Li no site “80 FHC” a mensagem enviada pela presidente Dilma Rousseff para Fernando Henrique Cardoso, parabenizando-o pelo seu aniversário, no dia 11 de junho, sábado, quando ele completou 80 anos. No texto, entre outras palavras elogiosas, Dilma disse que o ex-presidente é “(…) o acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”. Mais adiante, ela escreveu que FHC “(…) lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje”. Todo o conteúdo do comunicado pode ser lido na íntegra naquele endereço eletrônico.
A sintonia da presidente com FHC em nada modifica as suas convicções ideológicas, pelo contrário. Saber lidar com opiniões contrárias é uma demonstração de maturidade política e flexibilidade intelectual suficiente para reafirmar os fatos históricos sem atropelar seu rumo. A mensagem da presidente, em minha opinião, contém alguns simbolismos: sinaliza que a aproximação entre tendências opostas pode ocorrer, sim, desde que estejam em jogo os interesses do país e o compromisso com a verdade; desmascara o discurso do Partido dos Trabalhadores e a sua vã tentativa de desconstruir tudo o que foi feito pelos governos que o antecederam no poder; dá uma lição de moral na oposição, que sempre pareceu concordar que o PT se apropriasse de todo o seu legado – o Plano Real, os programas de transferência de renda (o Bolsa Escola, depois transformado em Bolsa Família), a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações, e tantos outros benefícios.
“A espiral do silêncio”
A não ser discursos pontuais, como o do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que teve a dignidade de se rotular como de direita e a coragem de denunciar a crise ora vivida por seu partido, causada, segundo ele, pela debandada de muitos parlamentares ligados à sigla “num ato que desonra a vocação que receberam das urnas”, raros políticos da oposição tiveram a grandeza de exaltar os feitos de FHC – como fez a presidente Dilma. Talvez, como diz o senador, porque “(…) a oposição se desorientou com o êxito popular do último governo e acabou se acovardando” (Veja, ed. 2220, 8/6/2011, p. 20). De fato, a oposição nunca desmentiu a teoria do caos criada pelo PT, segundo a qual se ela (a oposição) vencesse as eleições seria o fim, tampouco confrontou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e revelou ao país que ele não foi o único arquiteto da política que tirou o Brasil da desordem econômica em que vivia. Acovardada, deixou Lula negar tudo o que tinha sido feito anteriormente e colocar-se como autor de tais realizações.
A estranha apatia do PSDB/DEM/PPS remete a uma das teorias do jornalismo: “a espiral do silêncio”. Trata-se, de acordo com Felipe Pena (Teoria do Jornalismo, 2006, p. 155), de um conceito elaborado em 1972 pela alemã Elisabeth Noelle-Neuman, segundo o qual “… as pessoas tendem a esconder opiniões contrárias à ideologia majoritária, o que dificulta a mudança de hábitos e ajuda a manter o status quo. A opção pelo silêncio é causada pelo medo da solidão social…” Será esse o fenômeno que leva os partidos oposicionistas a não cotejar os discursos dos governos petistas porque o seu principal personagem tem ampla aceitação popular, como observa o senador Demóstenes Torres? Será por isso que essas agremiações preferem se calar com medo do isolamento? Se for, é melhor desistirem da disputar eleições, até porque a mídia tende a priorizar sempre as opiniões de quem está no poder (os definidores primários das notícias), consolidando-as e tornando ainda mais isolados os seus opositores.
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[Luiz Carlos Santos Lopes é jornalista, Salvador, BA]