Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

AMAZONAS
Victor Martino e Leonardo Coutinho

Imprensa selvagem

‘O ex-governador Amazonino Mendes, do Amazonas, é um homem de múltiplos talentos. Foi pequeno empreiteiro, funcionário público e advogado, até ingressar, aos 44 anos, na carreira política. Agora, com 66, Amazonino dá curso a uma nova vocação: o jornalismo. Em meados de 2005, passou a integrar o conselho editorial do Correio Amazonense, um fenômeno da imprensa tropical que completou um ano na semana passada. No diário, Amazonino exibe sua verve literária, pauta reportagens que desancam seus inimigos e outras que impulsionam sua campanha para voltar ao governo do estado. O jornalista Amazonino garante que é só um funcionário do Correio Amazonense e que conquistou o emprego graças à amizade com o dono da publicação, Carlos Guedes. O Ministério Público Federal do Amazonas apura outra versão. Por ela, o ex-governador, candidato a mais um mandato, agora pelo PFL, seria o verdadeiro dono da editora, e Guedes, seu laranja. Além disso, Amazonino teria desviado dinheiro dos cofres do estado de 1996 a 2002 para montar o jornal.

A investigação começou depois que o empresário Orley Fonseca entregou um dossiê aos procuradores, relatando como Amazonino teria se tornado um baronete da imprensa. Fonseca conta que, no fim de 1996, ano em que fundou a Editora Novo Tempo (ENT), foi procurado por Waldery Areosa. Ele queria comprar sua empresa, com a justificativa de que precisava de uma gráfica sem pendências judiciais, para disputar licitações da Secretaria Estadual da Educação. O negócio foi fechado por 100.000 reais. Areosa disse que tinha um ‘sócio secreto’ que o ajudaria a ganhar as concorrências estatais e que Fonseca continuaria dirigindo a empresa. Quatro dias depois, Areosa assinou um contrato de 12 milhões de reais com o governo de Amazonino, para imprimir 1,2 milhão de apostilas. O extraordinário é que a gráfica só tinha capacidade para realizar 1% do serviço. Para que Areosa pudesse investir e cumprir o contrato, o governo pagou a encomenda adiantado.

A ENT cresceu de forma impressionante com a ajuda do ‘sócio secreto’ (veja o quadro). Três anos depois, Areosa vendeu-a por 1,5 milhão de reais a Carlos Guedes. Fonseca afirma que o preço não correspondia ao valor real da empresa, que, graças aos contratos com o governo estadual, já alcançava 29 milhões de reais. Em 2004, depois da saída de Amazonino, portanto, a Secretaria de Educação do Amazonas encerrou os contratos com a ENT. No ano passado, a empresa lançou o Correio Amazonense. Fonseca disse aos procuradores que Areosa e Guedes não passam de testas-de-ferro e que o dono do negócio é Amazonino. O ex-governador nega que a editora seja sua e que ela tenha sido beneficiada durante sua gestão: ‘Não me lembro de ter cometido nenhum ato desabonador durante minha administração’. Eles nunca se lembram – ou jamais souberam.

O florescimento da veia jornalística de Amazonino surpreendeu a todos. Até então, o ex-governador mantinha uma relação conflituosa com a imprensa. Em 1997, sugeriu numa entrevista ao repórter André Muggiati, correspondente da Folha de S.Paulo em Manaus na época, que o papa João Paulo II era homossexual. O então secretário estadual de Comunicação, Ronaldo Tiradentes, exigiu que Muggiati lhe desse a gravação da entrevista. O repórter recusou. Sua casa sofreu uma tentativa de arrombamento, e Muggiati deixou Manaus. No mesmo ano, o jornalista José Ribamar Bessa Freire, que criticava Amazonino, foi esmurrado numa padaria em Niterói. Duas semanas depois, recebeu, pelo correio, uma carta de Manaus com fotos da agressão e um bilhete: ‘Esta é a lição número 1. Aguarde a número 2’. Bessa atribui a agressão a Tiradentes e Amazonino. Com o tempo, o ex-governador foi refinando seus métodos. Pancada, atualmente, só por escrito. No Correio Amazonino. Opa, Amazonense.’



