A Universidade de São Paulo é a instituição de ensino superior que mais publicou artigos científicos no período de 2003 a 2008 entre os países ibero-americanos, segundo ranking recém-divulgado.
A instituição paulista produziu 37.952 artigos no período, de acordo com o SCImago Institutions Rankings (SIR) 2010, produzido por um grupo de pesquisa sediado na universidade espanhola de Granada e que reúne pesquisadores de instituições na Espanha, Portugal, Argentina e Chile.
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) ocupa o terceiro lugar, com 14.913 artigos, depois da Universidade Nacional Autônoma do México, com 17.395, e à frente da Universidade de Barcelona (14.742).
Seleção exigente
Entre os dez primeiros da lista ainda figuram duas outras instituições de ensino superior brasileiras, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), em sexto lugar, com 12.270 artigos publicados, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em sétimo, com 12.133.
Completam a lista das dez mais a Universidade Complutense de Madri (em 5º, com 12.315 artigos), a Universidade Autônoma de Barcelona (8º, com 10.911), a Universidade de Valência (9º, com 10.107) e a Universidade Autônoma de Madri (em 10º, com 9.755).
‘Essa classificação é apenas uma maneira de apresentar os resultados, não quer dizer que uma universidade seja melhor do que a outra porque produziu mais papers’, ressaltou Borja González, diretor de comunicação do SCImago, à Agência Fapesp.
O ranking tem como base os registros da Scopus, produzida pela editora holandesa Elsevier e considerada uma das maiores bases de dados científicos do mundo, englobando mais de 20 mil periódicos especializados.
Foram contabilizadas apenas as produções científicas oriundas de instituições de ensino superior e que publicaram pelo menos um artigo durante o ano de 2008.
O Brasil apresentou o maior número de universidades avaliadas (109 do total de 607), seguido por Colômbia (89) e Espanha (85). Juntos, os três países englobam quase a metade das instituições no ranking, que incluiu 28 nações.
No caso da Colômbia, González explica que o país tem um grande número de pequenas instituições de ensino superior, o que explicaria a quantidade de entidades do país na lista.
‘Mas as universidades mais produtivas se concentram na Espanha e no Brasil. O primeiro tem 43 entre os 100 primeiros colocados do ranking e é seguido pelo Brasil com 27’, disse.
Ao se considerar apenas os países da América Latina e do Caribe, o Brasil tem mais três universidades entre as dez primeiras: as federais do Rio Grande do Sul (com 8.971 artigos), de Minas Gerais (8.107) e de São Paulo (com 7.148 artigos na Scopus no período analisado).
Para Vahan Agopyan, pró-reitor de Pós-Graduação da USP e membro do Conselho Superior da Fapesp, o primeiro lugar é resultado de um trabalho de longo prazo no sentido de priorizar a produção de conhecimento e defender a ideia de que a USP é uma universidade de pesquisa. ‘Temos um posicionamento bem claro no sentido de não apenas divulgar o conhecimento, mas também desenvolvê-lo’, disse à USP On-line.
Marco Antonio Zago, pró-reitor de Pesquisa da USP, atribui o destaque alcançado pela universidade a um sistema de fomento forte e competitivo que vem sendo aplicado no Estado de São Paulo desde a década de 1970.
A Pró-Reitoria de Pesquisa da USP, segundo Zago, está envolvida em estimular e dar apoio aos docentes que solicitem financiamento de agências, em especial da Fapesp.
‘Na Fapesp, os projetos são submetidos a um processo de revisão por pares bastante exigente e competitivo, uma garantia de qualidade. Estamos oferecendo um estímulo de R$ 10 mil a todos os docentes admitidos na USP desde o início de 2008, desde que submetam um pedido de auxílio à pesquisa à FAPESP’, disse Zago.
Desequilíbrio
Juntos, Brasil, Espanha, Portugal, México, Argentina e Chile respondem por cerca de 90% da produção científica ibero-americana de 2003 a 2008, de acordo com o SCImago Institutions Rankings.
Além da produção científica, o grupo de pesquisa espanhol também avaliou outros aspectos, como o grau de colaboração internacional de cada pesquisa. Para isso, os avaliadores contabilizaram quantos trabalhos foram assinados por autores de diferentes nacionalidades.
Nesse quesito, Espanha e Portugal ficaram com as melhores médias. Na análise apresentada com o ranking, os investigadores justificaram o quesito ao indicar que o grau de internacionalização contribui para melhorar a visibilidade e o impacto científico das instituições.
Segundo Agopyan, a USP tem incentivado relações de seus pesquisadores com outros países. ‘Temos promovido cada vez mais a internacionalização e tomado medidas mais pró-ativas junto aos programas, ajudando-os a apoiar a mobilidade de professores e alunos’, disse.
O SCImago também calculou a quantidade de citações que os trabalhos científicos tiveram nas bases da Scopus para formar o indicador de qualidade científica CCP. Trata-se de índice comparativo com a média mundial de citações. Um CCP de 1,2, por exemplo, significa que a instituição é citada 20% mais vezes que a média mundial; se o índice é de 0,6, os trabalhos receberam 40% menos citações que a média mundial.
Esse número varia de acordo com a área do conhecimento, pois, de acordo com o diretor do SCImago, as diferentes áreas não apresentam a mesma quantidade média de citações.
‘Em biomedicina, um artigo pode receber dez citações e outro de ciências sociais, apenas cinco. Porém, se a média mundial de citações em biomedicina for dez e a de ciências sociais for duas, esta última terá um CCP maior’, exemplificou González.
Nesse indicador, as universidades espanholas e portuguesas também saíram na frente. A média do CCP das universidades brasileiras com maior produção científica foi de 0,80.
‘As universidades brasileiras podem ter menos visibilidade internacional do que as espanholas ou portuguesas, mas é importante notar que a pesquisa científica no Brasil tem crescido de maneira extraordinária até nas pequenas universidades’, disse González.
Outro indicador avaliado, chamado ‘primeiro quarto’, retrata o porcentual dos trabalhos que foram publicados no grupo formado por 25% das publicações mais bem avaliadas pelo ranking.
González contou que as análises dos rankings anteriores apontaram que, quanto mais uma instituição publica nas melhores revistas, mais cresce também o seu número total de publicações.
‘Isso pode parecer trivial, mas não é. É esse número que auxilia os gestores das universidades na hora de decidir sobre os sistemas de incentivo e de recompensa aos pesquisadores, caso o aumento da visibilidade da instituição seja uma prioridade’, disse.
Grandes e pequenas
Esse sistema de aprimoramento contínuo da qualidade das pesquisas é uma das prioridades da USP, segundo Zago. ‘Essa excelente classificação se refere apenas ao número de publicações, o que de certa forma é influenciado pelo tamanho da USP. Estamos tomando medidas para manter essa produção elevada, mas também dedicando muita atenção à necessidade de melhorar nossa qualidade’, disse.
Mesmo estando atrás de Espanha e Portugal em alguns quesitos, o Brasil tem apresentado um crescimento em sua pesquisa científica acima da média mundial, segundo o diretor de comunicação do SCImago.
‘O Brasil é um caso fascinante na ciência mundial. O crescimento científico brasileiro é fantástico e está criando uma boa estrutura de pesquisa em todo o país. Isso é notório nas grandes e nas pequenas universidades, que também crescem mais rápido do que as pequenas de outros países’, disse González. Segundo ele, a tendência é que as diferenças entre grandes e pequenas instituições de pesquisa no país se tornem cada vez menores.
Mais informações e o ranking completo aqui.
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Repórter da Agência Fapesp