Parece incrível, mas a América Latina produz cinema. Mais espantoso ainda é dizer que três países latino-americanos se enquadram em pólos regionais de produção cinematográfica: México, Cuba e Argentina. E o Brasil, para deixar o leitor atônito, encabeça a lista dos países considerados pólos mundiais de ‘fabricação de filmes’.
Acredito que os brasileiros desconheçam tanto a importância do cinema nacional quanto o crescimento do cinema dos países vizinhos. Há um motivo para tal falta de saber. É o chamado ‘efeito blockbuster‘. Os blockbusters norte-americanos – não importa se comédia grosseira ou terror com temas saturados – estão espalhados em todas as vídeolocadoras brasileiras. E aqueles que adoram filmes-passatempo acabam contaminados com a disseminação do cinema comercial. A invasão não cessa. Gera lucro aos investidores e entretenimento ao público.
E para trás ficam o cinema brasileiro, argentino, japonês, italiano, francês, cubano e até o mexicano. A verdade já foi escrita por críticos há muitos anos: brasileiros não assistem a filmes nacionais e sequer ‘perdem’ tempo com cinema de arte, cada vez mais escasso e de pouca aceitação popular. O hábito de ver e rever os mesmos tipos de filme bloqueou a possibilidade de o público adotar novo repertório cinematográfico e, conseqüentemente, barrou a capacidade crítica dos telespectadores.
Sempre filmes de qualidade
E justamente no ideal de valorização artística e estética é que se enquadra o cinema latino-americano. Argentina, Cuba, México, Peru e Equador resistem ao padrão cinematográfico imposto pelo modo de produção estadunidense e criam filmes retratando o espaço e o ambiente de sua população, ou seja, os cineastas valorizam o povo e a terra em que vivem, entrelaçando temáticas simples e de fácil interpretação.
O cinema latino-americano, pouco experimentado por nós, brasileiros, não cede às pressões do cinema comercial. Por outro lado, são inexistentes a divulgação e a exibição das produções pelos cinemas afora. Para assisti-los, apenas em salas especiais nos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Filmes latino-americanos, assim como os cinemas oriental e europeu, são desprezados, reflexo de que a maior parte da população – e lembrando que são os jovens que vão ao cinema e ‘levantam’ bilheteria – ainda prefere filmes comerciais banais, com histórias repetidas, a experimentar filmes cultuados.
Apesar de os brasileiros terem um contato vil com o cinema vizinho, os filmes estão ali, vivos, para públicos restritos, cada vez mais exigentes e inteligentes. Diretores promissores, envolvidos em projetos relevantes, não estão preocupados com a imposição que vem de cima e continuam a árdua toada de produção do bom cinema. E ao público diminuto, o valor é outro: sempre filmes de qualidade.
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Jornalista, professor de Comunicação, Redação Jornalística, Teoria da Comunicação e História do Cinema em faculdades e unidades do Senac, pesquisador de cinema, pós-graduando em Artes Visuais e Intermeios na Unicamp, Catanduva, SP