujeita no período de janeiro a março.

Um adendo aos manuscritos

Ora, mas por que esta comparação? Simples. Aparentemente, a maior parte da mídia transparece não estar mais disposta a minudenciar questões dessa magnitude como em anos pretéritos, exemplarmente nos moldes do caso Maluf (envolvido no superfaturamento de obras em sua gestão no governo do município de São Paulo) em que foi vislumbrada uma cobertura tão intensa que até hoje a população, mesmo que haja ainda alguns indivíduos alienados ao ocorrido na Prefeitura da cidade paulistana nos anos 90, recorda-se das astutas intenções do então governante municipal.

Será por que episódios desse tipo transformaram-se realmente em algo tão comum em nosso ambiente socioeconômico ou por que divulgações relacionadas aos membros do poder público não estão dando mais um incorporado índice de audiência? Eis o dilema.

No entanto, não é tarefas das mais difíceis inferir que estamos inseridos num contexto de promiscuidade, seja por parte daqueles que deveriam agir em prol da população com a produção de leis e ações de interesse coletivo, seja pelos que possuem a incumbência moral de combater esses devaneios amorais mediante seus recursos difusos.

Aliás, por falar em moral, se porventura o ilustre filósofo prussiano Emannuel Kant estivesse vivo para acompanhar todo esse show de malabarismos perpetrados pela mídia especializada e pelos agentes políticos comentados em linhas precedentes, certamente teria de reescrever seus manuscritos em relação à moralidade inserindo um adendo nestes, de forma a constar, toda vez que nossos representantes celebrarem julgamentos sobre si mesmos, um minuto de silêncio pelo falecimento da composição moral política do Brasil. Com efeito, não resta dúvida de que Kant deve ‘estar se revirando’ no túmulo a cada vez que algo envolvendo este tema ocorre…

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Administrador de empresas, João Pessoa, PB