O Brasil está cheio de veículos alternativos que não cobrem todo o território nacional por não disporem de investimentos em impressão e distribuição. No entanto, esses veículos tímidos promovem, nas cidades e regiões que atuam, uma contribuição admirável para a verdadeira função do jornalismo: a de intérprete [Precision Journalism: A Reporter’s Introduction to Social Science Methods, de Philip Meyer, 1973] da sociedade. Poderia citar vários veículos, alternativos, sim, porém influentes, que deixam muitas revistas com abrangência nacional e internacional com vergonha do próprio histórico. Ganhar dinheiro é indispensável, mas quando apenas esta filosofia é praticada, rever o conceito da profissão é preciso e urgente. Podemos até aceitar este método, mas chamá-lo de jornalismo é algo indevido.
Em tempos de transição, qualquer debate é pertinente. O compromisso, no caso das revistas comerciais – explosão cada vez maior em qualquer município do Brasil –, é com o anunciante, não com a sociedade. Com as revistas e jornais alternativos é diferente. O compromisso é com a experimentação.
Edição comemorativa
Um exemplo de periódico alternativo fora dos grandes centros com importante contribuição para a iniciativa de debates sociais pode ser encontrado na revista Griffe. Há três anos nascia em Jundiaí, no interior de São Paulo, uma revista diferente. Feita para quem aprecia arte e cultura, surgiu para ser um canal de novas publicações, de novos autores. Fora do eixo Rio-São Paulo, mas em sintonia com o mundo e correspondentes em Londres e Nova York. Com uma tiragem intimista de apenas de 2 mil exemplares, nem por isso menos relevante, aos poucos a revista foi crescendo, conquistando seu público e reunindo também grandes nomes da literatura e do jornalismo nacional. Está se tornando referência e se transformando em veículo de debate sobre diversos problemas na sociedade, em especial na área da comunicação social. Com abordagem crítica, a revista Griffe comemora seu terceiro aniversário com o lançamento do primeiro livro de debates sobre comunicação, responsabilidade social e comportamento. Uma coletânea de ensaios assinados por profissionais das áreas de comunicação e professores de jornalismo de ensino superior.
Com prefácio do professor e escritor Douglas Tufano, o livro Griffe Ensaios, edição comemorativa dos três anos da revista Griffe, reúne 95 fotografias em cinco ensaios fotográficos: moradores de rua, Jundiaí, street art, São Paulo e Londres. Outros assuntos abordados no livro são arquitetura, turismo, literatura e progresso.
Um mercado incontestável
‘A relação entre os homens e tudo que ela modifica e transforma nos leva a crer que um futuro próspero para a maioria só será possível com mais cultura e informação. É com essa bandeira que estampamos e carimbamos o selo Griffe. Também não é porque falamos de moda que iremos seguir a moda das revistas. Ser comercial caiu da moda, misturou as coisas e ficou cafona’, afirma Reinaldo Reigrimar na introdução do livro.
Nada mau para uma revista alternativa que não está presa a qualquer conotação político-partidária e sem os pesados investimentos em marketing. Uma revista alternativa que funciona fundamentada em divulgar, impulsionar e incentivar novos talentos na região, tendo sempre como base o jornalismo crítico e literário. Dois gêneros cada vez mais raros, tanto em regiões interioranas quanto nas capitais.
A alternativa dos jornais alternativos é crescer aos poucos, timidamente, mas conquistando um mercado quase incontestável. Ao mesmo tempo, livre para praticar um jornalismo socialmente responsável. Palavras-chave do jornalismo alternativo: entusiasmo, compromisso, seriedade, ética. Sob todos os holofotes, alternativa dos grandes jornais é utilizar os célebres truques para impulsionar vendas. Há assuntos que sempre vendem. Palavras-chave da alternativa dos grandes jornais: sexo, sensacionalismo, violência.
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Jornalista e fotógrafo, Jundiaí, SP