Uma manifestação de populares toma as ruas de Nova York nos anos 1970. A polícia está em greve e os habitantes vandalizam as ruas em crítica à atuação de aventureiros fantasiados e vigilantes mascarados. O enxame de pessoas é controlado pelo sádico Comediante, que é assistido por um espantado Coruja, e este questiona o violento colega: ‘O que aconteceu com o sonho americano?’ e ouve a sarcástica resposta: ‘Se tornou realidade, você está olhando para ele.’
No livro Mínimo Eu (1984), o historiador americano Christopher Lasch expõe como um dos males do modernismo o narcisismo, e este nada mais é do que fruto da insegurança. A cena acima é uma passagem do filme Watchmen (2009), baseado na graphic novel de Alan Moore de 1986, na qual as pessoas perderam a crença nos seus protetores e essa relação se dá pela cumplicidade de insegurança e narcisismo. A obra pode ser debatida com estudantes e recém-formados de jornalismo que sonham em ser um futuro Clark Kent cercado de glamour e aventuras.
Glamour e fama
Essa fantasia muitas vezes se dá pelo tratamento dispensado por alguns professores ao afirmarem para seus pupilos que veem para eles carreiras brilhantes em grandes órgãos da imprensa. Esse comportamento trata o ser humano como mercadoria – afinal, um pupilo bem posicionado pode ser usado como publicidade pelo seu ‘mestre’.
O filósofo alemão Wolfgang Fritz Haug trata da mercantilização dos seres humanos em Crítica da Estética da Mercadoria (1971) e o mesmo é visto nas faculdades que alimentam devaneios de jovens narcisistas e inseguros – características presentes também nos ‘mestres’. E quanto ao sonho de glamour e fama dos jovens jornalistas desempregados, o Comediante apenas responde: ‘Se tornou realidade, você está olhando para ele.’
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Jornalista e mestrando em Comunicação