Admito que até poucos dias atrás nunca ouvira qualquer música de Lady Gaga. Ou melhor, talvez até já tivesse ouvido, mas não conscientemente. Confesso, também, que achei bastante esquisito o seu nome, quando o ouvi pela primeira vez.
Gaga? Estranho, para uma cantora…
O que me chamou a atenção na carreira desta cantora e compositora de apenas 23 anos é a sua relação comercialmente vitoriosa com as mídias digitais. Entro no Facebook e encontro 5,2 milhões de fãs. Vou ao seu Twitter e lá estão 2,8 milhões de seguidores. Fico sabendo que a cantora foi a primeira a atingir a marca de 1 bilhão de acessos na web. Repito: 1 bilhão de pessoas acessaram seus videoclipes. Fãs, internautas, seguidores: leia-se, consumidores.
Com este relacionamento direto com o público, a cantora vendeu mais de 20 milhões desingles e 8 milhões de álbuns na internet. Seu público é jovem e os jovens geralmente não compram música, como sabemos. Eles a baixam, de graça, na rede. Mas compraram e o fenômeno despertou a atenção de anunciantes que desejam que ela faça o mesmo por suas marcas. O tino comercial da roqueira excêntrica já ultrapassa o mundo da música. Ela também está no milionário negócio dos jogos eletrônicos. Num deles, o ‘Glam Gaga’, os jogadores – especialmente meninas – decidem o figurino exótico da cantora. E engordam os cofres da estrela.
Vendas caem 43% em quatro anos
Recentemente, a vocalista da banda Pato Fu, Fernanda Takai, se disse surpresa com a velocidade das mudanças: lançou o primeiro disco em vinil, os seguintes em CD e não sabe em que suporte lançará o décimo, que está por sair. Diz ela: ‘Aconteceu tudo muito rápido’. Fernanda sabe que não adianta se queixar, tem que se adaptar e ter boas ideias. Sabe, igualmente, que as mudanças tecnológicas também trazem vantagens, como a possibilidade do mundo ouvir sua música imediatamente após o lançamento.
É neste mundo, em que os bits viajam em fração de segundos, que artistas, profissionais e executivos tentam reaprender a tocar suas vidas e negócios. Não parece fácil. Antes da explosão da internet as regras estavam estabelecidas, negócios e direitos autorais garantidos. Com as cópias gratuitas e a pirataria, gravadoras entraram em declínio, locadoras de vídeo fecharam as portas e artistas perderam a renda. O mais recente relatório da International Federation of Phonografic Industry aponta que no Brasil as vendas de disco sofreram uma redução de 43% entre 2005 e 2009.
Novas formas de gerar dinheiro
O alemão Gerd Leonhard, músico e especialista em mídias digitais, diz que é uma batalha perdida debater maneiras de conter as cópias gratuitas. ‘É preciso tornar legal o que cerca de 4 bilhões de pessoas já estão fazendo.’ Uma das formas que aponta é a de incluir o custo da música no pacote de acesso à internet. Outra: usar a publicidade para arcar com o custo deste oferecimento ‘gratuito’ ao internauta. ‘O principal é que o consumidor sinta como se fosse de graça, a exemplo do que ocorre com o rádio.’
Já perdemos as contas das montanhas de CDs e DVDs piratas apreendidos e destruídos pela polícia. Vemos sempre na televisão. Em que isso mudou o rumo das coisas? A questão é que as pessoas têm a tecnologia e estão no controle da situação. E nunca se ouviu tanta música no mundo como agora. Portanto, o que se deve fazer é encontrar formas de gerar dinheiro a partir do novo comportamento do consumidor e garantir a continuidade da produção. Lady Gaga descobriu. Vale a pena conhecê-la.
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Jornalista, editor de Séries Especiais, chefe de reportagem, TV Gazeta, Vitória, ES