Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma entrevista com pose de rei

O poderoso chefão do futebol brasileiro, excelentíssimo senhor presidente Ricardo Teixeira, deu uma entrevista polêmica à revista piauí. Como se diz popularmente, rasgou o verbo, disse uma série de impropérios, porém não disse nada que uma pessoa com o mínimo de discernimento político e futebolístico já não tenha questionado. Assuntos como: a relação com o maior conglomerado de comunicação do país, as denúncias de corrupção, o acúmulo das funções de presidente do comitê organizador da Copa do Mundo e da CBF e até sobre a Copa do Mundo de 2014.

Teixeira posou de rei, disse que manda e desmanda no futebol. Frases como: “Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da seleção, a CPI da Nike e a do futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo da mesma patota, UOL, Folha, Lance, ESPN, que fica repetindo as mesmas merdas.” “Caguei montão [para as denúncias da imprensa]. O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: `Quero igual.´ O negro não quer que o branco se foda e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria.” “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo.”“Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”

Tais declarações caíram feito uma bomba na mídia esportiva a Rede Record dedicou mais de vinte minutos da sua revista eletrônica semanal, esmiuçando a entrevista e aproveitando para acirrar a sua guerra pela audiência contra a Rede Globo.

“Galinhas mortas”

Nem se pode dizer que a máscara de Ricardo Teixeira caiu, pois não é novidade para ninguém o que está sendo questionado e nem as tais declarações, assim como não é estranho que jornalistas tão críticos como Renato Maurício Prado e Fernando Calazans, não digam nada sobre o assunto em suas colunas no jornal impresso. Afinal de contas a regra é clara: “Manda quem pode e obedece quem tem juízo.” Como costumam dizer os técnicos com seu mais novo motivo para explicar as derrotas para os times de menor expressão, “não existem mais bobos no futebol”. Peço licença aos “professores” para dizer o mesmo, não queiram nos fazer de “bobos”, ninguém acredita que a CBF tenha se enganado ao adquirir um terreno por 26 milhões de Reais na Barra da Tijuca, que está em disputa judicial pela posse com uma construtora paulista, que os bens adquiridos e a vida portentosa correspondam ao salário por ele recebido, assim como ninguém acredita no enriquecimento instantâneo de políticos, algo que já acontece há décadas no país, mas que retoma as principais manchetes devido aos últimos acontecimentos.

A Rede Record deveria deixar de lado o “denuncismo”. Essa briguinha particular com a Rede Globo não leva nada. A função do jornalismo não é a de caçar as bruxas ou eleger vilões. É necessário aprofundar as questões, jogar luz no assunto mobilizando a opinião pública e, assim, produzir massa crítica para que se fundamente questionamento. É estranho ver o Paulo Henrique Amorim “cair de pau” no Globo. Será que no período em que esteve do outro lado ele não sabia a dinâmica e do funcionamento de sua antiga casa? Todos sabem que o ideal de ego da Rede Record é se tornar a nova Vênus Platinada da comunicação. Não existe diferença entre as duas programações, portanto fica parecendo choro de perdedor, de quem quer se apresentar como uma vítima preterida pelo sistema.

Até o grande Romário, que foi artilheiro e que nunca foi ingênuo – esteve em Zurique naquele trem da alegria que foi “representar” o Brasil dentro da sede da Fifa, no dia da escolha da sede da Copa 2014, e agora deputado federal – disse que se encontra estupefato, pois percebeu que essa Copa do Mundo não será a melhor e nem a maior de todos os tempos, como ele havia dito anteriormente. Será que o “Peixe” realmente acreditou nessa possibilidade?

Políticos, grandes conglomerados de comunicação e dirigentes de futebol, por favor, não nos façam de “galinhas mortas.”

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[Thiago Corrêa Silva é estudante de Jornalismo, Rio de Janeiro, RJ]