Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Valmir Santos


‘Teatro é, por natureza, conflito. E no Brasil deste final de 2005, o embate se dá fora de cena: artistas apontam o descaso do Ministério da Cultura em relação ao setor.


Em sabatina na Folha, o ator Paulo Autran afirmou que ‘ninguém da classe teatral sabe o que ele [Gilberto Gil] fez’. Também em entrevista à Folha, seu colega, Marco Nanini, disse que Gil ‘nunca foi ao teatro, não gosta’. Em resposta, o ministro Gilberto Gil afirmou que não prioriza o ‘teatro dos consagrados’.


Gerald Thomas, que dirige Nanini em ‘Um Circo de Rins e Fígados’, também critica o ministro: ‘Gil está matando a cultura teatral no Brasil por ser um total analfabeto no que diz respeito à infra-estrutura dramática: não sabe distinguir um intérprete de um dramaturgo; não sabe distinguir um autor dramático de ator’.


A peleja também respinga em Belo Horizonte (MG), onde termina hoje a 2ª edição do Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral).


Aqui, a voz é do teatro feito por grupos e companhias. Não por acaso, o evento acontece no Galpão Cine Horto, centro cultural do grupo Galpão, 23 anos.


‘Os dois lados foram infelizes. Não é que o MinC não esteja fazendo nada. Não se faz nada no país há décadas, daí a demanda. E Gil também é um músico consagrado, o que também ajuda sua pasta’, diz o diretor Luiz Fernando Lobo, da companhia Ensaio Aberto (RJ).


Para a pesquisadora Iná Camargo Costa, o movimento Arte contra a Barbárie, de São Paulo, ‘já havia levantado essa lebre’.


‘Não fazemos um teatro cuja consagração é a chancela do mercado, mas um teatro que tenha função social.’ Nesse sentido, afirma a intelectual, ‘faltam esclarecimentos’ tanto a Gil quanto aos seus críticos.


O Arte contra a Barbárie surgiu em 1999 por iniciativa de grupos paulistanos. Sua principal conquista foi a Lei de Fomento, de 2002 (cerca de R$ 9 milhões por ano repartidos para grupos selecionados por comissão).


Em sua participação anteontem, no Redemoinho, o presidente da Funarte (órgão responsável pelas artes cênicas no MinC), Antônio Grassi, disse que a pasta busca ‘uma política de Estado que tenha como alvo o cidadão’.


Mas o ministério não abre a torneira. Dois prêmios de fomento à produção, anunciados com pompa por Gil no início de 2005, ainda não vingaram: o Myriam Muniz (para o teatro) e o Klauss Vianna (para a dança). Grassi promete edital para janeiro de 2006: R$ 13 milhões para as duas áreas.


Gil passou o ano reclamando de contingenciamento. O governo cortou 57% do orçamento do MinC, que era de R$ 480 milhões.


Crise da cultura


Durante três dias de Redemoinho, cerca de 70 grupos de 11 Estados debatem assuntos relativos à ‘permanente crise da cultura e a omissão dos governos federal, estaduais e municipais no apoio e manutenção dos espaços’.


Relator da Lei de Fomento, o diretor Luiz Carlos Moreira (grupo Engenho Teatral, SP) afirma que os artistas, em geral, não têm clareza sobre as políticas públicas. ‘A classe precisa construir um teatro significativo para a sociedade, agir como sujeito histórico e não ficar na briga medíocre pela sobrevivência’, afirma.


O jornalista Valmir Santos viajou a convite do Galpão Cine Horto’



COELHO NA PLANETA


Eduardo Simões


‘Paulo Coelho tem editora nova no Brasil ‘, copyright Folha de S. Paulo , 6/12/05


‘Dois anos depois de voltar à editora Rocco, depois de uma temporada de quase sete anos na Objetiva, o escritor Paulo Coelho trocou novamente de casa. Embora a Planeta não confirme a informação, a Folha apurou que o autor teve seu passe comprado pelo braço brasileiro do grupo espanhol, que já publica seus livros na Espanha e em alguns países da América Latina.


Abordado pela Folha em um evento na Biblioteca Nacional, no Rio, o editor Paulo Rocco disse que não foi surpreendido pela notícia, pois já sabia da negociação. Rocco afirmou que não faria sentido falar de gratidão ou ingratidão no caso, pois entre a editora e Paulo Coelho o que sempre houve foram relações profissionais. Nas suas relações pessoais com o autor, nada muda, disse Rocco.