FOTOGRAFIA
Veja

Vendem-se fotos

‘No auge da idolatria das celebridades, uma foto da fofíssima Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, nascida no dia 27 de maio, vazou internet afora na semana passada, causando um alvoroço internacional. O ensaio completo da esperadíssima primeira filha não adotiva do casal Angelina Jolie e Brad Pitt, feito (com autorização deles) pela agência Getty Images na Namíbia, fora vendido com exclusividade para as revistas Hello! (para publicação na Europa) e People (nos Estados Unidos), por valor estimado em 4,1 milhões de dólares e publicação prevista em dois ou três dias. Não se sabe como, o que seria a imagem da capa da Hello! foi publicada em dois blogs e, de lá, divulgada para o mundo todo, com a agilidade característica da internet. Horas depois, a agência e as publicações (que provavelmente, depois disso, venderam mais ainda) entraram na Justiça e a imagem praticamente sumiu da web. ‘A Hello! está tomando medidas legais para impedir os sites e qualquer outra pessoa de republicar as fotos’, anunciou a editora Juliet Herd. Mas admite, suspirando: ‘É muito difícil controlar a web’.

Impulsionado pela curiosidade insaciável do público e pela brutal competição entre sites, programas de TV, revistas e jornais dedicados ao assunto, o comércio de imagens de recém-nascidos e cerimônias íntimas tem caminhado a passos largos em direção à estratosfera. Em 1996, fotógrafos alemães alugaram uma casa por 5.000 dólares por dia, clicaram as primeiras fotos de Madonna e da então bebê Lourdes e venderam as imagens por 150.000 dólares. Quase dez anos depois, o primeiro ensaio de Sean Preston, filho da cantora Britney Spears e do bailarino Kevin Federline (casal que já havia vendido seu noivado e casamento), alcançou a cifra de 500.000 dólares. Um pouco acima na milionária escala da fama ficou o casal David Beckham e Victoria Adams: as fotos de seu casamento, em 1999, renderam a eles 2 milhões de dólares (e a revista pagadora foi furada por um jornal). Um ano e meio depois, a revista inglesa OK! repetiu o valor no cheque pelas imagens exclusivas do casamento dos atores Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones e sentiu, espinho por espinho, o que sua principal concorrente deve estar sentindo agora: o vasto esquema de segurança que protegeu a divulgação foi quebrado por um convidado que fotografou e vendeu a imagem para a Hello!. As duas revistas estão desde então engalfinhadas em um processo na Justiça britânica. Os pais da pequena Shiloh ainda conseguiram o que, numa situação dessas (papai e mamãe faturando à custa do rebento), parece impossível: posar de bonzinhos. Angelina e Brad doaram a fortuna paga pelas imagens a instituições de ajuda à infância carente, mesmo caminho tomado pela atriz Julia Roberts, que doou os 100.000 a 150.000 dólares recebidos pelo retrato dos gêmeos Hazel e Phinnaeus para uma ONG ligada ao meio ambiente.

Nesse círculo em que se movimentam publicações querendo comprar e famosos querendo vender seu sossego – leia-se: evitar acampamentos de fotógrafos na porta de suas festas e principalmente na janela de seus quartos. -, no ano passado a segunda edição mais vendida da People, a mãe de todas as fotos exclusivas a peso de ouro, foi a que trazia na capa Angelina Jolie e a filha adotiva Zahara. A terceira era ilustrada por Julia Roberts e seus gêmeos. ‘Se você vende 300.000 ou 400.000 revistas a mais a 3,50 dólares cada uma, ganha aí 1 milhão de dólares’, calculou um editor para a revista New York. ‘Além disso, ter as fotos é bom para mostrar para os leitores que a sua é a revista que está sempre na frente na busca desse tipo de imagem’, diz ele.

Há quem, na inevitável hora da primeira foto, procure ajudar os amigos. Quando nasceu Apple, sua primeira filha com o roqueiro Chris Martin, a atriz Gwyneth Paltrow chamou o amigo fotógrafo Steve Sands para fazer o ‘flagrante’ da saída do hospital. Sands vendeu as imagens por 125.000 dólares para, isso mesmo, a People. ‘É até hoje minha foto mais cara’, comemora ele. O casal Sarah Jessica Parker e Matthew Broderick adotou uma estratégia raríssima hoje em dia: em 2002, informou aos fotógrafos hora e porta por onde sairiam do hospital com o recém-nascido James Wilke. Na hora combinada, o trio apareceu e posou por quase cinco minutos, sem cobrar tostão. Convenhamos: não teve graça nenhuma.’



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O Estado de S. Paulo – 1

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