MÍDIA & PROPAGANDA
Pela publicidade livre
‘Trinta anos depois do último encontro do gênero, foi realizado em São Paulo o IV Congresso Brasileiro de Publicidade. Durante três dias, 1 500 profissionais do setor reuniram-se para discutir temas relacionados à atividade. O debate mais candente girou em torno dos 250 projetos, em tramitação na Câmara e no Senado, que pretendem limitar campanhas de certos produtos, como alimentos com alto teor de gordura e bebida, na TV, no rádio e na imprensa escrita. O congresso aprovou uma carta de repúdio a tais iniciativas, a ser entregue a deputados e senadores. Um de seus trechos diz o seguinte: ‘A publicidade não causa obesidade, alcoolismo ou acidentes de trânsito. É ela que viabiliza, do ponto de vista financeiro, a liberdade de imprensa e a difusão de cultura e entretenimento para toda a população’. Além disso, os publicitários apoiaram a criação da Frente Parlamentar da Comunicação Social, destinada a combater a sanha regulatória que deseja pôr obstáculos à circulação de informações no âmbito da propaganda.
Os freios externos à publicidade originam-se numa visão que tanta ruína já causou, segundo a qual o estado deve proteger o indivíduo dele próprio. Trata-se de verdade parcial. É salutar que a Constituição estabeleça ser da alçada das leis federais impor eventuais restrições à propaganda de tabaco, álcool, agrotóxicos, medicamentos e terapias. Mas coisa bem diferente é proibir, sem mais nem menos, a publicidade de tais produtos – e encarar como propaganda até mesmo o que é pura informação. Nesse caso, configura-se, inclusive, a censura à imprensa, um dos pilares da democracia. Os publicitários brasileiros já deram um exemplo de que têm juízo e não necessitam de férreos controles externos. No III Congresso, criaram o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária, que há trinta anos coíbe abusos e responde às demandas dos cidadãos, que, se podem escolher o presidente da República, também são capazes de fazer as escolhas certas no supermercado, sem que ninguém os dirija. Como resumiu Roberto Civita, presidente da Editora Abril e editor de VEJA, em seu discurso no IV Congresso: ‘Numa sociedade que ainda guarda na memória os tempos negros da ditadura e da censura, o futuro depende de que o exercício dessas liberdades por todos nós, como jornalistas, publicitários, homens de comunicação, leitores, eleitores e cidadãos, seja dosado pelo bom senso, pelo autocontrole e, principalmente, pela responsabilidade’.’
CASO DANIEL DANTAS
Eu sou a Britney Spears!
‘Um relatório da PF me acusou de ser colaborador de Daniel Dantas. Quando li meu nome nas páginas policiais, pensei, tremulante e sem ar:
– Amy Winehouse! Eu sou a Amy Winehouse!
Imagens assustadoras passaram por minha mente. Eu, embriagado e algemado, na porta de uma delegacia. Eu, num bar, aos tapas e pontapés. Eu, de sutiã, vagando pelas ruas da cidade.
Depois pensei, ainda mais angustiado:
– Britney Spears! Eu sou a Britney Spears!
Me vi de cabeça raspada. Me vi fotografado, sem cuecas, descendo de um carro. Me vi perdendo a guarda de meus filhos.
A idéia de que sou um colaborador de Daniel Dantas é uma patetice. Basta ler os grampos da PF. Sabe o que há contra mim? Daniel Dantas e seus funcionários comentaram uma de minhas colunas e mandaram traduzir um documento que disponibilizei a todos os leitores na internet. Meu crime é ser lido.
O relatório da PF sobre a imprensa, apesar de seu caráter grotesco, merece ser analisado por outro motivo: ele mostra claramente quem foi o inspirador do inquérito, e qual era seu objetivo. De um jeito ou de outro, todos os jornalistas citados pisaram no pé de Luiz Gushiken e seu bando. Eu pisei. Um bocado. No comecinho de 2007, Luiz Gushiken até mandou a PF me investigar. Pisei no pé também de seus blogueiros de aluguel. E no do atual diretor da Abin, Paulo Lacerda. E no de seu antecessor no cargo, Mauro Marcelo. E no de Luiz Roberto Demarco, denunciando a montanha de dinheiro que ele ganhou como lobista da Telecom Italia. Aliás, desconfio que o próprio Demarco tenha ajudado a fabricar o relatório sobre a imprensa. É um acerto de contas com alguns de seus maiores desafetos, tanto profissionais quanto pessoais, como Guilherme Barros, da Folha de S.Paulo, cuja única culpa foi ter se casado com sua ex-mulher.
