Os jornalistas do Rio Grande do Norte estão em campanha salarial. Os profissionais da mídia e da imprensa desse estado recebem o menor piso salarial do país. Um salário de 900 reais, quantia irrisória para se desenvolver uma profissão que precisa de formação constante. Para se ter ideia, um gari, em Natal, recebe mais que mil reais. Não é que os garis natalenses ganhem muito; são os jornalistas quem ganham pouco.
Além dos protestos que o Sindjorn vem realizando, ora em frente à Delegacia Regional do Trabalho (DRT), ora com apoio do vereador George Câmara (PcdoB), da capital potiguar, ou de dois ou três deputados estaduais, os jornalistas utilizam uma fita preta em alusão ao luto que a categoria vive por receber o indigesto título de piso salarial mais baixo do Brasil.
Para aumentar o descaso, o Sindicato dos Jornais, Televisões e Rádios propuseram um aumento de 3,5% que, em termos reais, seria nada mais nada menos que 31,50 reais. O Sindjorn propôs um piso único de 1.500 reais e mais quarenta e cinco cláusulas, entre elas a de um vale-refeição no valor de duzentos e vinte reais. O sindicato patronal, além de negar as quarenta e cinco cláusulas e de oferecer um aumento insignificante, propõe o fim das folgas semanais, desconsiderando um direito constitucional. Como bem disse o deputado estadual Fernando Mineiro (PT), essa proposta é pré-CLT.
Quem vigia o quarto poder?
Além dessas ocorrências, está o mais grave delas: o silêncio dos meios de comunicação. Usando uma metáfora, utilizada por Nelson Rodrigues para descrever momentos de ‘tragédias’ futebolísticas, a grande imprensa do Rio Grande do Norte faz um silêncio ensurdecedor. Fora alguns veículos de comunicação alternativa, como o site de mídia alternativa foque.com.br, o site nabocadomundo.com, o blog criado pelo Sindjorn (clique aqui) para divulgar o movimento e as TVs Câmara e Assembleia, o silêncio dos demais meios revela um fato que até então a maioria dos jornalistas do RN não haviam percebido.
Millôr disse, certa vez, que ‘democracia sou eu mandar em você. Ditadura é você mandar em mim’. Pois é. A liberdade de imprensa é referente, única e exclusivamente ao dono do jornal, da rádio ou da televisão. A ‘liberdade’ que o jornalista utiliza é a liberdade em forma de concessão que o patrão concede. Diferente do governo federal, o patrão revisa para quem ele renovará a concessão de liberdade. Podemos dizer que o patrão cassa a liberdade do jornalista, quando ele, patrão, bem entende.
O silêncio que faz a grande imprensa norteriograndense, principalmente a de Natal, revela uma obscuridade sem tamanho da relação patrão-funcionário. Relação essa que, segundo Karl Marx, movimenta a sociedade capitalista. Quando Traquina pergunta quem vigia o quarto poder, ele não se refere, ao menos em meu entendimento, ao profissional jornalista, mas, sim, totalmente ao proprietário da concessão pública de rádio e televisão ou do jornal.
A liberdade de imprensa
Quem vigia as mazelas do quarto poder? Ninguém. Pois há jornalistas que manipulam notícias a mando dos seus chefes, como alguns relataram em audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores e em discurso ao logo da campanha. Sendo justo, jornalista que manipula fatos a mando do dono do veículo de comunicação também é culpado por tal fato. Não se trata de sermão e muito menos de julgamento moral, mas o compromisso do jornalista é com a verdade. O fato é que cada um faz as coisas de acordo com sua necessidade, realidade ou oportunidade.
O silêncio ensurdecedor da imprensa norteriograndense não é inesperado. Como bem disse Assis Chateaubriand, ‘quer ter opinião, compre um jornal’. A campanha salarial dos jornalistas do RN pode não sair vitoriosa, mas serviu para três coisas: reunificar a categoria em volta do Sindjorn; baixar a crista de 90% dos jornalistas que se sentem a cereja do bolo por trabalhar na ‘grande’ imprensa; e, principalmente, para demonstrar que os veículos de comunicação se preocupam apenas com seus lucros e que não movem um centímetro para melhorar a vida de seus jornalistas.
Por fim, a liberdade de imprensa não é dos jornalistas. Essa tal liberdade de imprensa é a liberdade do patrão em imprimir e estampar na capa do jornal, aquilo que interessa a ele e ao seu grupo político-empresarial.
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Jornalista, Natal, RN