Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Uma questão de ética

Lamentavelmente foi-se o tempo romântico em que os textos disponibilizados na internet eram reproduzidos única e exclusivamente com os devidos créditos a seus autores, com a finalidade de circular informações. É lógico que ainda há quem aja de forma ética e digna, sem dúvida há. Mas nem sempre é assim. Infelizmente, sou uma das muitas vítimas da pirataria de textos na rede. A arbitrariedade e a impunidade são espantosas. O mecanismo da cópia e reprodução indevida está instaurado sob a seguinte fórmula: control c + control v – crédito do autor original da obra = plágio.

Eu, que sou jornalista curitibana, também roteirista e escritora, autora de vários artigos publicados na internet, tive meu texto ‘Jornalismo: uma questão de ética’ roubado por brasileiros que moram em Boston, nos Estados Unidos. Mais precisamente, pela igreja evangélica ‘Ministério de Boston’ (World Revival Church – Boston Ministry), do pastor Ouriel de Jesus – que publicou indevidamente, no jornal Mensageiro Cristão, de dezembro de 2003, volto a frisar, o texto ‘Jornalismo: uma questão de ética’, que é originalmente de minha autoria. O mais surpreendente foi a ousadia com que os plagiadores agiram. Sorrateiramente, publicaram o artigo como editorial do referido jornal, com o nome estampado do diretor, editor e também plagiador ‘Roberto Vieira’ e, ainda de quebra, uma foto dele sorridente, ao lado do meu texto – publicado em 2001.

O texto plagiado está publicado, com minha assinatura, em vários sites na internet (um deles é www.mnemocine.com.br/aruanda/eticajornalistica.htm). O artigo foi uma das questões do vestibular da Universidade Estadual de Londrina.

Ação em Boston

No jargão jornalístico, artigo e editorial têm significados distintos e muito peculiares. Artigo, por exemplo, refere-se a posição ou opinião do autor do texto) sobre determinado assunto. Já o editorial é a posição do veículo de comunicação ou da empresa (no caso, a igreja) sobre determinado assunto. Podem ser veiculados em meio impresso (jornal, revista) ou eletrônico (rádio, TV ou internet). Portanto, um texto meu ou de quem quer que seja jamais poderá ser igual ao de Roberto Vieira ou de Ouriel de Jesus. Levando-se em consideração que os seres humanos são diferentes, não pensam e ou escrevem de forma igual, mesmo que o tema seja o mesmo, a obra intelectual terá no mínimo condução distinta. Cada pessoa tem estilo peculiar, que faz parte de sua identidade. Um texto é a visão particular de mundo do autor – que tem propósitos diferentes de outros.

A World Revival Church tem igrejas fundadas em grande parte dos estados americanos. Só para se ter uma idéia, em todo o Leste dos EUA, de New Hampshire à Florida, a igreja conta com sedes nas principais cidades e aproximadamente 17 mil seguidores. Atualmente em 20 países, têm sede nos seguintes: Canadá, Brasil, México, Inglaterra, França, Portugal, Rússia, Ucrânia, Belarus, Alemanha, Austrália, Japão.

Ao meu ver, tal atitude da igreja é um roubo em nome de Deus, já que em nenhum momento recebi qualquer e-mail ou telefonema pedindo a devida autorização para publicar meu artigo, nem tão pouco usá-lo como editorial do jornal e da igreja. Nem dei o direito a quem quer que seja de omitir o crédito de meu nome como autora.

O mais impressionante é que os plagiadores acrescentaram um parágrafo ao texto, afirmando que o que mais os alegra é saber que os jornalistas brasileiros que servem à comunidade brasileira no exterior não praticam o plágio! Ora, ora… meu artigo circulou por 20 nações, foi parar em mãos de milhares de brasileiros que vivem no exterior, sem crédito e sem minha autorização…

Disto meu advogado já está tratando em território brasileiro e americano. Já estamos contatando advogados americanos para ajuizar a ação em Boston.

Além do comércio

Só para se ter uma idéia, o texto que foi inescrupulosamente copiado por Roberto Vieira e Ouriel de Jesus,

A igreja não publicou meu texto na internet. Recebi a denúncia, por e-mail, de um brasileiro, cujo nome me reservo o direito de não revelar, para segurança dele. Alguns meses depois consegui o jornal, e ao comprovar o fato liguei para o Mensageiro Cristão, para falar com Roberto Vieira e com o pastor Ouriel de Jesus. Roberto Vieira classificou o ocorrido como ‘um meio erro’. Disse que esta prática é comum por lá, admite ter copiado 60% do texto original e afirmou que, na concepção dele, não foi caracterizado o plágio e, de mais a mais, não costuma ‘dar nome aos bois’. Como se isso já não bastasse, do pastor proprietário da igreja ouvi a seguinte frase: ‘Espero que Deus te abençoe’.

Se o pastor Ouriel de Jesus e Roberto Vieira, que se intitula ‘jornalista’, foram capazes de tal conduta inescrupulosa com uma jornalista brasileira, imagine-se o que não fazem com os integrantes da igreja…

Ética independe de religião, cor, crença, nacionalidade ou profissão. É uma questão de conduta, de valores morais, de respeito às outras pessoas. De princípios que vão muito além do comércio em nome de Deus.

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Jornalista, pós-graduada em Comunicação Audiovisual pela PUC-PR, autora do livro 37 anos de Documentário na Maior TV do Brasil – da linguagem cinematográfica à telejornalística, sobre os programas Globo Shell Especial e Globo Repórter, roteirista do filme Vidas conectadas