A abertura dos Jogos Pan-Americanos, no Rio, encheu-nos de alegria e orgulho. Menos as vaias endereçadas ao presidente da República. Por que os apupos? Lula, um aficionado dos esportes, suplementou não sei quantas vezes as verbas para que os Jogos se realizassem com o máximo de brilho.
Dizem que a história não se repete, a não ser como um simulacro. A verdade é relativa, principalmente quando no embate os agentes permanecem os mesmos. Em décadas passadas, travou-se aqui no Brasil, no campo político, intensa luta entre as forças de direita e as da esquerda. Elas continuam, hoje, embora com outros matizes.
Lembro-me de jornalistas impiedosos, como David Nasser, Carlos Lacerda, Gustavo Corção e outros. Sem vitórias nas urnas, as forças políticas de direita não tiveram pejo, na época, e começaram a urdir um golpe de Estado sob três pretextos: a imensa dívida externa, o perigo comunista e a corrupção desbragada. Passeatas de centenas de dondocas se amiudavam. Dado o golpe de 1964, verificou-se que a dívida do país, superior a pouco mais de dois bilhões de dólares, não era alarmante. Feito o levantamento, nada também se apurou de grave em matéria de corrupção. É verdade que o ‘perigo comunista’, com eleições livres, poderia estender-se pelo Brasil afora e, por conseguinte, abolir os privilégios das elites.
Hoje, passados quase 50 anos, a história tenta se repetir. A grande imprensa, formadora da opinião pública, costuma, no Brasil, acolitar as mentes conservadoras e retrógradas e se aproveita de fenômenos sociais, quaisquer que sejam, para ganhar mais força ainda. É o que está acontecendo com a ‘onda de corrupção’ que avassala a nação.
A história se repete
Assim como a grande imprensa nos idos de 1960, agora também a mesma mídia, mais fortalecida ainda com os modernos meios de comunicação, renova a sua ação de indignação contra esse ‘mar de lama’. O faz, porém, com muita habilidade. E sempre em favor de seus ideais. Essa mídia, sempre oligárquica, tinha e tem várias opções diante do combate desencadeado pelo governo federal, entre elas: a) apoiar e estimular a iniciativa governamental, ou b) propagar, apenas, que no atual governo a corrupção atingiu patamar nunca visto e, portanto, tornou-se insuportável, como se a corrupção não fosse endêmica e não tivesse existido sob outros governos.
Com inexpressivo e esporádico elogio à Polícia Federal, preferiu essa poderosa mídia a segunda opção. E mais: deixa passar aos brasileiros a idéia de que o maior culpado por toda essa corrupção, é o atual governo e, principalmente, o seu presidente.
As vaias do Rio/2007, portanto, no meu entendimento, são fundamentalmente produto do desprezo que a grande mídia tem para com as nossas instituições. O que ela quer é apenas audiência e lucro. Nada mais. A democracia e a sorte política do Brasil pouco lhe importam. Assim como em 1964.
A história está se repetindo, mas, graças à internet, podemos contar com o Observatório da Imprensa e começar a pensar diferente. Parabéns à TV Bandeirantes, cujo apresentador, condenou veementemente as vaias.
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Advogada, Cruz Alta, RS