Após suportar um debate insípido e infrutífero, no qual prevaleceram incríveis respostas ininteligíveis e primários erros gramaticais, onde apenas se constatou que a falta de carisma e objetividade é inerente a todos os candidatos, eu não merecia ter visto a entrevista do vice José Alencar no Programa do Jô.
Mas, inicialmente, refiro-me aos presidenciáveis que foram sabatinados na última quinta-feira (5/8). Se for para analisá-los individualmente, embora reconhecendo a inteligência dos postulantes, eu me arriscaria à seguinte ótica:
José Serra é o protótipo do burocrata, segue à risca a cartilha de seus pronunciamentos com frases comedidas e repetitivas;
Dilma Rousseff é o exemplo da má aluna, sequer aprendeu a ser marqueteira e ainda assim não transmite autenticidade;
Plínio Salgado, pela sua caminhada e pelos seus 80 anos, merece nosso respeito, mas não pode escapar da crítica pela insistência de querer ser cômico, sem sê-lo;
E, finalmente, Marina Silva, em que pese seu inegável talento, ainda é muito verde – inevitável, o trocadilho – para um embate dessa envergadura.
Um prenúncio pouco alvissareiro aos demais confrontos. Mas o povo parecia ter ouvido o que queria. E se congratulou.
A ânsia da bajulação
Sempre admirei o vice-presidente pelo homem sério que ele parece ser, pela postura com que tem se conduzido no cargo e pela intrepidez com que vem enfrentando seu problema de saúde. Todavia, ao assistir à sua entrevista no Programa do Jô, senti o impacto de uma profunda decepção ao ouvi-lo responder sobre o exame de DNA para comprovar o reconhecimento de uma suposta filha: ‘Ora, Jô, ela se parece com as diversas mulheres com que devo ter me relacionado naquelas casas de diversões. Já pensou se todo homem que frequentou a zona fosse obrigado a esse exame?’ E a plateia ainda riu e aplaudiu! Parecia um bando de hienas…
Tudo está ao contrário. A dignidade, o caráter e a decência se omitem diante do poder. O povo se torna cúmplice na ânsia da bajulação. No debate, ignorou o que não entendeu; e na entrevista, aplaudiu o que não ignorou. E em ambos se subestimou.
O vive-versa da moralidade pública.
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Bacharel em Direito e ex-vereador, João Pessoa, PB