Por tudo isso, digo que o inquérito contra Daniel Dantas e Naji Nahas só pode ser interpretado da maneira mais elementar: foi a última cartada de Luiz Gushiken e seus palermas para tentar impedir a compra da Brasil Telecom pela Oi. Há recados para todos os que participaram do negócio, até mesmo para Lula, por meio dos grampos em Gilberto Carvalho. A compra da Brasil Telecom pela Oi é realmente escandalosa. Espero que Luiz Gushiken consiga afundá-la. Se dependesse apenas da PF, porém, os quadrilheiros sairiam impunes. Ainda bem que há juízes e procuradores para controlar todos os abusos. Eles podem separar direitinho o que é crime e o que não é.
Todo mundo aqui sabe que eu gosto de contar vantagem. É o que vou fazer agora. Quatro meses atrás, concluí um podcast para Veja.com da seguinte maneira:
‘O plano da ala trotskista do PT, de Luiz Gushiken, era reestatizar a telefonia com dinheiro dos fundos de pensão e do BNDES. Como sempre acontece com os trotskistas, eles bobearam e acabaram com um picador de gelo enterrado no cocuruto. A Oi está abocanhando a Brasil Telecom, mas seu comando será entregue aos grandes financiadores de Lula e de seus filhos, em sociedade com Daniel Dantas. A ala trotskista do PT ainda pode tentar melar o jogo usando aquilo que lhe resta: um pedacinho da PF, outro pedacinho da Abin, outro pedacinho do Ministério Público. Para quem está do lado de fora, é uma farra acompanhar a guerra entre os companheiros petistas. O Brasil está completamente rendido. Agora só o PT pode destruir o PT’.
Já posso tirar o sutiã?’
TELEVISÃO
A Humilhada
‘Maria do Céu, a pobretona destrambelhada vivida por Deborah Secco na novela A Favorita, confirma: há algo de sadomasoquista na relação entre a atriz e os autores de folhetim da Rede Globo. Nas últimas três tramas das 8 de que participou em papel de destaque, Deborah interpretou personagens que só apanham da vida. E ela retribui a gentileza com atuações que realçam os trancos a que é submetida. A Darlene de Celebridade (2004), de Gilberto Braga, já dava mostras disso com sua busca inglória pelos holofotes. Glória Perez acrescentou algumas voltas à coroa de espinhos de Deborah com a personagem Sol, de América (2005). Sol foi presa por se esconder no compartimento secreto de um carro quando tentava entrar nos Estados Unidos ilegalmente (toda espremida, ela lutava para respirar pelo buraco do porta-luvas) e sofreu horrores num emprego de estátua viva. Mas sua personagem em A Favorita pode superar tudo o que ela já amargou nas novelas. A pé-rapado do interior paulista, que sonha com a riqueza e o glamour da cidade grande, já sofreu diversas humilhações – numa cena emblemática, exibida há três semanas, tomou uma surra de duas mendigas ao disputar com elas um posto de pedinte nas ruas de São Paulo. Céu é Sol ao quadrado.
