Já há alguns anos, o jornalismo brasileiro passou a adotar um modelo padrão influenciado pelo seu similar norte-americano, não só na forma, mas também no conteúdo. Instituiu-se um formato sisudo, com normas de postura, fala, aparência e escolha dos termos – e dos ternos também.
Mas, aos poucos, vamos nos libertando dessa sisudez em detrimento de um estilo mais populista, que é o visto nos programas policiais de horário de almoço. Ambos muito apelativos – forçadamente ‘clássicos’ ou falsamente ‘socializantes’. Os extremos de William Waack e José Luiz Datena os aproximam mais do que possa parecer.
Existem bons exemplos de jornalismo atualmente que se comprometem com a verdade e a imparcialidade. Vide o Jornal Nacional, da Rede Globo, e o Jornal da Cultura. Mas até eles se veem obrigados a fazer o jogo da grande mídia, que no âmbito sociopolítico tende a ser tucana.
Há também o ramo do entretenimento, em áreas como música, cinema, literatura e cadernos culturais. Aqui, tanto a imprensa falada quanto a escrita fazem sua parte, que é a de criar estereótipos e clichês de uma suposta ‘cultura popular’, absorvida pelo público-alvo como se fosse uma manifestação de origem e caráter realmente populares, sem perceber que se trata de um equívoco. Cadernos como ‘Folhateen’, redigido por Álvaro Pereira Júnior, e da revista Bizz, além dos jornais Zero Hora e Extra, representando a mídia regional, tentam atribuir a fenômenos popularescos um verniz cult, promovendo a distorção dos fatos.
É fácil eleger candidatos corruptos
Também se muda o significado das palavras. Gírias como ‘balada’, ‘galera’ e ‘véio’ foram fabricadas em laboratório e hoje brigam por um lugar no Aurélio, indo contra a corrente do esgotamento natural que toda gíria ou expressão enfrenta. ‘Balada’, outrora sinônimo de ‘música lenta’ e ‘história triste’, hoje virou ‘tum tum tum’, ‘curtição’, ‘diversão noturna’. ‘Galera’, uma embarcação antiga, viu-se travestida de ‘agrupamento de amigos e colegas de trabalho’. E por aí vai.
Quando se fala em dominação estrangeira, evitam-se termos negativos, como ‘imperialismo’. O negócio é falar em ‘globalização’, que a população vê com olhos de confiança. É como um comercial que, abusando da forma imperativa dos verbos, dá impressão de poder. ‘Compre isso’, ‘Adquira aquilo’, ‘Faça’, ‘Ganhe’. Ninguém vai dizer: ‘Este carro é ótimo’. ‘Você também pode ter um igual a este’ soa melhor para as regras da publicidade.
Assim, o poderio da máquina capitalista não é ameaçado. Com o povo enfraquecido, submisso a novelas, reality shows e a um jornalismo tendencioso, é bem mais fácil eleger candidatos corruptos de quatro em quatro anos e aparecer com dólares na cueca numa ilha do Caribe.
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Estudante, Praia Grande, SP