Procurado pela reportagem em suas casas na França e no Rio, Paulo Coelho não foi encontrado. Segundo sua assessoria, ele está desde o fim de semana em Barcelona, onde fica a sede da Planeta, e só volta à França na quinta-feira. A Planeta não quis comentar o assunto -o valor do contrato, seu tempo de duração ou o cronograma de publicação de obras de Coelho na nova casa não foram divulgados.


As andanças de Coelho


Paulo Coelho nasceu em 1947, no Rio. Diretor e ator de teatro, compositor, com Raul Seixas, de sucessos como ‘Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás’, ‘Gita’ e ‘Al Capone’, Coelho editou por conta própria seu primeiro livro, ‘Arquivos do Inferno’, em 1982. Três anos depois participou do livro ‘O Manual Prático do Vampirismo’, que posteriormente mandou recolher, por considerar ‘de má qualidade’.


Em 1988, ‘O Alquimista’ foi reeditado pela Rocco, depois de ter saído pela Eco, que não renovou seu contrato porque havia tido um desempenho abaixo do esperado pela editora. Posteriormente, o livro chegou ao primeiro lugar da lista dos mais vendidos em 18 países e se tornou o livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.


Em 1996, Coelho saiu da Rocco e foi para a Objetiva, onde lançou quatro romances, num contrato estimado à época em US$ 1 milhão. De volta à Rocco em 2003, publicou ‘Onze Minutos’ e ‘O Zahir’, entre outros. O catálogo da editora tem atualmente 13 títulos do autor.


A obra de Paulo Coelho já foi traduzida para 56 idiomas, publicada em mais de 150 países, um total de 65 milhões de exemplares vendidos até dezembro de 2003. No dia 25 de julho de 2002, o escritor foi eleito para ocupar a cadeira de número 8, que pertenceu originalmente a Cláudio Manoel da Costa, na Academia Brasileira de Letras.


No Brasil, a Planeta tem ganhado espaço entre as editoras nacionais. Desde 2003 no mercado, a casa já levou para seus quadros autores como Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony e Fernando Morais, que prepara no momento uma biografia sobre Coelho. Comenta-se que Morais teria servido de ponte nas negociações para a troca de editora.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Corpo a corpo ‘, copyright Folha de S. Paulo , 7/12/05


‘Na locução de Fátima Bernardes, entre sorrisos, na Globo, início da noite:


– Os jogadores do tetracampeão Corinthians foram recebidos pelo presidente Lula. O argentino Carlitos Tevez entregou uma camisa do time ao presidente, um apaixonado torcedor corintiano. Os jogadores levaram o troféu de campeão, que Lula, sorrindo, fez questão de segurar na hora da foto.


A ‘photo-op’ de Lula e Tevez sorrindo foi manchete no ‘SBT Brasil’ e no ‘Jornal da Band’, mas não no ‘Jornal Nacional’ de William Bonner.


Também tomou os sites, da Folha Online ao Globo Online, com legendas como ‘corintiano Lula recebe os campeões’. Na Argentina, o ‘Clarín’ observou, sob o título ‘Lula festejou com Tevez título do Corinthians’:


– O presidente brasileiro pediu ao argentino que não repita, no ano que vem, no Mundial, o que fez no Brasileirão.


Lula faz campanha popular, José Serra não fica atrás.


O prefeito, além de dividir os intervalos com Geraldo Alckmin, amontoando comerciais municipais e estaduais, foi ontem ao Ratinho, no SBT.


Falou longamente, respondendo perguntas e reclamos das ruas, sobre a ‘indústria da multa’, o trânsito e as enchentes. Ratinho foi ao que interessa:


– O senhor é candidato a presidente da República?


– Olha, Ratinho, o pessoal faz pesquisas, bota meu nome, meu nome está na frente, eu fico contente. Porque fui deputado, senador, ministro do Planejamento, depois da Saúde e tudo mais, agora sou prefeito. Você gosta de ser reconhecido em todo o Brasil. Agora, seria precipitado dizer que eu sou candidato.