Chama atenção que uma atriz como Deborah Secco tenha essa sina. Linda e simpática, ela ostenta o perfil da mocinha clássica. Poderia ser uma daquelas heroínas românticas que penam sem perder a altivez. Mas, por motivos insondáveis, que só um daqueles psicanalistas que exploram o inconsciente coletivo poderia desvendar, autores, diretores de novela e até mesmo o público gostam de vê-la na lama – uma gata borralheira sem garantias de redenção. No capítulo de A Favorita de sexta retrasada, João Emanuel Carneiro esmerou-se no sadismo. Bêbada, Céu foi expulsa de um vernissage. Em seguida, foi escorraçada de um restaurante por não pagar a conta – havia torrado com a compra de um vestido os 3.000 reais que sua paixão não-correspondida, Cassiano (Thiago Rodrigues), lhe conseguira para pagar o casebre que seu pai comprou para a família. Dormiu então na sarjeta e voltou para casa a pé (sim, ela andou de São Paulo até a fictícia Triunfo a pé). Ao chegar, faminta, atacou uma marmita de macarrão gelado, mas foi impedida de comer pelo pai, que rasgou seu vestido e a pôs na rua aos gritos de ‘vagabunda’. Esse tom exagerado, segundo Carneiro, não vem só dele. ‘É uma opção da direção da novela’, diz. E também tem a ver, é claro, com a própria Deborah, sempre pronta a oferecer a outra face (despida de maquiagem, para ressaltar o miserê) aos golpes reservados à sua personagem. Em breve, Céu vai virar namorada de fachada do gay enrustido Orlandinho (Iran Malfitano). ‘Ela vai deixar de sofrer como uma retirante de Vidas Secas (alusão ao romance de Graciliano Ramos) para entrar numa roubada ainda maior’, diz Carneiro.’
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Bagunça no quarto
‘O carioca Marcelo Adnet é o novo expoente do humor na televisão. No programa 15 Minutos, da MTV Brasil, ele interpreta a si próprio – um jovem de camiseta, short e chinelos que joga conversa fora num cenário que reproduz um quarto bagunçado. A propósito de e-mails dos espectadores, Adnet desfia bobagens sobre assuntos que vão do futebol às rusgas diplomáticas entre Venezuela e Colômbia. Ele divide a cena com um coadjuvante mascarado, o enigmático Kiabbo. O ponto alto do programa é o momento em que se apresenta um misto de imitação de gente famosa com sátira musical. Numa delas, Adnet simulou o que seria da infame Dança do Créu se interpretada pelo ator José Wilker. Também fez uma versão de Sweet Child O’Mine, do grupo Guns n’Roses, cantada não com a entonação de Axl Rose, e sim com a do apresentador Silvio Santos. Com essa receita, o 15 Minutos tornou-se a atração de maior sucesso da MTV e também um fenômeno na internet, já que as palhaçadas de Adnet viraram hits no YouTube. ‘É comum que uma gíria ou um gesto que eu apresento no programa sejam imitados pela garotada no dia seguinte’, diz ele.
A ascensão de Adnet acrescenta um nome à lista de humoristas revelados pela MTV – que inclui gente como Cazé, Marcos Mion e o grupo Hermes e Renato. A novidade é que ele já nasceu sendo um fenômeno não apenas da TV, mas também da internet. O formato do 15 Minutos foi pensado para funcionar tanto na TV quanto na rede. A duração curta (a mesma do título) facilita a vida de quem quer assistir ao programa no computador. E o cenário não deixa de fazer referência ao lugar preferido dos jovens para vasculhar a internet – o próprio quarto. Desde a estréia do programa, em maio, a MTV recebe cerca de 6.000 e-mails de fãs por mês, vinte vezes mais que a média de suas outras atrações.
Aos 26 anos, Adnet não é um novato. Está em cartaz com um espetáculo teatral no Rio de Janeiro há cinco anos, fez sete longas-metragens e participações breves em novelas e seriados da Globo. Mas o programa 15 Minutos deu novo impulso à sua carreira. Antes dele, o humor calcado em imitações fez a fama de Marcos Mion na MTV. Assim como ocorreu no passado com ele e Cazé, Adnet foi assediado por outras emissoras – a RedeTV! e a Globo. ‘Já tentei trazê-lo para o Zorra Total. Não deu certo, mas ainda o pego’, diz Maurício Shermann, diretor do humorístico dessa última. Adnet, contudo, parece escaldado pelos fracassos dos antecessores – que quebraram a cara ao mudar de emissora e hoje não saem da MTV. O humor que ele pratica agrada aos jovens, mas não reverbera para além desse nicho. ‘Aqui, tenho uma liberdade que não teria em nenhuma emissora da TV aberta’, afirma Adnet. ‘E meu rendimento não seria o mesmo sem essa autonomia.’’
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