Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma foto e mil erros de apuração

O ombudsman do The New York Times, Clark Hoyt, tratou de uma foto ‘que vale por mil palavras’ em sua coluna de domingo [16/9/07] e de uma sucessão de erros de apuração. Trata-se de uma fotografia de John F. Kennedy Jr., então com três anos, saudando o caixão de seu pai. A imagem estava acompanhada do obituário de Joe O’Donnell, fotógrafo da Casa Branca que havia supostamente a havia registrado. O’Donnell morreu aos 85 anos e seu obituário foi publicado na edição de 14/8.

O jornalista Lewis Lord, no entanto, estranhou o fato ao folhear o jornal. Dois dias antes da publicação do obituário, ele revia uma brochura da United Press International (UPI) de 1963, em que era mostrada a mesma foto publicada pelo NYTimes, com crédito a Stanley Stearns. Lord enviou então um e-mail a Gary Haynes, ex-editor de fotos do NYTimes, e a um colega da UPI. Haynes contactou Tom Bodkin, editor assistente do jornal, que lhe disse que alguém poderia ter escolhido a foto errada para ilustrar o obituário de O’Donnell.

Uma série de enganos

A verdade revelou-se pior. O diário – assim como a Associated Press, revista Time, CBS News, dentre outros – confiou em informações de um homem que exagerou sua história de vida – o próprio O’Donnell. ‘Foi nosso pior pesadelo’, conta Bill McDonald, editor de obituários. A máxima jornalística ‘Se sua mãe lhe diz que te ama, cheque’ não foi seguida e várias informações não foram apuradas.

O primeiro a informar a morte de O’Donnell foi Lon A. Bouldin, relações públicas de Nashville – cidade natal do fotógrafo –, conhecido na redação e considerado como uma fonte confiável. Bouldin foi consultor de uma galeria de arte que exibia as fotografias de O’Donnell. McDonald passou a pauta para Douglas Martin, escritor de obituários há muito tempo no diário. A AP mandou seu próprio obituário, notando que O’Donnell foi um dos diversos fotógrafos no funeral de Kennedy.

Martin encontrou outras evidências do trabalho de O’Donnell: fotografias registradas à venda na galeria de arte; livro de fotografias de O’Donnell sobre Hiroshima e Nagasaki; entrevistas e artigos sobre ele. O jornalista ainda tentou checar em outros lugares para o qual O’Donnell trabalhou, mas, devido ao prazo curto para a entrega do texto, não o fez. Se Martin tivesse entrevistado colegas do fotógrafo, os comentários poderiam enriquecer o obituário e talvez o erro não tivesse sido cometido. Cecil Stoughton, que era fotógrafa da Casa Branca no período em que O’Donnell alega ter trabalhado no local, não se recorda dele.

Berman checou a veracidade das cópias das fotos enviadas por Bouldin com a viúva de O’Donnell e com a galeria de arte. Ele, no entanto, não checou no arquivo digital do diário. Se tivesse feito, teria visto os créditos corretos. O NYTimes levou mais de três semanas para publicar a correção.