O animador Ratinho também perguntou do fim da reeleição, bandeira de Serra em sua estratégia eleitoral, como adiantou o blog de Josias de Souza.


Para registro, dias atrás no mesmo SBT, a animadora Hebe Camargo recebeu e entrevistou com elogios fartos a mulher do governador, Lu Alckmin.


Concentrados no momento na faixa popular, Lula, Serra, Alckmin e os demais também não saem mais do rádio.


O presidente, como noticiou a Folha Online, fala hoje ‘às três redes nacionais, CBN, Jovem Pan e Bandeirantes’. É a terceira entrevista para grupos de rádios em pouco menos de um mês.


Os dois tucanos, de sua parte, dividiam ontem a cobertura nas mesmas três redes, com um destaque curioso para o ‘irritado’ governador, na descrição dada pela Bandeirantes.


Ele saiu dizendo que ‘acredita na manutenção da promessa de Serra, de permanecer quatro anos no comando da cidade’.


Na Semana passada, foi na mesma rádio Bandeirantes que o senador petista Aloizio Mercadante confirmou a postulação ao governo de São Paulo.


Ontem, sua adversária Marta Suplicy deu entrevista a outras duas rádios, Jovem Pan e Eldorado. Sobre a disputa com o senador, declarou à Pan:


– Se houver uma prévia, vamos fazer com muita elegância. Nós temos que poder nos abraçar no mesmo palanque.


Vertido o sangue


O blog de Claudio Weber Abramo, da Transparência Brasil, questionava ontem:


– A estratégia de culpar o financiamento eleitoral pelos malfeitos detectados no escândalo mostra-se cada vez mais vitoriosa. O principal indício vem da imprensa, que, após a cassação de José Dirceu, passa a cobrir a sucessão presidencial.


Também ele, como tantos agora, aponta o dedo, ao tratar da crise política que ‘parece amainar’ depois de ‘vertido o sangue’ do líder petista:


– Colunistas, repórteres, blogueiros, ‘media watchers’ voltam a atenção para as idas e vindas de José Serra e Geraldo Alckmin, com passagens por Cesar Maia, Tasso, Aécio Neves.


Governo A, B ou C


Mas o próprio escândalo mal esconde os seus alvos eleitorais, nas novas rodadas. A notícia do dia nos telejornais, o relatório de ACM Neto na CPI dos Correios, foi divulgada com o pefelista destacando, da Folha Online aos canais de notícias, que ‘não dá para culpar governo A, B ou C’.


Mas o blog de Ricardo Noblat identificou de imediato o alvo A na ‘suspeita’ de ACM Neto sobre consultorias ligadas ao PT. Também o alvo B, num fundo de pensão do distante Rio, do ‘ex-governador Garotinho’. Até o alvo C, num fundo que perdeu muito no ‘governo de Fernando Henrique Cardoso’.


Não, nada de Bahia ou PFL.’



***


‘Aberta a temporada ‘, copyright Folha de S. Paulo , 6/12/05


‘Franklin Martins, em seu site na Globo.com e na CBN, sobre o apoio do pefelista Cesar Maia ao tucano José Serra:


– A permanência da crise já engatando com a campanha apressa toda articulação. Tende a abrir a temporada ostensiva de disputa no PSDB. E coincide que no fim de semana tanto Marta quanto Aloizio Mercadante se lançaram ao governo pelo PT.


Alguns blogs resistem, como Jorge Moreno e Ricardo Noblat, que postaram questionamentos à ‘intromissão indevida’ do que foi ‘apenas um gesto’ de Maia.


Mas desde que o blog de Josias de Souza postou o apoio, às 21h de sábado, a temporada se abriu -ao menos na blogosfera.


No noblog, com destaque na home do iG, Ricardo A. Setti já acresceu que ‘Nelson Jobim fez chegar a Serra o recado de que não será candidato pelo PMDB caso Serra seja o escolhido’.


Setti, que ajuda o livro de FHC, diz ter ‘condições de confirmar o fato como seguríssimo’.


O blog de Fernando Rodrigues avançou sobre o campo eleitoral lulista, com a avaliação dos dois marqueteiros já cotados para a vaga de Duda Mendonça.


João Santana, ‘ex-sócio de Duda’, leva vantagem por ser ‘próximo de Palocci’ e Delcídio Amaral, de quem fez campanha. Paulo de Tarso atuou em 1989 e 1994 e foi ‘um dos mentores do Lula-lá’ tão lembrado.


