Com a atenção mundial focada na morte de correspondentes internacionais no Iraque, é fácil esquecer que em outros países são os jornalistas locais que correm maior risco, como informa Duncan Campbell [The Guardian, 12/6/06]. Repórteres do Haiti, da Colômbia e das Filipinas enfrentam ameaças e sofrem violência diariamente, por parte de políticos e empresários que são temas de reportagens investigativas.
No Haiti, o repórter Guy Delva, da Reuters, conta que as ameaças vêm de todas as partes do espectro político. ‘Os assassinos de jornalistas têm 100% de impunidade. É normal prender e agredir jornalistas’, diz. No ano passado, três profissionais de imprensa foram assassinados no país e Delva é um dos que lutam para levar os assassinos à justiça. O assassinato de Jean Dominique, da Rádio Haiti, ocorrido há seis anos, permanece impune. Em dezembro do ano passado, o jornalista Watson Désir foi seqüestrado por uma gangue em Porto Príncipe. Coube a Delva não apenas cobrir o seqüestro, como também negociar a liberdade do amigo. Devido à violência, muitos jornalistas trocaram o Haiti pelos EUA, Canadá ou França. Delva é um dos poucos que insistem em ficar.
Profissão sem futuro
Muitos jovens haitianos que pensam em se tornar jornalistas são desestimulados pelos pais. ‘Os pais dizem que é uma má-profissão, que você vai ser morto, vai ser ameaçado’, afirma Delva.
Para tentar melhorar o status da profissão, Delva e outros jornalistas fundaram a SOS Jornalistas, com o objetivo de fazer uma campanha para maior proteção e maior liberdade a profissionais de imprensa. A organização já conseguiu fazer com que um juiz libertasse um jornalista que o havia criticado. ‘Não estamos pedindo apenas liberdade para jornalistas; temos que criar condições para que todos vivam sem medo’, conclui.