‘O processo de escolha foi entregue pelos Mesquita ao professor Carlos Alberto Di Franco, que dá aulas e escreve sobre ética no jornalismo, um inabalável cavalheiro que representa no Brasil a Universidade de Navarra, pertencente à prelazia da Opus Dei. Sempre tive com ele excelentes relações, até porque fui eu quem o indicou para chefiar uma espécie informal de conselho editorial, criado para analisar o conteúdo do jornal em reuniões semanais. Dias antes do anúncio do sucessor, tentei conversar com o professor Di Franco por telefone, para tratar de assuntos de interesse comum. Contrariando seus hábitos, o professor não atendeu à ligação nem me deu retorno.’ [Sandro Vaia, diretor de redação do Estado de S. Paulo (2000-2006)]
Este é um trecho do depoimento que se estende ao longo de oito páginas da edição de setembro da Piauí, o excelente mensário que agora chega à sua 12ª edição.
‘Detrás das dunas do Estadão‘ é um fascinante relato sobre os bastidores do jornalão paulista num período crucial da sua existência. Começa com o romance do antecessor, Antônio Pimenta Neves, com a subordinada Sandra Gomide, seu assassinato, relata os conflitos entre as cinco alas da família Mesquita – proprietária do jornal – que jamais se entendiam, oferece deliciosas pinceladas pessoais e completa com dois episódios marcantes da política brasileira: as denúncias do caseiro Francenildo dos Santos contra o ministro Antônio Palocci e a trágica noite de 29 de setembro de 2006, quando um Boeing da Gol desapareceu dos radares e iniciou-se o que Sandro Vaia denomina de ‘tropel militante que freqüenta a constelação de blogs da internet tecendo fabulosas teorias conspiratórias’.
No mesmo estilo sereno, preciso e por isso mesmo apaixonante, descreve a sua demissão do jornal junto com Elói Gertel e confirma o que este observador denúncia há uma década: quem manda no Estadão é a Opus Dei na pessoa do ‘inabalável cavalheiro’ Carlos Alberto Di Franco, ‘que dá aulas e escreve sobre ética no jornalismo’. E mais não precisa ser dito.