Enquanto não escolhe, ‘Lula pode intervir na disputa petista em SP’, na manchete da Folha Online para o blog de Josias de Souza, ontem. Lula pediu para o PT evitar prévias e não o ouviram. Venceu o desejo de Marta.


E o presidente ameaça agora ‘chamar os dois à negociação’.


UM BECO SEM SAÍDA


A uma semana da reunião em Hong Kong, a cobertura das negociações na Organização Mundial do Comércio tem ares de histeria. O ‘Wall Street Journal’ deu duas páginas para saudar a proposta brasileira de tarifas industriais, ouvindo ‘Mr. Amorim’ (bico-de-pena à dir.), e perfilar Kamal Nath, indiano que, aliado do chanceler brasileiro, seria o ‘pivô’ de uma saída nas negociações.


Como relatou a BBC, reportagens do americano ‘New York Times’ ao francês ‘Le Figaro’ eram pessimistas, ontem -com o primeiro prevendo ‘um beco sem saída de grandes contra pequenos’ e o segundo atacando ‘o matagal dos subsídios agrícolas’ nas conversas. Por aqui, o ‘Valor’ ecoou pessimismo destacando que ‘propostas da Europa tornam irrisório ganho para o Brasil’.


Desculpas


Mais caixa dois e a crise voltou à escalada do ‘Jornal Nacional’, ontem em sua quarta manchete, depois da ‘guerra de torcidas’ e até de Saddam Hussein:


– Alencar diz que presidente do PT lhe pediu desculpas.


Foi também quarta manchete na Record e sétima na Band.


Fundos FHC


A Folha Online fechou o dia com uma manchete em direção, pode-se dizer, contrária:


– CPI aponta irregularidade em fundos na gestão FHC.


Bingo!


A BBC Brasil foi ouvir Kenneth Maxwell em Washington, após palestra sobre ‘Lula e o futuro da democracia brasileira’, e o brazilianista citou ‘elementos de natureza conspiratória’ na crise que parou o país:


– É curioso olhar a história do Brasil e ver que, quando as reformas chegam a certo ponto, bingo!, acontece uma crise. É o que eu chamo de conspiração do sistema, não necessariamente de pessoas. E é um problema de continuidade, de uma história em que as reformas são muito difíceis de serem alcançadas.


OS SIMPSONS


Nos blogs, a caricatura de Bonner como Homer


‘Um grupo de professores da USP’ acompanhou um dia de ‘JN’ e relatou sua perplexidade, na revista e site ‘Carta Capital’, ao ver que ‘a escolha de assuntos é feita superficialmente’.


Aos professores, William Bonner descreveu ‘o perfil do telespectador médio’ como Homer Simpson, assim ‘apelidado na redação’. Do Blue Bus ao Blog do Marona, um ex-editor do ‘JN’, não se falou de outra coisa.’



ECOS DA GUERRA


Argemiro Ferreira


‘Novo escândalo expõe a ética jornalística de Bush’, copyright Tribuna da Imprensa, 6/12/05


‘Como é possível acreditar na ‘democracia iraquiana’ que o presidente Bush diz ter criado se o regime na verdade foi imposto pelas armas, após a invasão e ocupação do país? E que ‘liberdade de imprensa’ é aquela se os jornais publicam não a verdade de seus repórteres e sim o que o Pentágono paga secretamente a cada um para publicar, mera propaganda produzida pelas próprias tropas de ocupação?


Essas perguntas perturbam a Casa Branca desde quarta-feira, 30, quando o ‘Los Angeles Times’ devassou a usina de mentiras montada pelo Pentágono no Iraque. A criatividade jornalística dos militares americanos é compatível com a atual realidade jornalística dos EUA, onde o governo Bush recorre a artíficios como a ‘compra’ de jornalistas e ‘planta’ notícias numa mídia cada vez mais sem credibilidade.


Na própria quarta-feira o conteúdo da denúncia do ‘Times’ da Califórnia – assinada por um repórter em Washington, Mark Mazzetti, e outro em Bagdá, Borzou Daraghi – já estava confirmadíssima. O próprio Pentágono confessou a versatilidade de suas tropas na produção de notícias e reportagens, usando ainda – ao custo de US$ 100 milhões, por cinco anos – talentos terceirizados da firma privada Lincoln Group.


A próspera mídia do Iraque


Ainda na quarta-feira, a rede NBC de televisão aprofundou as informações contidas na reportagem do ‘Los Angeles Times’ – que tem sido acusado de ‘esquerdista’ pelos veículos do império Murdoch de mídia (Fox News, ‘New York Post’, etc.). E o general Peter Pace, atual chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, prometeu ampla investigação do novo escândalo.


Mas a melhor sessão de humor daquele dia foi a indignada reação do general Rick Lynch, entrevistado no Iraque pela NBC. Em primeiro lugar, ele considerou o programa de falsificação de informações pelo Pentágono ‘necessário para contrabalançar as mentiras disseminadas pelos terroristas’. E argumentou: ‘Nós não mentimos. Nós não precisamos mentir’.


Em matéria de jornalismo, claro, o general não entendeu o espírito da coisa. Por sua vez, a repórter Andrea Mitchell, que apresentou a reportagem na televisão, disse ter a NBC apurado que também a CIA paga jornalistas iraquianos para escrever matérias favoráveis aos EUA. Daí a conclusão óbvia de que o Iraque nunca teve mídia tão próspera, com dinheiro chegando de fontes tão diversificadas.


O exemplo vem de casa


Outras informações também foram apuradas pela NBC, segundo Mitchell (que é mulher de Alan Greenspan, ainda presidente do FED, banco central americano). O Pentágono é o proprietário oculto de um jornal e pelo menos uma emissora de rádio – o que tem a vantagem de neutralizar qualquer oposição de árabes chatos que tentem resistir à disseminação de informações favoráveis às tropas de ocupação.


Supõe-se que o Pentágono pague bem aos árabes que emprega, o que ajudaria a prosperidade da mídia iraquiana – mas isso a NBC não explicou. Em compensação, o professor de jornalismo Mark Feldstein, da Universidade George Washington, deu sua opinião: ‘Não é a maneira certa de ensinar democracia e liberdade de imprensa. Isso subverte a própria liberdade de imprensa que os EUA dizem estar promovendo’.


Talvez mais próspera que a mídia do Iraque é a Lincoln Group, que emprega apenas bushistas fanáticos. A NBC tentou inutilmente ouvir a palavra de dois deles. Ambos disseram que nada podiam falar porque o contrato da firma com o Pentágono, secretíssimo, envolve graves questões de segurança nacional dos EUA, devido à ‘guerra global ao terrorismo’.


O que o Pentágono faz no Iraque não difere muito do que o governo Bush fez no período eleitoral nos EUA. Distribuía entre emissoras locais de TV gravações de vídeo (VNR, Video News Release) nas quais um ator contratado, fingindo ser repórter, exaltava Bush e os feitos do governo. As emissoras punham a baboseira no ar como se fosse matéria jornalística, sem se dar ao trabalho de revelar a origem espúria.


A tropa de choque bushista


Essa compra de jornais e jornalistas no Iraque pelo Pentágono confirma a tendência geral do governo Bush em relação à mídia. Esta coluna relatou recentemente os casos de alguns jornalistas comprados. Entre eles, Armstrong Williams, que era um freqüente comentarista na TV sobre educação. Até ser descoberto que o governo Bush pagava a ele US$ 240 mil para defender seus programas habitacionais.


A jornalista Maggie Gallagher (do ‘New York Post’ de Murdoch) era exaltada defensora do programa casamenteiro de Bush. Soube-se então que era remunerada às escondidas pelo contribuinte. O terceiro pilhado em flagrante foi Mike McManus, que assinava uma coluna sindicalizada sobre ‘Ética e religião’. Devidamente ‘encorajado’ por verbas oficiais, também defendia a santidade do casamento.


O caso mais notável, capaz de definir a ética de Bush em relação à mídia, é o de ‘Jeff Gannon’, generosamente contemplado com uma credencial da Casa Branca. Um belo dia escancarou-se a audácia do bofe. Seu nome real era James Guckert e sua profissão de verdade, prostituto. Tinha até site pornográfico na internet. Mas a Casa Branca gostara tanto dele que o escalou para a honra de fazer uma pergunta idiota a Bush numa coletiva.’